Título: Brasil e México terão maior alta
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2007, Finanças, p. C10

Os mercados do Brasil e México são os de maior potencial na América Latina para o crescimento do crédito imobiliário, afirma um estudo da Merrill Lynch sobre crédito em mercados emergentes. O "Guia Merrill Lynch dos Mercados de Crédito a Consumo e Imobiliário em países Emergentes" está sendo publicado como livro nos EUA O diretor da área de pesquisa de operações estruturadas do banco, Alexander Batchvarov, comparou em profundidade os mercados de crédito em oito países: México, Colômbia, Chile, Brasil, Panamá, Jamaica e Trinidad e Tobago.

O livro atende a interesse dos investidores, diz Batchvarov. Os que já investem em títulos soberanos e corporativos de mercados emergentes querem saber mais sobre os ativos de crédito disponíveis nestes países para compará-los mais facilmente. A edição da América Latina será seguida de outras duas, avaliando ativos de crédito na Ásia, Europa, Oriente Médio e África.

Batchvarov usa como referência para o potencial de crescimento do mercado de crédito imobiliário na América Latina a proporção atual no Chile, país mais estável da região, que tem 15% do PIB. O analista acredita que não faz sentido comparar o índice com os 70% dos EUA, por exemplo.

Para o diretor da Merrill Lynch, o fator determinante do crescimento da carteira no Brasil será a redução da taxa de juros. "Juro mais baixo aumenta exponencialmente o número de clientes aptos a fazer um financiamento imobiliário, especialmente no Brasil". O déficit habitacional é concentrado nas faixas de renda mais baixas. Ao reduzir o juro de um financiamento habitacional de 20% para 10%, a renda necessária para o pagamento cai a um terço. Uma redução de taxas de juros básicas hoje em 13,25% para 10% já ajudaria muito, diz o analista. Mas atingir 15% do PIB no Brasil deve levar até duas décadas, diz Batchvarov. Outra medida que poderia ajudar o país a destravar o crédito imobiliário, que foi tomada no Panamá: a regularização de títulos de propriedade em favelas, por exemplo.

No México, as taxas de juros são mais baixas, mas resquícios da crise bancária da década de 90 contiveram o crescimento do crédito imobiliário nos últimos anos. O mercado de crédito imobiliário no México é de US$ 60 bilhões, ante US$ 16 bilhões no Brasil. Tanto Brasil quanto México têm características demográficas que favorecem o crédito imobiliário - a população abaixo de 20 anos fica entre 30 a 40%, em comparação com apenas 20% em países desenvolvidos.

Embora as operações de securitização com base em crédito imobiliário estejam crescendo, sua proporção ainda é pequena no Brasil. A Colômbia, por exemplo, já securitizou um terço do estoque de crédito. "Isso ocorreu porque na Colômbia 80% do total de crédito é concedido por bancos privados. Securitizar esses ativos é uma alternativa mais barata de funding do que procurar mais depósitos", diz. No caso brasileiro, 70% do crédito imobiliário é feito pela Caixa Econômica Federal, que não tem problemas de funding para o crédito imobiliário. O diretor da Merrill Lynch também lembra que a Caixa não consegue aplicar integralmente seu orçamento de crédito imobiliário.

O analista não vê com preocupação o crescimento da inadimplência no crédito ao consumo brasileiro, nem sua proporção de cerca de 30% do PIB. "A inadimplência não deve ser vista sozinha, mas como um integrante do preço dos empréstimos. O que importa é que a perda esteja precificada".