Título: Haddad busca parceria com Alckmin
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2012, Política, p. A7

O recém-eleito prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), fez um aceno à oposição ao prometer que vai se empenhar na construção de parcerias com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e ao anunciar a incorporação de uma proposta de José Serra (PSDB) a seu programa de governo.

Em entrevista coletiva ontem, Haddad fez elogios à "relação republicana" que teve com Alckmin quando era ministro da Educação e disse que "não vai faltar diálogo" com o governo estadual, comandado pelo tucano. Hoje, o petista se reunirá como governador e com o prefeito da capital, Gilberto Kassab (PSD) - que apoiou a candidatura de Serra. "Vou sinalizar meu apreço e respeito. Vou dar continuidade e aprofundar tudo o que está em curso", disse Haddad. "Tenho muita expectativa em relação às parcerias com o governador", afirmou. "Não vou renunciar nenhum centavo que seja de direito de São Paulo. Vou explorar todas as possibilidades, todos os recursos disponíveis."

O petista disse que vai adotar a proposta feita por Serra durante a campanha de construção de creches perto de estações do metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), em terrenos a serem doados pelo governo estadual. Segundo Haddad, será um exemplo da parceria entre os governos federal, estadual e municipal, que pretende intensificar em sua gestão. "O governo estadual dará os terrenos, o federal financiará a construção e o municipal vai cuidar da manutenção das creches", disse, em entrevista à imprensa em um hotel na região da avenida Paulista, em São Paulo.

Ontem Haddad reuniu-se com a presidente Dilma Rousseff em Brasília. Segundo o petista, foi uma visita de cortesia, de cerca de meia hora, e a revisão da dívida do município foi um dos temas abordados. Haddad não detalhou o que deve ser alterado no contrato com a União, mas disse que se reunirá na próxima semana com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A equipe da campanha de Haddad e o governo federal montarão um grupo para acompanhar a transição em São Paulo. "Dilma quer reforçar as parcerias com o governo federal", disse.

O petista disse que sua equipe vai analisar todos os programas dos governos estadual e federal que podem ser implementados na cidade e disse que não vai recusá-los. "Vai mudar a postura do governo municipal. O prefeito vai ter sintonia com as diretrizes nacionais", afirmou, em crítica indireta à atual gestão. "A reconciliação de São Paulo com o Brasil vai garantir que a periferia se reconcilie com o centro", disse.

Na reunião que terá com o prefeito Kassab, Haddad tratará da transição do governo e da aproximação entre PT e PSD. Ontem o petista disse que o PSD não deve fazer uma oposição sistemática à sua gestão na Câmara Municipal. "O PSD pode até não estar na base, mas não vejo a possibilidade de a bancada do PSD fazer uma oposição sistemática."

O PSD fez a terceira maior bancada da Câmara, com sete dos 55 vereadores. Kassab negocia com o chamado "centrão" para manter-se influente no Legislativo mesmo depois do fim de seu governo, e poderá dificultar a tramitação de projetos de interesse do Executivo.

Haddad, no entanto, procurou minimizar eventuais problemas com o partido. O prefeito eleito disse ter boa relação com o presidente da Câmara, Police Neto (PSD). "Vai ter entendimento", afirmou. "Vamos procurar construir consensos", disse, lembrando que quando foi ministro da Educação conseguiu aprovar projetos no Congresso com o apoio da oposição.

O petista disse que o PSD está em "um movimento de aproximação" com o PSB, em direção à base de sustentação do governo da presidente Dilma.

No primeiro semestre de sua gestão, Haddad disse que enviará um projeto de reforma urbana, que em seu programa de governo ficou conhecido com o nome de "Arco do Futuro". O petista deve enviar projetos para revisão do Plano Diretor, da lei de zoneamento, do sistema tributário e das leis que regulamentam as obras de infraestrutura. Haddad pretende reduzir o ISS e o IPTU de empresas que se instalarem na periferia, como forma de gerar mais empregos em locais mais distantes do centro, e levar moradias populares para a região central da cidade.

Haddad evitou falar em nomes para seu secretariado e disse que os partidos podem até dar sugestões, mas será ele o responsável pela escolha final. Questionado sobre a presença do deputado federal Paulo Maluf (PP) em seu palanque no domingo, na comemoração da vitória, e sobre a intenção de Maluf de indicar o secretário de Habitação, o petista desconversou e disse que é "uma pessoa educada", que "não destrata ninguém". "Não trabalho com indicações de caráter pessoal", afirmou. "A apreciação final será feita por mim", reforçou.

Questionado sobre o peso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua eleição, Haddad disse que "não há como negar que a vitória também é de Lula", mas ponderou que o PT, seu programa de governo e seu próprio desempenho pessoal também contaram no resultado final. Depois da coletiva, o prefeito eleito reuniu-se com o ex-presidente no Instituto Lula.