Título: Governistas vencem onde o Brasil mais cresceu
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2012, Política, p. A14

O município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, tem a segunda maior arrecadação do Estado do Rio - impulsionada pela refinaria Reduque e o grande polo gás-químico - e foi palco de uma queda de braço entre o PT e o PSB no período pré-eleitoral. O PSB acabou prevalecendo, ganhou o apoio dos petistas a seu candidato, o deputado federal Alexandre Cardoso, e, por fim, levou a prefeitura que cobiçava tanto no objetivo de se expandir além das fronteiras de seu reduto, o Nordeste.

Duque de Caxias é um exemplo da prioridade que certos municípios ganharam na estratégia dos partidos em busca de fortalecimento e de cidades que sejam vitrines de suas administrações. Com 607.663 eleitores e o 14º maior Produto Interno Bruto (PIB) municipal do país, Caxias também registrou o maior crescimento do PIB, 37,9%, entre as cidades que têm mais de 100 mil eleitores.

Na linha de frente desse grupo de municípios, legendas de esquerda e da base governista predominaram e elegeram a maioria dos prefeitos. Entre as dez cidades que mais cresceram, o PSB conquistou ainda a capital de Rondônia, Porto Velho, cujo PIB subiu 30% no levantamento mais recente do IBGE, de 2009, e Timon, localizada no Maranhão mas que é cidade-dormitório da capital do Piauí, Teresina.

O PT governará Anápolis (GO) e Embu das Artes (SP). A primeira é um centro logístico que abriga também indústrias farmacêuticas e cuja economia foi aquecida com a instalação de uma fábrica de caminhões da Hyundai. Más gestões passadas, boa avaliação da atual administração e o clima de otimismo impediram o florescimento da oposição e fizeram com que o prefeito Antônio Gomide se reelegesse com nada menos que 88,9% dos votos. Na cidade paulista - famosa pela feira de antiquários e móveis rústicos, mas que vem se tornando um dos maiores centros logísticos do Estado, com a instalação de centros de distribuição de grandes empresas, como Perdigão e Renner - o prefeito Chico Brito também foi reeleito com facilidade e atingiu 65,8%.

Em Anápolis, cujo PIB cresceu 29,5%, prefeito do PT não teve oposição e se reelegeu com 88,9% dos votos

O PCdoB conquistou Barra Mansa (RJ), cuja economia é beneficiada pelos investimentos no setor de siderurgia. Ali, no entanto, mesmo com o segundo maior crescimento, de 36,8%, o prefeito pemedebista Zé Renato perdeu para Jonas Marins por 45% a 34%. Ao todo, a tríade PSB-PT-PCdoB ganhou seis das dez cidades com maior aumento do PIB. O PSDB levou duas (Taubaté e Praia Grande, ambas em São Paulo) e o PV, outra paulista, Itapevi. O PTB é o único partido à direita do espectro ideológico a marcar presença, ao vencer a disputa em Arapiraca, em Alagoas.

O PMDB, partido que elegeu o maior número de prefeitos em todo o país, 1.032 (18,53%), não figura no topo dos municípios que mais cresceram. Em compensação, lidera o ranking com o PT quando se considera o total de 93 cidades com mais de 100 mil eleitores que tiveram aumento de PIB acima de 10%. Ambas as legendas ganharam 16 prefeituras, seguidos por PSDB (13) e PSB (10), de acordo com levantamento do Valor Data. O PMDB administrará uma população maior neste grupo de municípios: 7.573.202 eleitores, à frente de PSB (4.691.899) e PT (4.129.288), e mais que o dobro dos tucanos, 3.236.532. O PV governará as cidades que tiveram o maior crescimento médio, 24,2%: o de Itapevi foi 33,24% e Francisco Morato (SP) registrou aumento de 15,08%.

O secretário nacional de organização do PT, Paulo Frateschi, afirma que o sucesso eleitoral nestes municípios depende muito da história do partido no local, da divulgação do projeto nacional e da formação de alianças. Ele diz que o PT tem priorizado, acima de tudo, as cidades com mais de 150 mil eleitores, "porque são elas que irradiam política" para as demais, têm universidades, veículos de imprensa e dispõem de horário eleitoral no rádio e TV. Frateschi conta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou depoimento para todos os candidatos do PT ou de aliados nestas cidades, à exceção de duas.

Em Curitiba, o eleito Gustavo Fruet (PDT), ex-algoz dos petistas durante o escândalo do mensalão, em 2005, não teria buscado a aproximação e "não veio pedir" o depoimento. Em Belém, o candidato do PT, Alfredo Costa, concorria com o ex-prefeito e ex-petista Edmilson Rodrigues (PSOL).

Gomide: prefeito petista reeleito em Anápolis foi beneficiado com investimentos como o da Hyundai

O dirigente do PT destaca a importância de cidades que não são capitais ou que tenham grandes colégios eleitorais, mas exercem influência sobre o entorno. "Há municípios que muita gente não dá bola. No norte de Minas, por exemplo, Montes Claros é polo de uma região com mais de 1,5 milhão de eleitores. Ali, o PT não ganhou, mas foi para o segundo turno, construiu liderança", diz. Com 246.711 eleitores, a cidade mineira está no grupo das 93 que mais cresceram (o aumento de seu PIB foi de 10,3%) e será governada pelo PRB, uma das siglas que fazem parte da base de apoio da presidente Dilma Rousseff.

Frateschi aponta que este foi o grande "dado novo" destas eleições: a maior disputa entre os partidos aliados do governo federal. Os municípios mais estratégicos se tornaram palco do confronto. "O PSB, por exemplo, jogou tudo nesta eleição. Quis se consolidar no Nordeste e soube aproveitar as oportunidades fora da região", diz.

O petista participou de várias negociações no período pré-eleitoral com o PSB, legenda aliada a Dilma mas liderada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que tem pretensões presidenciais. Outro aliado do PT no campo da esquerda, o PCdoB também exigiu mais do parceiro durante a formação de aliança e dobrou de dois para quatro as prefeituras com mais de 200 mil eleitores que governará. O PT, por sua vez, teve sua presença reduzida, de 20 para 16.

O primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, afirma que, embora o partido tenha saído das urnas como um dos maiores vencedores, a legenda poderia ter sido ainda mais ousada. "Precisamos ter ainda mais candidaturas próprias nas cidades com mais de 200 mil eleitores e que podem ter segundo turno. Nas capitais até que fomos ousados, mas nas outras fomos tímidos", afirma Siqueira. O PSB rompeu com o PT em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza e ganhou as três capitais.

O dirigente reclama da falta de reciprocidade do PT. "No segundo turno, nas 17 cidades disputadas por petistas, os apoiamos em dez; enquanto isso, concorremos só em sete, e eles nos apoiaram em apenas uma", diz Siqueira.

Este município foi Duque de Caxias, motivo de dura negociação, uma vez que o PT já tinha lançado candidato à prefeitura. "É uma cidade com muitos desafios, pois ao mesmo tempo que é rica, tem muitos problemas urbanísticos e condições precárias para sua população", diz Siqueira.

A reforma urbana, aliás, é um tema que o PSB deve investir como prioridade de suas administrações, aponta o primeiro-secretário. Com isso, a conquista de cidades com alta taxa de crescimento pode representar uma vitrine para as gestões do partido. A expansão desordenada de Porto Velho, por exemplo, pode se transformar em um caso de sucesso se o prefeito eleito Mauro Nazif conseguir solucionar os problemas trazidos à cidade pelo aumento populacional em virtude da construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. Em Timon, grudada a Teresina, Siqueira lembra que a opção política do PSB foi lançar e eleger um jovem político, o deputado estadual, ex-federal, Luciano Leitoa.

Timon está para a capital piauiense assim como Guarulhos está para São Paulo, compara o secretário-geral do PSD, o ex-deputado federal Saulo Queiroz, conhecedor da região, onde tem uma propriedade rural. Queiroz afirma que muitas cidades do interior, ligadas ao agronegócio, têm experimentado um enorme crescimento econômico. Em Balsas, polo agrícola do Maranhão, o dirigente conta que lançou um empresário rural, Zezão, a vice-prefeito, numa chapa encabeçada pelo PRB que perdeu por 125 votos para o PSB. "É um homem do agronegócio que se empolgou com a política, se divertiu nesta eleição, ganhou gosto. Estou querendo colocá-lo na política. E o caminho para quem é grande é sempre mais fácil", diz. Balsas cresceu 24,9% de acordo com o dado mais recente do IBGE.

Saulo Queiroz destaca ainda municípios como Sorriso e Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, onde "a guerra política tem sido grande". Em Lucas do Rio Verde, afirma o dirigente do PSD, o eleito, Otaviano Pivetta (PDT), seria um dos homens mais ricos do país. "Ele foi secretário do ex-governador e hoje senador Blairo Maggi (PR). Possui 200 mil hectares de terra plantada, e se cada hectare vale R$ 15 mil, seu patrimônio é de pelo menos R$ 3 bilhões. Não é um cara qualquer", argumenta Queiroz. Em sua declaração à Justiça eleitoral, no entanto, o patrimônio de Pivetta, ex-prefeito e ex-deputado federal, é dez vezes menor: R$ 321 milhões. Para voltar à prefeitura, o pedetista protagonizou uma disputa familiar, já que o único adversário era Rogério Pivetta Ferrarin (PMDB), filho de uma prima do empresário.

O dinamismo de cidades cuja economia é baseada no agronegócio faz com que municípios com eleitorados minúsculos, de menos de 10 mil eleitores, tenham grande presença no ranking geral dos que tiveram maior crescimento de PIB. O campeão nacional é Monções (SP), que tem apenas 1.927 eleitores, e teve um aumento de 376,7%, graças à instalação de uma usina de cana-de-açúcar. Ali, o atual vice-prefeito, Douglas Honorato (PMDB), foi eleito com 100% dos votos já que era o único candidato.