Título: AmBev entra na disputa pela Cintra
Autor: D'Ambrosio, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2007, Brasil, p. A7

Um peso-pesado entrou na disputa pela cervejaria carioca Cintra - empresa que está à venda há dois anos, mas que entrou na mira de grandes companhias nos últimos meses. Agora quem está negociando o ativo, muito perto de fechar a compra é a AmBev.

Num primeiro momento, a operação não envolve a marca. Até porque a AmBev é líder de mercado e poderia enfrentar problemas com o Cade. Por isso, a aquisição está centrada nas duas fábricas da Cintra, em Piraí, no Rio de Janeiro, e Mogi-Mirim, interior de São Paulo. Mas o desenho final da compra não está fechado.

Caso a venda para a AmBev fique, de fato, restrita às fábricas, a Cintra venderia a marca separadamente. Entre os interessados estão a portuguesa Sagres e a brasileira Schincariol.

O ativo é avaliado em cerca de US$ 150 milhões, incluindo os passivos tributários. Apenas a marca valeria aproximadamente US$ 10 milhões.

Segundo fontes próximas às negociações, não se sabe de que forma a AmBev, líder do mercado de cervejas, deverá estruturar a compra. "Eles podem usar outro veículo, como uma empresa ligada ao grupo lá fora ou um fundo", afirma uma fonte. A AmBev afirma que não comenta especulações de mercado.

A venda da cervejaria Cintra pelo seu proprietário José de Souza Cintra transformou-se numa verdadeira novela no último mês. O negócio foi praticamente fechado com a Petrópolis, das marcas Itaipava e Crystal.

Mas o dono da Cintra recuou e Walter Faria, dono da Petrópolis, foi à Justiça. Há cerca de vinte dias, também entraram na disputa a Sagres e a brasileira Schincariol - que entrou firme nas negociações. A AmBev tomou a dianteira do negócio na semana passada e, agora, é a principal candidata.

A negociação está sendo conduzida diretamente por Souza Cintra. Nem mesmo o primeiro escalão da Cintra conhece os detalhes da operação - ao contrário do que aconteceu no primeiro negócio, com a Petrópolis.

"Ninguém mais consegue prever que direção o dono da empresa irá tomar", avalia fonte próxima. "Esse acaba sendo seu trunfo para negociar."

Mas porque a AmBev, líder de mercado com mais de 68% de participação levaria uma cervejaria relativamente pequena como a Cintra? Por uma questão defensiva - para impedir o avanço da Schincariol ou Petrópolis no mercado do Rio - e por ser um dos únicos ativos que ela ainda teria chance de entrar.

Pelo tamanho e participação de mercado das duas outras cervejarias brasileiras, a Schincariol e Petrópolis - que não estão à venda oficialmente, mas são alvos de análises de multinacionais - não poderiam ser adquiridas pela AmBev.

Além da cerveja, a Cintra tem uma linha de refrigerantes. Segundo dados Nielsen de fevereiro, a Cintra tem uma participação nacional de apenas 1,12%. Subiu um pouco em relação a janeiro (1,08%), mas caiu em relação a fevereiro do ano passado - quando tinha 1,26%. Na Grande Rio, porém, sua participação é de 5,9% e na área que abrange Espírito Santo, interior do Rio e Minas Gerais sua fatia é de 2,1%. Já no mercado paulista sua participação é muito pequena: 0,14% na Grande São Paulo e 0,71% no interior.