Título: Fundos de pensão aderem ao investimento responsável
Autor: Valenti, Graziella
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2007, Finanças, p. C4

A célebre frase do economista Milton Friedman "o objetivo social das empresas é o lucro" passou por um processo evolutivo no final da tarde ontem, quando o presidente da Caixa dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), Sérgio Rosa, acrescentou a palavra "sustentável" a ela, depois de pedir licença ao seu criador.

A declaração marcou o discurso de Rosa no evento em que um grupo de 15 fundos de pensão - entre os quais, Valia, Funcef, Petros e Centrus, além da própria Previ - aderiram aos Princípios para o Investimento Responsável (PRI). Trata-se de uma cartilha com seis regras de conduta que as fundações devem seguir para selecionar os investimentos conforme o comprometimento das companhias com questões ambientais, sociais e de governança corporativa - ESG, na sigla em inglês.

O documento é resultado da iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) de reunir 20 investidores institucionais, de 12 países, para elaborar os princípios que norteariam as carteiras de aplicações. "Partimos de uma crença de que companhias mais responsáveis social e ambientalmente estão menos sujeitas a risco e serão mais estáveis no seu retorno", disse Rosa, que foi chamado para trabalhar na elaboração da cartilha. A partir de agora, as decisões de compra e venda de ações dessas fundações levarão em consideração esse critério de análise.

As fundações brasileiras que aderiram ao PRI totalizam um patrimônio de US$ 100 bilhões e se uniram a um grupo que agora soma 160 instituições, de 25 países, num volume administrado de US$ 8 trilhões. O diretor da Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep-FI), Paul Clement-Hunt, que coordenou a criação dos princípios, destacou a importância da iniciativa, lembrando que o Brasil foi a sede de uma das primeiras discussões globais como foco em meio ambiente, a Rio Eco-92. "É um compromisso voluntário, mas muito sério."

Segundo o presidente da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), Raymundo Magliano, os investidores estão cada vez mais preocupados com as questões de sustentabilidade. O presidente da Previ utilizou o Nobel de Economia para falar do novo papel que acredita ser dos fundos de pensão. Rosa defende que as fundações disseminem essa nova visão. Essa atitude é, inclusive, sugerida pelo PRI. "No mercado, determinadas práticas só se tornam realidade quando muita gente concorda com ela."

Rosa explicou que essa é a primeira fase de um projeto muito maior. O comitê da ONU criado para desenvolver os princípios trabalha agora em formas de quantificar e mensurar as vantagens que o comportamento responsável pode trazer aos investidores. Ainda é preciso, portanto, criar uma metodologia de avaliação com base nesses critérios. "O desafio continua. Não é fácil falar para investidores e analistas que estão acostumados com fluxo de caixa a olhar para questões sociais e ambientais."

A idéia é que a análise com base no PRI indique o risco da empresa, de acordo com o presidente da Previ. Diversos riscos, tais como de multas, depreciação e até mesmo de imagem, poderão ser medidos. O entendimento de Rosa é que as empresas, cada vez mais, terão de se preocupar com tais questões. Segundo ele, é crescente o número de fundos de pensão que utilizam critérios rigorosos para avaliar a sustentabilidade das companhias.