Título: Desenvolvimento nas mãos de Pimentel
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 28/11/2010, Política, p. 4

Candidato derrotado ao Senado, o economista terá de lidar com os problemas da valorização do real nas exportações Tiago Pariz

O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel será ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O convite foi feito pela presidente eleita Dilma Rousseff na última quinta-feira. Com isso, concluem-se as indicações das pastas da área econômica. Já foram anunciados os ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Planejamento, Miriam Belchior, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que precisa ser confirmado pelo Senado.

A principal tarefa será ajudar a formular a política industrial do governo Dilma num cenário de dificuldades no setor exportador por conta da valorização do real frente ao dólar e ao euro. Pimentel assume uma pasta provavelmente sem a responsabilidade de pensar em projetos de estímulo às micro e pequenas empresas. A presidente eleita deverá criar um ministério específico para cuidar dessa área.

Político afinado com o deputado Antonio Palocci (PT-SP), o futuro chefe da Casa Civil no governo Dilma, Pimentel não terá a prerrogativa de indicar o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), órgão que está no guarda-chuva da pasta. Luciano Coutinho, atual chefe da instituição de fomento, foi convidado pela presidente a permanecer no cargo.

O Ministério do Desenvolvimento formula políticas industriais e usa o BNDES como seu braço executor. Foi da pasta que surgiu a ideia de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em carros novos para manter a demanda aquecida no setor durante a crise financeira internacional.

Pimentel terá de encontrar o perfil que deseja imprimir para a pasta. O atual ministro Miguel Jorge tinha atuação mais voltada para o mercado interno e políticas de inovação. Enquanto o antecessor Luiz Fernando Furlan era apelidado de caixeiro viajante pelo presidente Lula pelo esforço que fez para abrir mercados internacionais aos produtos brasileiros. Uma das funções do Ministério é atuar em conjunto com o Itamaraty.

Amigo pessoal da presidente eleita, Pimentel saiu derrotado da eleição por uma cadeira ao Senado. Ele conheceu Dilma durante o movimento estudantil e na militância contra a ditadura militar. Ficou preso por três anos e meio. Na campanha presidencial, atuou como colaborador informal.

Opção por técnico

Diante da disputa entre PR, PMDB e PT pelo comando do Ministério dos Transportes, a presidente eleita Dilma Rousseff pode acabar definindo a manutenção do atual ministro Paulo Sérgio Passos, servidor de carreira da pasta. A única decisão até agora é que Alfredo Nascimento, candidato derrotado ao governo do Amazonas, não voltará à cadeira que ocupou durante parte do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Os interlocutores da presidente eleita mandaram mensageiros questionar o PR sobre se aceitam a manutenção de Passos. Há resistência dentro do partido, que chegou a indicar o deputado Milton Monti (PR-SP), mas o nome acabou vetado. Para enxugar a influência política e reforçar o perfil técnico do Ministério dos Transportes, Dilma poderá contemplar a legenda de Valdemar Costa Neto com outro posto a ser definido.

O PT quer voltar a ter assento na área de infraestrutura, para poder influenciar no destino de verbas do Programa de Aceleração do Crescimento, o Transportes, porém, está descartado. O PMDB, que deverá perder Comunicações e Saúde, pressiona por uma cadeira com caneta forte, uma possibilidade é levar o Ministério das Cidades, o que atenderia ao apetite peemedebista, mas ainda não há definição. A pasta de Cidades comandada pelo PP também faz parte do pleito dos petistas que chegaram a dar como certo que iriam comandá-la. O ministro seria o tesoureiro da campanha José Filippi Júnior.

Está praticamente definido que o PSB ficará com o Ministério da Integração Nacional. O nome deverá ser de Fernando Bezerra Coelho, indicação do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Nesse desenho, os socialistas perdem o controle da Ciência e Tecnologia que deverá ficar com o senador Aloizio Mercadante (PT).