Título: Empresas lançam US$ 2,4 bilhões em bônus no exterior
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2007, Finanças, p. C1

As empresas brasileiras aproveitam a forte disponibilidade de recursos externos para o país - não abalada pelas ameaças de estatização na Venezuela e de moratória do Equador - para captar US$ 2,4 bilhões. Os investidores internacionais, na busca por rendimentos, aceitam cada vez mais papéis de companhias que nunca haviam emitido e operações de maior risco, como perpétuos ou eurobônus em reais. Crescem os rumores de que a República vai lançar neste mês papéis denominados em reais.

"Certamente haveria demanda para títulos em reais do governo", diz Fábio Solferini, presidente do Banco Standard de Investimento, que liderou a operação da Cesp. Segundo ele, a empresa conseguiu demanda de US$ 1 bilhão para seus US$ 350 milhões em títulos denominados em reais de vencimento em oito anos. A Cesp pagou 9,75% sobre o IPCA na primeira operação de um emissor brasileiro fechada neste ano.

A seguradora Sul América acaba de escolher o Credit Suisse para levantar US$ 150 milhões por cinco anos, segundo a "Dow Jones Newswires". Já a empresa de participações GP Investimentos fechou ontem sua primeira captação por meio de eurobônus, com um título sem vencimento final - perpétuo - sob a liderança do Credit Suisse. Pagou 10% ao ano.

A Cosan ampliou de US$ 300 milhões para US$ 400 milhões o total de títulos que pretende emitir, de acordo com o "IFR Markets". Em um sinal de forte demanda, o rendimento proposto ao investidor caiu de 7,385% ao ano para 7,25% ao ano.

"A liquidez internacional está brutal e nós precisamos aproveitar a janela", afirma Solferini. Segundo ele, os principais compradores dos papéis da Cesp foram os investidores institucionais dos Estados Unidos, com destaque para os fundos de hedge, que já estão mais acostumados a comprar papéis em reais.

De acordo com Solferini, foi a Cesp que pediu para que o indexador dos títulos fosse o IPCA, pois suas receitas são corrigidas pelo mesmo índice de inflação. A Cesp foi a segunda empresa brasileira não-financeira a emitir títulos em reais no exterior, mas a primeira que usou o IPCA. A única outra empresa brasileira a lançar eurobônus em reais foi a Eletropaulo, que captou US$ 200 milhões em junho de 2005.

Solferini explica que os recursos obtidos pela Cesp serão usados para pagar antecipadamente dívida mais cara e de mais curto prazo. A empresa acaba de concluir oferta pública de recompra antecipada de eurobônus, também liderada pelo Standard. Os investidores concordaram em receber antecipadamente US$ 200 milhões de um total de ? 101,3 milhões mais US$ 472 milhões oferecidos para resgate pela Cesp, que também estará exercendo a "call" - opção de resgate antecipado - de títulos no exterior.

Já a GP vai usar os recursos obtidos em novas participações em empresas na área de consumo, de telefonia, de infra-estrutura e imobiliária, entre outros. Nos últimos meses, a GP investiu na churrascaria Fogo de Chão, na Ecisa (tem participação em sete shopping centers e administra outros 13 empreendimentos), e, com parceiros, abriu a BR Properties, para investimentos no setor imobiliário. Comprou 32% do capital da Igaratinga, resultado da fusão da IHH, da área de saúde e seguro odontológico, que já pertencia à GP, com a USS , fornecedora de serviços de assistência para seguradoras. Está ampliando investimento na Invepar, que administra pedágios.

A ISA Capital do Brasil - subsidiária da ISA colombiana montada especificamente para adquirir a brasileira CTEEP por um total de R$ 1,1 bilhão - está para lançar US$ 554 milhões. Se propôs a pagar de 8% a a 8,25% pelos US$ 200 milhões em títulos de vencimento em cinco anos e de 9% a 9,25% por seus títulos de vencimento em dez anos, segundo o "IFR Markets". Os líderes são o ABN AMRO e o JP Morgan, os mesmos bancos que lideraram o empréstimo-ponte para a aquisição da CTEEP. Os recursos obtidos com os bônus serão usados para pagar o empréstimo-ponte.

Também estão com operações no mercado os frigoríficos Minerva e Independência. A Petrobras está recomprando mais eurobônus e vai emitir até US$ 500 milhões para pagá-los.