Título: Brasília espera que Obama termine embargo a Cuba
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2012, Internacional, p. A17

Uma solução para o chamado "abismo fiscal" e o fim do embargo econômico contra Cuba estão entre as principais expectativas no governo brasileiro para o segundo mandato de Barack Obama como presidente dos EUA. O governo brasileiro torce para que Obama consiga, de um Congresso dividido, um acordo capaz de impedir o abismo fiscal - cortes automáticos de despesas e fim de isenções fiscais que podem empurrar para baixo a cambaleante economia americana. Sobre Cuba, pelo menos um ministro importante no Brasil anda prevendo que Obama pode aproveitar seu último mandato para reforçar as tendências reformistas no governo cubano, apontando um fim para o embargo econômico contra a ilha.

"Temos uma estratégia econômica mais claramente definida com o governo democrata", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, à imprensa, ao defender que a reeleição de Obama será boa para o Brasil e para o G-20, o grupo das principais economias mundiais.

Sem repetir as acusações de "guerra cambial" com que tem criticado a política de expansão monetária adotada por Obama contra a crise econômica, Mantega, ontem, preferiu elogiar a condução da política econômica do democrata, e criticar o Partido Republicano por impedir a aprovação de medidas sugeridas pelo presidente no primeiro mandato. "Ele tem apoio popular e autoridade para ir adiante com seus programas de governo", disse.

O tom amistoso do ministro da Fazenda confirma a argumentação da diplomacia brasileira, de que é crescente a convergência no setor externo entre os governos brasileiro e americano. No G-20, os EUA, sob Obama, são próximos ao Brasil no esforço para reformar os mecanismos de direção do Fundo Monetário Internacional (que reduzirá o poder de europeus e aumentará o de emergentes como o Brasil). A defesa de um ajuste gradual, com uso da política fiscal para evitar maior recessão, também une Brasil e EUA. E ambos defendem que os países em melhor condição na Europa zelem pelos que estão em dificuldades.

Apesar de estarem em campos opostos quando se trata da chamada "guerra cambial", apelido lançado por Mantega para as políticas que levam à depreciação de moedas como o dólar, os americanos reagiram moderadamente aos controles brasileiros sobre a entrada de moeda no país, lembra uma autoridade da equipe econômica.

Na América Latina, Obama rejeitou o tom de confronto com a Venezuela cobrado pelos republicanos, e os dois governos mantêm uma "trégua", na avaliação de um diplomata graduado. os americanos veem com boa vontade o ministro de Relações Exteriores Nicolás Maduro, agora vice-presidente e substituto eventual do presidente Hugo Chávez. Maduro é considerado um político de "discurso sereno", na definição passada pelos americanos aos brasileiros.

Os brasileiros esperam manter a relação alcançada no primeiro mandato, em que o governo Obama tratou o Brasil "com respeito", como interlocutor de confiança na região. Há uma cordial troca de informações entre EUA e Brasil sobre o Paraguai, onde o presidente Fernando Lugo foi deposto pelo Congresso no que os países da região classificaram como golpe parlamentar. Em relação à Colômbia, segundo um auxiliar próximo do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, há "regozijo mútuo" pela atuação do presidente Juan Manuel Santos em sua tentativa de um acordo para acabar com a guerrilha no país.

O próprio Patriota mantém consultas frequentes com a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, com quem fez questão de se encontrar semanas antes da eleição, para falar do futuro entre os dois países. No encontro, Patriota ouviu, satisfeito, Clinton declarar à imprensa que o Brasil poderia ter um papel importante nas negociações para pôr fim à violência na Síria.

As diferenças em relação à política americana para o Oriente Médio não impediram nem sequer que a política em relação ao Irã tenha saído da lista de atritos entre brasileiros e americanos. Apesar das declarações de Obama, durante a campanha, de que "todas as opções" estariam sobre a mesa, autoridades americanas deixaram claro aos brasileiros que não endossariam algum ataque contra os iranianos, como ameaça Israel, com o argumento de evitar que o Irã desenvolva uma bomba atômica.

A relação entre os dois governos leva os auxiliares da presidente Dilma Rousseff a acreditar que não terão sobressaltos com o novo mandato de Obama e, talvez, que se cumpra parte das expectativas criadas pelo democrata ao se eleger pela primeira vez. Uma das mais fortes entre essas expectativas é o fim do embargo a Cuba - Dilma voltará a citar o tema na próxima reunião da União das Nações da América do Sul, em Lima, Peru, no próximo dia 30. Os brasileiros dizem que o governo de Raúl Castro, em Cuba, tem feito esforços para reformar o regime, sem receber o devido reconhecimento dos EUA. Mas admitem que também os cubanos terão de fazer gestos de aproximação, como, por exemplo, libertar o consultor americano Allan Gross, preso em Cuba acusado de espionagem.