Título: Fabricantes de materiais apostam na baixa renda
Autor: Watanabe, Marta e Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Especial, p. A16

De olho no consumidor de baixa e média renda, que hoje tem maior acesso ao crédito e cujo rendimento real cresceu, as empresas de materiais para construção civil apostam na venda de produtos mais baratos e práticos.

A fabricante de louças e metais sanitários Deca faturou 12% a mais em 2006. Esse bom resultado foi impulsionado pelas vendas das chamadas torneiras competitivas. São produtos que custam entre R$ 45 e R$ 50, valor bem inferior à segunda linha mais barata oferecida pela empresa, com preço entre R$ 80 e R$ 90 no varejo. "São torneiras cromadas, de qualidade e com preço acessível", explica Raul Penteado, diretor-geral da Deca.

A aposta do executivo é de que as vendas de torneiras e de louças de menor preço crescerão ainda mais neste ano. Ele acredita que o país viveu um primeiro momento desse boom da construção no ano passado, com o início de muitas obras. "A partir de agora teremos a fase do acabamento, quando aumenta a demanda por esse tipo de produto", diz.

"As transferências de renda e o maior acesso ao crédito permitiram um avanço do consumo formiga, para a ampliação e construção de casas no Norte e Nordeste", diz Fábio Rossini, gerente de marketing da Votorantim Cimentos. Por conta disso, ele diz que a demanda pelo insumo no ano passado foi muito forte, mas também díspar. Ele acredita que o principal motor do crescimento nessas áreas foi a autoconstrução, realizada pelas pessoas de baixa renda.

Rossini projeta que o padrão de crescimento das vendas de cimento vai se manter. "Pode ser que os Estados do Sul se recuperem, após o desempenho ruim por conta das sucessivas quebras de safra", diz. Mas as estrelas devem, novamente, ser o Norte e Nordeste, avalia.

Em fevereiro, as incorporadoras Cyrela, Gafisa e Odebrecht anunciaram a criação de bandeiras exclusivas para o segmento de baixa renda. O Valor noticiou que a joint venture entre Gafisa e Odebrecht deverá atuar em projetos habitacionais que devem custar, em média, R$ 50 mil.

A Gerdau, que fabrica vergalhões, pregos e uma série de produtos em aço, já possui uma linha de produtos prontos para ser aplicada em pequenas e médias construções. Com a expansão do financiamento imobiliário, do emprego e dos salários dos brasileiros, esse tipo de material tende a vender mais neste ano.

Esses produtos chamaram a atenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que visitava o stand da empresa na Feira Internacional da Construção (Feicon) em São Paulo, na semana passada. Lula disse que quer ver soluções para a construção de baixa renda baratas e de boa qualidade. "Afinal, quem gosta de miséria é rico. Pobre gosta de luxo", argumentou o presidente. (RS e MW)