Título: Banco avança no CDC de veículo
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2007, Finanças, p. C1

Com a forte demanda do crédito ao consumo, aumenta ainda mais a disputa pelo mercado de financiamento de veículos, responsável por 35% da carteira para pessoas físicas dos grandes bancos. Com isso, essas instituições começam a estruturar cada vez mais essas áreas e tomam espaço dos bancos de montadoras.

A carteira dos quatro maiores do setor, Bradesco, Itaú, ABN e BV Financeira apresentou evolução de 35% no ano passado, com montante total, incluindo leasing, de R$ 55 bilhões. No mesmo período, as instituições ligadas a montadoras, cresceram em torno de 20%, com volume próximo de R$ 15 bilhões.

Além disso, a perspectiva para este ano é mais otimista entre os grandes. Enquanto os bancos GMAC e Mercedes Benz querem crescer cerca de 10%, Itaú e BV Financeira esperam avançar 40% no ano. Já o Banco do Brasil, que entrou neste mercado no ano passado, quer fechar 2007 com R$ 2,4 bilhões em carteira, bem acima dos R$ 18 milhões do começo de 2005.

"Os grandes bancos ampliaram a atuação nesse segmento e perdemos um pouco de participação, mas começamos a ganhar de volta no segundo semestre do ano passado", afirma o diretor do GMAC, ligado a General Motors do Brasil, Gunnar Murillo. O motivo da disputa é a forte expansão desse segmento.

Segundo dados do Banco Central, o saldo da carteira de veículos do sistema financeiro atingiu R$ 65,3 bilhões em fevereiro, 22,8% superior ao volume de 12 meses atrás. Já os novos negócios nos dois primeiros meses do ano atingiu R$ 9,3 bilhões, 22% superior aos R$ 7,6 do mesmo período do ano passado.

A expectativa de crescimento dos recursos que devem ser liberados neste ano é 25%, podendo chegar a R$ 65 bilhões, superior ao valor recorde de 2006 (R$ 52,1 bilhões). A estimativa é da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). Nos últimos três anos os recursos destinados atingiram R$ 127 bilhões, um aumento de 112% na carteira de financiamentos, enquanto o mercado como um todo cresceu 75%.

A oferta de produtos diferenciados e taxas mais baixas são as estratégias para retomar o mercado, segundo o executivo do GMAC, Murillo. Mas a proximidade com o concessionário é justamente a grande vantagem desses bancos. O GMAC, por exemplo, é responsável pelo financiamento de quase 30% dos veículos que saem da fábrica da GM.

Segundo ele, todo o ciclo financeiro da concessionária passa pelo banco da montadora. "Oferecemos linhas de crédito especiais para o concessionário retirar o carro da fábrica, com a quitação do débito ocorrendo na venda do veículo", explica o executivo do banco.

Esse mercado têm atraído ainda mais os grandes. O líder, Itaú, por exemplo, ampliou a carteira de R$ 2,6 bilhões, em 2002, para R$ 18 bilhões no final do ano passado, incluindo leasing. Além da própria expansão, o banco adquiriu o Banco Fiat, que responde por 56% dos total de financiamentos de veículos novos que saem da fábrica.

Já Banco ABN AMRO Real atua por meio da financeira Aymoré, também adquirida para ampliar a participação neste setor. A superintendente executiva do banco, Dora Amaral, explica que a estratégia são os acordos com alguns bancos de montadoras.

Último dos grandes a entrar nesse segmento, A Caixa Econômica Federal espera deter 9% de participação de mercado até 2015, estima o superintendente de crédito para pessoas físicas do banco, Laércio de Sousa. "Ainda estamos acertando o processo de cobrança e só devemos entrar no começo do segundo semestre". A carteira está em R$ 10 milhões, mas a expectativa é multiplicar por dez até o fim do ano.

Segundo Sousa, os acordos entre os bancos de montadoras e as fábricas muitas vezes ajudam as duas partes. "Esses bancos têm vantagens para ajudar as vendas. Eles reduzem as taxas de juros, mas ampliam as cotas de entrada. Com isso, os bancos ganham mercado e as fábricas elevam as vendas de veículos", avalia. De fato, as taxa de juros dos bancos de montadoras são as mais baixas, segundo o Banco Central para aquisição de veículos por pessoas físicas (ver reportagem abaixo).

Hoje, 68% dos carros novos são financiados, com forte avanço do leasing, que responde por mais de 18% do total. Em média, o valor de um financiamento está em R$ 15 mil. Nos dois primeiros meses do ano, o número de carros licenciados atingiu 300 mil, 15% acima do mesmo período de 2006, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Um mercado que tem avançado acima da média é o de carros usados. A BV Financeira, do grupo Votorantim, com forte atuação em semi-novos, ampliou a carteira de R$ 7,1 bilhões para R$ 9,5 bilhões no ano passado, avanço de 34%. "Hoje temos 15,5% de participação de mercado e esperamos atingir 16,5% no final do ano", estima o vice-presidente do banco, Milton Roberto Pereira.

Já a financeira Cifra, do Banco Schahin, que atua somente no segmento de usados para a baixa renda, elevou os ganhos da carteira de R$ 5,6 milhões, em fevereiro do ano passado, para R$ 15 milhões em fevereiro deste ano.

A instituição atua com parcerias com quase 2500 despachantes, oferecendo até empréstimos para pagamento de multas e impostos dos carros. "Nesse segmento, a inadimplência é baixa e os spread são interessantes", avalia o executivo comercial do banco, Artur Hime Araújo. Segundo dados do BC, a inadimplência está em 3,3% para vencimentos acima de 90 dias.