Título: Alta de commodities eleva projeção para saldo
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Brasil, p. A6

Ainda não acabou o primeiro trimestre e os economistas já começam a elevar as previsões para o saldo da balança comercial. No fim de 2006, as projeções pessimistas apontavam para US$ 34 bilhões. Hoje, os mais otimistas falam em US$ 42 bilhões. Se confirmadas, as estimativas ainda indicam saldo menor que os US$ 46 bilhões de 2006, o primeiro recuou desde 2001. Mas está longe de ser um resultado ruim.

Fazem pelo menos dois anos que os analistas apostam que o fôlego dos preços das commodities está acabando. Mas a economia mundial teima em crescer com vigor. Por outro lado, as exportações brasileiras de manufaturados são prejudicadas pelo fortalecimento do real. Segundo o boletim Focus, do Banco Central, bancos e consultorias previam ontem, em média, US$ 39,3 bilhões de superávit, US$ 1,3 bilhão acima das projeções do fim do ano passado.

A MB Associados revisou de US$ 37 bilhões para US$ 41 bilhões a previsão de saldo da balança. A consultoria projeta alta de 5,5% das exportações, para US$ 145 bilhões, enquanto as importações sobem 13,8%, para US$ 104 bilhões. "O mercado esperava uma desaceleração das commodities que não veio. Depois de recuar no segundo semestre de 2006, houve uma recuperação", diz Sérgio Vale, economista da MB. O índice Commodity Research Bureau (CRB) atingiu o patamar mais baixo em 18 de janeiro: 285 pontos. Desde então, subiu 6,5%.

Fábio Silveira, da RC Consultores, projeta alta de 20% para o preço da soja, principal produto da pauta de exportação brasileira, em 2007. Com a disposição dos Estados Unidos de aumentarem o consumo de etanol feito de milho, os fazendeiros americanos devem plantar mais milho e menos soja, abrindo mais espaço para o grão brasileiro. "Existe uma linha divisória no mercado de agroenergia que os investidores já perceberam", diz Silveira.

Vale, da MB, explica que o vigor da economia mundial também ajuda a puxar os preços das commodities agrícolas e metálicas. Os Estados Unidos, maior economia do planeta, devem crescer menos: entre 2% e 2,5% em 2007, contra os 3,4% de 2006. Só que a China deve crescer novamente mais de 10% e a Europa, puxada pela Alemanha, repetir a alta de 2% de 2006, que é considerado razoável.

Apesar do bom desempenho das commodities, Vale e Silveira prevêem um ano difícil para exportações de automóveis, têxteis ou calçados. Por isso, o ritmo de crescimento das exportações, que subiam 16% em janeiro e fevereiro, deve diminuir. Silveira é mais pessimista e projeta leve queda de 0,6% dos embarques totais do país para US$ 135 bilhões.

A Tendências é uma das mais cautelosas do mercado e estima superávit de US$ 36,7 bilhões em 2007. Há dois meses, a consultoria projetava US$ 34 bilhões. Guilherme Loureiro, economista, prevê alta de apenas 2,5% para os preços da exportação brasileira em 2007, apesar do melhor cenário para as commodities. "A parte da oferta é pouco analisada. Esse ciclo de alta de preços deve gerar mais oferta", diz.

A LCA Consultores foi na contramão do mercado e baixou sua previsão de saldo da balança comercial de US$ 41 bilhões para US$ 38 bilhões. Débora Mattos, economista, explica que a consultoria revisou sua projeção de câmbio. Ao invés de R$ 2,3, estima que o real terminará o ano em R$ 2,25, o que deve prejudicar as exportações.