Título: Kassab busca unidade para adesão do PSD ao governo
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 13/11/2012, Política, p. A8

O presidente nacional do PSD e prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), desembarcou ontem em Brasília para tentar dar um rumo a um partido rachado sobre diversos assuntos e, assim, conseguir finalmente alinhá-lo ao governo da presidente Dilma Rousseff.

Seu primeiro compromisso nesse sentido seria um jantar com a presidente no Palácio da Alvorada, no qual a informaria tanto a adesão imediata ao governo quanto do apoio à sua reeleição em 2014. A expectativa na legenda era de que, em contrapartida, a petista lhe oferecesse espaço no governo. São cogitadas a Secretaria de Micro e Pequenas Empresas e a Secretaria de Aviação Civil.

Hoje ele recebe um prêmio por ações de transparência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara e depois segue para a parte mais difícil de seu roteiro: um almoço com a bancada da Câmara dos Deputados na residência do deputado Guilherme Mussi (PSD-SP), no Lago Sul. Ali, irá apresentar seus planos. E ouvir as contrariedades.

Embora desde sua fundação em 2011 o PSD atue como governista na maior parte das votações no Congresso Nacional, muitos no partido ainda têm dúvidas quanto a viabilidade de tornar oficial o que na prática já existe. Avaliam que talvez seja melhor acompanhar o desenrolar do cenário político de 2014 para ter mais segurança sobre qual projeto é melhor desembarcar. "A adesão não é unânime na bancada. Em razão do passado recente do partido, em que havia muitas posições contrárias ao governo, há um questionamento se não vale esperar um pouco mais para analisar o futuro. A dúvida é quanto ao momento", afirma o líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos (SP).

Também há dúvida se é necessário aceitar alguma pasta para concretizar a adesão. Os contrários alegam não haver nada à disposição na Esplanada que reflita o tamanho atual do governo. "Espero que ela [Dilma] não ofereça nada porque acho que nossa hora é para o segundo mandato. Ela não tem um ministério para arrumar do tamanho do partido. O ministério que tiver será de segundo escalão e o partido é de primeiro escalão", afirmou o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz. Para ele, "é melhor esperar, participar da reeleição e ela compor um segundo ministério de alta representatividade política". "Aí teremos um ou dois ministérios. Para nós é mil vezes melhor ter crédito do que ter débito."

Um terceiro ponto divergente é quanto à eleição para a presidência da Câmara, na qual parte da bancada defende o apoio à já oficializada candidatura do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), e outra vê com simpatia a movimentação do deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Kassab tende a direcionar a bancada a apoiar Alves. Tanto que ontem, no mesmo horário em que estava previsto seu jantar com Dilma, o líder Guilherme Campos jantaria com o pemedebista.

Dali sairia um pré-acordo de apoio, no qual Alves iria garantir o atendimento à principal reivindicação do PSD: respeito à proporcionalidade na ocupação dos espaços políticos da Casa. O que significa a terceira pedida na Mesa Diretora e duas comissões permanentes. Juridicamente, o partido de Kassab não tem isso assegurado. Um mandado de segurança foi impetrado no Supremo Tribunal Federal (STF), o relator, ministro Carlos Ayres Britto, negou liminar e o assunto não avançou.

Nesse sentido, Guilherme Campos só recomenda o voto em Alves se ele prometer esse compromisso não só a ele, mas a toda bancada. Um encontro para que isso ocorra já está sendo articulado e pode ocorrer ainda neste mês. Mas para se prevenir, o PSD articula um bloco com PSB, PCdoB, PDT e PSC que o torne majoritário nas escolhas das comissões. No encontro de hoje com a bancada, o prefeito de São Paulo também irá tratar da rejeição interna a ele. Há críticas quanto a uma condução unilateral e impositiva, sem consulta a parlamentares, ainda mais tendo em vista o resultado negativo das eleições em São Paulo.