Título: Importações recordes
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2010, Economia, p. 16

Desvalorização do dólar faz com que compra de produtos no exterior atinja US$ 17,3 bilhões em novembro, ou US$ 868 milhões por dia. A onda já causa desemprego e afeta fábricas

O dólar barato em relação ao real e a morosidade do governo em adotar medidas para aumentar a competitividade da indústria brasileira estão escancarando as portas do país a todo o tipo de produto. No mês passado, as importações bateram recorde e somaram US$ 17,376 bilhões, com desembarques diários médios de mais de US$ 868 milhões. Entre janeiro e novembro, as compras externas ultrapassam US$ 166 bilhões. A invasão de produtos importados resultou no menor saldo da balança comercial (diferença entre as compras e as vendas externas) desde janeiro ¿ apenas US$ 312 milhões ¿, mas este não é o único motivo de preocupação no mercado doméstico.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vem alertando diariamente para o perigo de sucateamento do parque produtivo brasileiro, uma vez que fica cada vez mais barato importar produtos prontos no lugar de manter fábricas funcionando. O temor é de que a substituição dos produtos nacionais leve a demissões, com efeitos devastadores no setor. E o perigo é real. Em setembro, o emprego industrial interrompeu uma trajetória de oito meses consecutivos de alta, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A justificativa para a paralisação nas contratações foi a concorrência provocada pelos importados.

Para o diretor de Planejamento da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Roberto Dantas, o salto nas importações foi maior do que o esperado. Ele atribui o avanço à continuidade das compras de bens de capital (maquinário) e insumos, movimento decorrente do aumento de investimento e produção. Os números do governo, no entanto, mostram que entre os principais itens trazidos de outros países aparecem equipamentos elétricos e eletrônicos, cujas compras aumentaram 1,2% entre outubro e novembro e 25,5% na comparação com novembro de 2009. Também estão relacionados automóveis (alta de 5,5% no mês) e até leite e seus derivados, com um expressivo crescimento de 66% somente no mês passado.

Desafio No conjunto de produtos classificados por finalidade, a compra de bens de consumo avançou 41,1% no mês passado, enquanto a de matérias-primas e intermediários subiu 40,8%. Nessa comparação, os bens de capital registraram alta de 39,8% e os combustíveis, 70,6%. O cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas Fernando Abrucio afirmou ontem, em um seminário promovido em São Paulo, que um dos maiores desafios da presidente eleita, Dilma Rousseff, será lidar com o cenário externo, menos favorável atualmente e nos próximos anos do que foi durante todo o período da gestão de Lula.

Todavia, apesar da explosão de importações, o Brasil pode voltar aos níveis pré-crise (2008) de exportações. O Mdic elevou de US$ 195 bilhões para US$ 198 bilhões a previsão de embarques de produtos para outros países neste ano. ¿As exportações surpreenderam. Como falta um mês (para encerrar o ano), a gente tem a expectativa de aumentar nesse patamar¿, afirmou Dantas. As exportações somaram US$ 17,688 bilhões em novembro e US$ 180 bilhões no acumulado do ano. Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os dados publicados pelo ministério mostram que a possibilidade de ter deficit comercial este ano deixou de ser improvável.