Título: Aécio critica ministério de Lula e diz estar preparado para 2010
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Política, p. A8

Com vistas à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), afirmou que pretende participar da próxima disputa pela Presidência e sinalizou que estará preparado para o "jogo político". O tucano não cogita mudar de legenda, apesar de ter pelo menos um grande obstáculo para sua candidatura - a pretensão de José Serra, governador de São Paulo, de disputar o cargo pelo mesmo partido.

Ontem, em um almoço-debate com cerca de 300 empresários, em São Paulo, o cacique tucano afirmou, diversas vezes, que estará em cena no processo eleitoral de 2010, quando não poderá mais disputar o governo estadual. "Vou estar atento, vou participar desse jogo político. Espero eu, quero eu, dentro do meu partido, que é onde eu realmente encontro estímulo para fazer política", disse em resposta a uma questão sobre sua pretensão de mudar de partido para concorrer à Presidência. "Se um dia, não sei quando, as circunstâncias políticas construírem um consenso, com naturalidade em torno do meu nome, certamente eu tenho que estar preparado", apontou.

O governador mineiro defendeu que o debate sobre a sucessão presidencial tome corpo somente depois das eleições municipais, no próximo ano e reiterou que, para ser candidato, seu nome terá de surgir com "naturalidade" dentro do PSDB. "Candidatura presidencial tem de ter uma grande dose de naturalidade. Se não tiver, vai mais uma vez - pelo menos para nós - virar somente uma candidatura", atentou. A "naturalidade" evitaria desgastes dentro do PSDB, como houve com a candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin em 2006. "Ninguém pode ser candidato de si próprio. Não tenho projeto pessoal de ser presidente. Não acredito em candidatura presidencial fruto da vontade unilateral de quem quer que seja e sem avançar pelo país".

A divulgação da eventual candidatura de Aécio ganhou ainda mais força entre os empresários com o tom crítico assumido pelo governador em seus comentários sobre o governo federal. A habitual trégua ao presidente Lula foi substituída por ataques à gestão do petista. Entre as reclamações, estavam a falta de diálogo da União com os Estados e a distância entre os discursos feitos pelo presidente e suas ações. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi o mais atacado, por "não ter consultado os Estados". "É um programa de um só pai. Faltou generosidade do governo e um processo compartilhado tem muito mais chances de apresentar resultados", salientou. "Tenho dúvida se boa parte dos investimentos ocorrerá".

O governador tucano também criticou a condução de Lula na formação da equipe ministerial para o segundo mandato. Em sua visão, o país está "retornando a tempos tristes": "Nos critérios de montagem de governo, nós regredimos em relação a 2003". Questionado por um empresário sobre qual conselho daria ao presidente, Aécio observou: "Que ele governe para os brasileiros e não para os partidos políticos que formam a eventual base de sustentação. Que deixe de lado neste mandato os compromissos com os quais ele mostrou ser tão fiel no primeiro mandato, com os amigos, aliados e parceiros, para ter um novo compromisso com a história do Brasil".

Já sobre seu governo, o tucano defendeu o choque de gestão feito em Minas e ressaltou que os investimentos no Estado, neste ano, prevêem R$ 7 bilhões. Aécio planeja implementar um programa de distribuição de renda entre os jovens, que deve lhe trazer benefícios políticos em 2010 semelhantes ao obtido pelo presidente Lula com o Bolsa- Família. O programa poupança jovem deverá contemplar estudantes de 15 a 18 anos, que estão em áreas de risco social e de baixo Índice de Desenvolvimento Humano, com um depósito anual de R$ 1 mil. "Ao final do ciclo do ensino médio, com 18 anos, esses jovens terão cerca de R$ 3 mil depositados em suas contas, para iniciar um negócio, para complementar a sua própria educação", disse o governador. Como contrapartida, os jovens não poderão repetir de ano nem ter passagem policial e deverão participar em algum projeto comunitário, social do Estado. Apesar do objetivo semelhante ao dos projetos de distribuição de renda do governo federal, o tucano fez questão de marcar a diferença: "Queremos evitar que jovens se transformem em mais um grupo de fregueses do Bolsa Família".