Título: Bancos ampliam margem com um novo aumento no 'spread' do crédito
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2007, Finanças, p. C2

O "spread" médio das operações de crédito do sistema financeiro subiu pelo segundo mês seguido, de 27,4 para 27,6 pontos percentuais (pp). A margem bruta dos bancos aumentou porque eles retiveram metade dos ganhos proporcionados pelos cortes na taxa básica de juros. Graças ao afrouxamento na política monetária, os custos médios de captação dos bancos caíram 0,4 pp, de 12,5% para 12,1% ao ano. Só a metade desse ganho, foi repassada para os clientes que tomam empréstimos. Os juros médios cobrados de empresas e pessoas físicas caiu apenas 0,2 pp no período, de 39,9% para 39,7%. A diferença, de 0,2 pp, foi incorporada pelas instituições, que voltaram a engordar os "spreads". Em dois meses, os "spreads" bancários subiram 0,4 pp.

Na avaliação do BC, que divulgou os dados ontem, os bancos estão repassando para os clientes os ganhos obtidos com os cortes na taxa básica de juros. A alta do "spread", na realidade, não passaria de um efeito estatístico. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, chama a atenção para o fato de que os "spreads" cresceram apenas nas operações contratadas com empresas. Nos empréstimos a pessoas jurídicas, subiram de 13,6 para 13,8 pp em fevereiro, enquanto caíram de 40 para 39,6 pp para as pessoas físicas. As taxas de juros caíram para os dois segmentos de mercado. Para empresas, caiu de 26,2% para 26% ao ano e, para as pessoas físicas, recuou de 52,3% para 51,7%.

"Os 'spreads' estão aumentando para as pessoas jurídicas porque os bancos estão emprestando para uma clientela diferente", diz Lopes. "Antes, os bancos emprestavam mais para as grandes empresas; agora, estão emprestando para pequenas e médias." As grandes empresas, disse Lopes, estão fazendo captações diretamente no mercado de capitais. Os "spreads" cobrados das grandes empresas normalmente são mais baixos, lembra, porque os riscos de inadimplência são menores, assim como os custos administrativos, já que as operações têm volume maior.

Lopes argumenta ainda que, embora tenha havido alta nos "spreads" nos dois últimos meses, a análise de períodos mais longos de tempo mostra que os bancos estão, sim, repassando os ganhos da queda da Selic para a clientela. De setembro de 2005, quando começou o ciclo de corte dos juros, até fevereiro passado, a taxa básica caiu 6,75 pp (em março, houve novo corte, de 0,25 pp). No mesmo período, as taxas ao tomador final de crédito caíram 8,4 pp. A conclusão, diz Lopes, é que os bancos não só repassaram os ganhos aos tomadores finais de crédito, mas também cortaram os "spreads" médios em 1,4 pp no período.

Para Lopes, quedas adicionais nos "spreads" serão possíveis quando estiverem a pleno vapor medidas recentes que afetam o custo de crédito. É o caso das medidas editadas pelo governo para ampliar a competição no sistema financeiro, como a portabilidade dos financiamentos e o cadastro positivo dos tomadores de crédito.