Título: Energia e resíduos emitem 95% dos gases-estufa de SP
Autor: Chiaretti , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 13/11/2012, Brasil, p. A5

Os setores de energia e resíduos respondem por 95% das emissões de gases-estufa da cidade de São Paulo, que somaram 16,430 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2011. O setor de energia, sozinho, representa 82% das emissões de gases-estufa do município - ou seja, o que é produzido na queima de combustíveis, no consumo de eletricidade e na rede de gás natural. Esgoto doméstico, efluentes industriais, disposição de lixo em aterros, incineração e compostagem respondem por 15,6% das emissões da cidade.

Esses dados fazem parte do inventário de emissões de gases-estufa da cidade de São Paulo para o período 2003-2009 com projeções até 2011. O diagnóstico, o segundo feito pelo município, foi produzido pelo consórcio entre o instituto Ekos e a empresa Geoklock, com patrocínio do Banco Mundial. A partir de amanhã estará no site da prefeitura e das empresas para consulta pública durante um mês.

Em 2003, data-base do primeiro inventário de emissões da cidade, São Paulo emitiu 15,738 milhões de toneladas de CO2 equivalente - uma medida usada para comparar as várias emissões de gases-estufa. O pico das emissões ocorreu em 2008, caiu em 2009 e voltou a crescer nos anos seguintes.

"O inventário mostra que São Paulo está mudando de perfil, deixando de ser uma cidade industrial para virar um centro de serviços", destaca Délcio Rodrigues, um dos coordenadores do trabalho. Ele destaca que a curva de emissões da cidade responde à entrada dos veículos flex no mercado, às oscilações do preço do etanol em relação à gasolina e também à entrada das usinas térmicas na geração de energia quando a água dos reservatórios das hidrelétricas está em níveis baixos. "Mas as emissões não explodiram, considerando-se o aumento do poder aquisitivo da população", registra.

Uma comparação entre as emissões de São Paulo e Nova York em 2009 mostra que foram lançadas 15,1 milhões de toneladas de CO2 equivalente na capital paulista e 49,3 milhões de toneladas de CO2 em NY. A emissão per capita dos paulistanos foi de 1,4 toneladas de CO2 comparadas as 6,0 toneladas dos novaiorquinos.

"Se esta cidade, que tem 11 milhões de habitantes, não tomar para si essa tarefa, como as outras 5 mil irão fazer?", perguntou o secretário do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, em evento, ontem, no teatro da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. "Trata-se de uma mudança cultural, não é algo que se possa fazer por decreto", seguiu. O inventário, disse Jorge, é "uma das formas de se fotografar a vida da cidade com as suas contribuições à crise do clima". O estudo mapeou quatro setores da economia, dando prioridade aos que causam mais impacto: energia, resíduos, processos industriais e uso da terra.

"Meu diagnóstico de patologista é que, apesar de a cidade ter criado um conjunto de leis, não conseguirá atingir meta alguma", disse o médico Paulo Saldiva, especialista nos estudos de impacto da poluição atmosférica à saúde pública. "Cada vez se vendem mais carros, o trânsito está sempre mais lento, temos uma política equivocada de combustível." Saldiva lembrou que em junho a Organização Mundial da Saúde declarou as emissões dos motores a diesel cancerígenas tal como o tabaco e o amianto. Segundo o médico, previsões para 2050 indicam que a poluição do ar matará no mundo quatro vezes mais que a malária e a diarreia juntas. "A saúde não está preparada para lidar com isso", registrou.