Título: Novartis aposta alto no segmento de vacinas
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2007, Empresas & Tecnologia, p. B1

Por décadas, inúmeras indústrias farmacêuticas tiveram medo de agulha e seringa. O negócio com vacinas operava com margens pequenas, volumes altos e pouca pesquisa na descoberta e no desenvolvimento de novos tratamentos. Nada interessante. Mais recentemente, os laboratórios parecem ter acordado para a oportunidade de prevenção de doenças, sob pressão de governos, e deixaram de negligenciar o promissor segmento da vacinas.

"O setor de vacinas se tornou muito mais atrativo porque foram introduzidas técnicas inovadoras que não existiam há dez anos", disse ao Valor Joerg Reinhardt, o executivo-chefe da divisão mundial de vacinas e diagnósticos da farmacêutica Novartis. Ele conta que os investimentos nas áreas de remédios inovadores - que consumiu US$ 5,3 bilhões da companhia em pesquisa e desenvolvimento apenas no ano passado - permitiu novas descobertas combinadas no segmento de vacinas.

A aposta em vacinas adquiriu uma nova dimensão nos negócios da suíça, que eram inexistentes até a conclusão da compra da americana Chiron, em 2006, por US$ 5,8 bilhões. O mercado de vacinas deve crescer mais rápido do que os de outras divisões da companhia nos próximos cinco anos, segundo dados da própria farmacêutica. Enquanto os negócios com remédios inovadores devem se expandir 5% ao ano, a área de consumo não mais do que 4% e a divisão de genéricos ficará com expansão de 10%, o segmento de vacina aponta 15% anuais até 2011.

De acordo com Reinhardt, a meta da Novartis, quinta maior fabricante mundial de vacinas, é atingir a terceira posição, num mercado hoje dominado pela inglesa Glaxo, a francesa Sanofi-Aventis, a americana Merck e a alemã Bayer. "Faremos o que for possível", desafia o executivo. Desde maio de 2006, quando a divisão foi criada, a companhia contabiliza vendas de US$ 956 milhões em vacinas e diagnóstico. Se comparado com os oito meses de 2005, quando a empresa era mantida ainda sob o controle de acionistas americanos, o crescimento é de 42%. A atividade, contudo, deu prejuízo em 2006 de US$ 26 milhões, decorrente de custos com a bilionária aquisição. Sem os efeitos da compra, a operação teria lucrado US$ 307 milhões.

Nas novas tecnologias empregadas pelas indústrias em vacinas, a Novartis decidiu produzir pioneiramente vacina contra o vírus da gripe aviária por meio de cultura celular. Tradicionalmente, essas vacinas são obtidas por meio de embriões de ovos de galinha que servem de base para sua produção. A dificuldade é que, no caso de uma epidemia de gripe aviária, as primeiras vítimas são primeiramente as próprias aves. Por isso, a nova técnica de cultura celular é considerada mais vantajosa. "Porque quando se morre a galinha, não se tem mais o embrião".

Fabricada em laboratório, a nova vacina consiste na utilização de células humanas, normalmente do rim, que são inoculadas pelo vírus. A partir daí, tem-se um sistema capaz de produzir a vacina de forma perpétua. Outra vantagem é que o processo de produção, mais limpo, tem seu prazo reduzido em um terço, para cerca de dois me-ses, o que facilita o suprimento em caso de uma pandemia de gripe. "Trata-se de um sistema fechado", afirmou Reinhardt. "A técnica de cultura celular é mais previsível, controlada e a produção pode ser aumentada sem problemas."

Atento ao eventual problema de disseminação da doença da gripe, o governo americano está financiando um terço dos investimentos de uma fábrica da vacinas que a Novartis está erguendo no Estado da Carolina do Norte, cujo valor total chega aproximadamente em US$ 600 milhões. A unidade fabril, que também atenderá inicialmente o resto do mundo, deve começar a operar em 2011. No portfólio, a Novartis prevê ainda vacina contra meningite

Para o Brasil, ainda não há planos de criar uma estrutura de produção, mas já negocia parcerias com instituições nacionais. Reinhardt disse que os governos dos países emergentes, ao contrário das nações desenvolvidas que estão estocando grandes quantidades de medicamentos contra uma eventual pandemia da doença, dão menos importância do que deveria dar ao vírus da gripe aviária. "A Índia diz que não existe, a China não quer e a América Latina também não está preocupada. Isso não é bom. Certamente, [querem evitar o problema] por questões econômicas", disse.