Título: Com 2ª maior reserva mundial, Irã deve racionar combustível
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Fonte: Valor Econômico, 27/03/2007, Internacional, p. A11

Os iranianos celebraram há duas semanas o início de seu ano novo, mas, junto com os fogos de artifício, 1386 pode trazer um aumento nas contas de combustíveis. Após dois anos de agitação, o governo finalmente parece pronto para introduzir o racionamento e um aumento de preço, para reduzir os subsídios que custam bilhões de dólares por ano.

Racionar combustíveis num país que tem a segunda maior reserva mundial de petróleo pode parecer estranho. O grande problema do Irã é a falta de refinarias: o país consegue suprir só 60% de sua crescente demanda com o refino local. E importa o resto a preço de mercado, de cerca de US$ 0,45 o litro, cinco vezes o que o motorista paga na bomba de gasolina.

Vários contratos foram assinados recentemente como parte de investimentos de US$ 15 bilhões para elevar a capacidade de refino, mas essa gasolina só estará disponível daqui a vários anos. Até lá, a escassez representa uma vulnerabilidade num momento infeliz: logo quando os países do Ocidente estão procurando maneiras de pressionar o Irã quanto a seu programa nuclear. E há rumores de um futuro embargo nas exportações de gasolina para o país.

Os subsídios estão custando muito ao país, num momento em que a economia se tornou o ponto principal explorado pela oposição ao presidente Mahmud Ahmadinejad. Uma onda populista de investimentos deu gás à inflação e desequilibrou o orçamento. A gasolina barata também encorajou um desperdício enorme, assim como o contrabando para os países vizinhos, onde ela custa mais. As autoridades sugerem que o aumento do preço pode ajudar a reduzir o consumo em cerca de 20%.

O medo, porém, é de mais aumento na inflação, caso os preços sejam elevados - como os economistas dizem que deveriam ser - para no mínimo o custo da produção doméstica, algo em torno de US$ 0,20 por litro.

Há também um problema político. Os iranianos sempre viram a gasolina barata como uma prova de que o governo estaria redistribuindo a riqueza do petróleo para a população, uma das maiores promessas eleitorais de Ahmadinejad. Aumentar os preços faz sentido economicamente, mas é a última coisa que um governo populista gostaria de fazer.

Por isso, já faz dois anos que o governo e o Parlamento vêm estudando como cortar subsídios sem contrariar os eleitores. Subsídios localizados e dinheiro para os motoristas pobres são opções consideradas. Mas o foco agora parece estar nos cartões de racionamento, que limitariam o uso da gasolina subsidiada a uns poucos litros por semana; o que ultrapassar a cota seria comprado pelo consumidor aos preços de importação.

Os preços subsidiados teriam ainda um aumento de alguns centavos, mas os economistas dizem que esse aumento seria muito pequeno para fazer diferença. O Parlamento já jogou para o governo o problema de como implementar esses planos, com um limite até o fim de maio para a introdução do racionamento e a promessa de importar não mais do que US$ 2,5 bilhões em gasolina em 2008.

O problema, como sempre, é ver se o governo terá estômago para adotar uma política tão impopular. Antigamente, as receitas extras da venda do petróleo permitiram ao governo pagar (e subsidiar) para sair dessa enrascada política. Mas, com o Parlamento em meio a uma disputa econômica com Ahmadinejad, parece que desta vez os esbanjadores motoristas iranianos terão mesmo de pagar a conta.