Título: No Brasil, só 0,54% das companhias têm blogs
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Empresas, p. B1

As empresas brasileiras começam a tomar conhecimento do poder dos blogs, como são chamados os diários virtuais, mas até agora poucas delas estão fazendo uso efetivo desses novos meios. É isso o que revela uma pesquisa inédita da agência americana de marketing direto Rapp Collins. Entre 1008 empresas brasileiras, consultadas entre agosto e setembro do ano passado, apenas 0,54% informaram ter um blog próprio e 2,62% disseram ter o hábito de capturar dados dos clientes em blogs externos ou em redes sociais de relacionamento, do tipo Orkut.

A baixa adesão obedece a duas razões básicas, avalia Ricardo Pomeranz, sócio-presidente da Rapp Collins no Brasil. Primeiro, os diários virtuais são um fenômeno muito recente, o que mantém à distância a maioria das empresas. "Ninguém ainda sabe ao certo como os blogs funcionam", diz o executivo. O outro ponto é que manter um blog no ar exige atualização constante das informações. As companhias perceberam isso e estudam o que fazer para alimentar o blog na velocidade acelerada a que se acostumaram os usuários da internet.

Uma das saídas encontradas é permitir que os próprios funcionários alimentem o blog. Entre as pouco mais de 50 empresas que já tem diários na web, 44% adotaram essa política. Das demais, 20% disseram ter contratado um profissional exclusivamente para o trabalho e outros 20% informaram ter transferido a tarefa para empresas externas e especializadas.

"Como um dos pontos críticos da blogosfera é manter as informações atualizadas, não parece despropositado permitir que os próprios funcionários façam isso", diz Pomeranz. Algumas empresas até vão além: 8% delas, mostra a pesquisa, permitem que pessoas de fora da companhia alimentem o blog, sem nenhum tipo de restrição.

Uma abordagem mais aberta pode trazer riscos para a companhia, concorda Pomeranz, já que abre a possibilidade de funcionários, fornecedores e consumidores dizerem, publicamente, coisas que não são do interesse da empresa. Mas com a nova fase da web, marcada pelas ferramentas de comunicação, esse risco existe independentemente de a companhia ter seu blog ou não, afirma o executivo.

"Existe um novo perfil de consumidor que está falando sobre as companhias nos blogs, nas redes de relacionamento, nos sites de jogos on-line... E isso, queiram as empresas ou não", diz Pomeranz.

Nesse cenário, abrir o próprio blog pode representar uma vantagem porque transmite ao público a idéia de transparência. Eventuais exageros de quem escreve no blog, principalmente no caso dos funcionários, podem ser coibidas deixando claro que tipo de informações podem ser comentadas, para evitar o vazamento de dados confidenciais, diz o especialista.

A recomendação é a de sempre preservar o conceito de transparência. Quando isso não acontece, o tiro pode sair pela culatra. Em 2004, um blog supostamente criado por um estudante de vinte e poucos anos entrou no ar, mostrando vídeos que traziam a nova linha de carros M3, da Mazda, em ação. Uma semana depois, saiu do ar, em meio a suspeitas de que o autor do blog simplesmente não existia e que a ação não passava de uma ação de marketing da montadora. Os próprios internautas vasculharam a origem do blog até descobrir que o site estava hospedado em uma das mais caras empresas de hospedagem de dados dos Estados Unidos, algo muito incomum para um estudante, conta Pomeranz. A história não acabou bem. "O publico não perdoou e começou a falar mal da companhia."

Outros casos mostram que a estratégia mais adequada às vezes exige uma abordagem sutil, não diretamente relacionada aos produtos da companhia. Um bom exemplo, diz o presidente da Rapp Collins, é o da Nike. No ano passado, a fabricante de artigos esportivos juntou-se ao Google para lançar o Joga.com, uma espécie de Orkut direcionado aos fãs do futebol. O nome foi inspirado na campanha publicitária "Joga bonito", da Nike. Em vez de conteúdo próprio, o Joga.com oferece ferramentas que permitem aos usuários se comunicarem uns com os outros. Dessa forma, permite à companhia associar sua marca a uma iniciativa apreciada por potenciais consumidores de 160 países, que falam 16 idiomas diferentes.

Para este ano, a expectativa da Rapp Collins é de que o uso dos blogs e das redes sociais de relacionamento crescerá rapidamente entre as empresas, apesar do resultado obtido na pesquisa.

Em geral, quando uma nova tecnologia surge, apenas um pequeno número de empresas de vanguarda abraça a tendência. A partir de então, ela se dissemina e acaba sendo adotada pela maioria das companhias, diz Pomeranz. "Foi assim com a própria internet. Em 1995, quantas empresas tinham um site?", pergunta ele.