Título: Inflação alastra-se pela economia
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2010, Economia, p. 23

Elevação dos preços aparece também no mês de novembro. Os alimentos são os que mais sobem, 2,27%, diz a FGV

O orçamento do consumidor brasileiro continua sendo solapado pelos constantes aumentos de preços em produtos básicos fundamentais. O registro dessa deterioração apareceu novamente no Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), que apontou avanço de 1% no levantamento de novembro, maior alta desde a segunda semana de fevereiro (1,04%). Mais uma vez, o grupo alimentação foi o principal responsável pelo resultado, com expansão de 2,27%. Entretanto, o segmento não foi o único. Ao contrário do que ocorreu no início do ano, as pressões inflacionárias agora estão se disseminando na economia e elevando as preocupações com a perda do poder de compra da moeda, segundo avaliação da Fundação Getulio Vargas, responsável pelo indicador.

Para o coordenador do estudo, professor Paulo Picchetti, a diferença fundamental entre os primeiros meses de 2010 e o encerramento do ano é que, naquela ocasião, apesar de a inflação também ter sido liderada pelos produtos alimentícios, foi decorrente de choques pontuais. ¿Agora, os problemas não são climáticos ou ocasionados por falta de produção interna, como antes. Estamos vendo uma grande pressão de demanda externa, resultante de uma alta dos preços de commodities¿, comentou.

No primeiro movimento inflacionário, a falta de produtos na prateleira, ocasionada por fortes chuvas e quebras de produção, foi compensada posteriormente. Agora, no caso da carne bovina, como o produto internacional está muito caro, os importadores estão vindo buscar a mercadoria no Brasil. A procura se reflete no seu encarecimento no mercado doméstico, que avançou de 9,43% para 10,71% na última medição do IPC-S e puxou o restante do indicador. ¿A dinâmica é outra. Não há dificuldades de seca ou poucas pastagens, mas um excesso de demanda, mesmo¿, completou Picchetti.

Estrago O professor destaca ainda que há outros componentes apontados no IPC-S que reforçam a disseminação da carestia e o caráter mais estrutural da inflação. As medições de núcleo avançaram rapidamente nos últimos três meses. Entre setembro e outubro, o recorte do índice passou de 4,62% para 4,76% (no acumulado de 12 meses). Em novembro, cresceu para 4,95%.

Apesar da diferença metodológica, o levantamento parcial do IPCA-15 também oferece uma leitura semelhante, conforme destaca o economista-chefe da Máxima Asset Management, Élson Teles. ¿As características são parecidas. Há pressão nos alimentos, mas há algo mais. Claro que quando se trata de comida, faz um estrago maior, porque além de um grande peso no orçamento, os preços são mais voláteis. Não se pode ignorar também que o excesso de recursos no mercado cause uma aplicação maior de recursos em commodities¿, avaliou.

O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, lembra que, apesar do avanço do preço da carne ter uma estreita ligação com o que ocorre no mercado externo, ele não tem força para se sustentar, uma vez que é resultado de um movimento especulativo. ¿Entre 2007 e 2008, houve aumento das commodities puxado por crescimento econômico. Essa recomposição vem da sobra de recursos na mão dos investidores¿, considerou. Além dos alimentos, os demais grupos que compõem o IPC-S também fecharam o mês de novembro em alta. Entre os avanços mais fortes, ficaram os segmentos de vestuário (1,01%) e transportes (0,69%).

Juros vão subir O cenário atual carrega todas as características que sustentam a necessidade de um novo aumento na taxa Selic: inflação em alta, trajetória ascendente dos núcleos e expectativas do mercado se deteriorando. Para alguns analistas, os juros devem subir já na próxima reunião, em 7 e 8 de dezembro. Para Élson Teles, da Máxima Asset Management, o Comitê de Política Monetária (Copom) pode aproveitar o próximo encontro para sinalizar a alta e deixar o arrocho para o novo presidente, Alexandre Tombini.