Título: Parte de portugueses na Vivo vale até R$ 7 bi
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Empresas, p. B3

Qual é o preço pelo qual a Portugal Telecom estaria disposta a vender sua participação numa companhia que representa um terço de sua receita e 20% do lucro operacional? Para analistas, as ações do grupo português na Vivo poderiam valer algo entre R$ 5,6 bilhões e R$ 7 bilhões.

O cálculo avalia toda a operadora de telefonia celular num intervalo de R$ 18 bilhões a R$ 22 bilhões, o que indica um prêmio significativo em comparação com a cotação da empresa em bolsa. A Vivo valia ontem R$ 15 bilhões no mercado.

Portugal Telecom e Telefónica detêm juntas 63,1% do capital total da operadora brasileira, com 89,3% das ações ordinárias e 48% das preferenciais. Essa participação é dividida meio a meio entre os dois sócios.

O investimento na Vivo está registrado nos livros do grupo português por algo entre 2,5 bilhões e 3 bilhões de euros.

Conforme noticiou o Valor em sua edição de ontem, a Portugal Telecom e a Telefónica deram o primeiro passo para abrir as negociações que poderão resultar na venda, aos espanhóis, da participação dos portugueses na Vivo.

Com isso, os papéis da operadora subiram ontem na Bovespa. As ações ordinárias fecharam com alta de 5,47%, cotadas a R$ 16.

As conversas entre os grupos português e espanhol ainda são incipientes, mas segundo fonte ligada aos sócios, as contas feitas por analistas dão um indicativo razoável de preço.

Para Felipe Cunha, da corretora Brascan, a preço de mercado a fatia dos portugueses está avaliada em torno de R$ 5 bilhões. Essa cifra representaria cerca de US$ 275 por assinante. "Existe espaço para vender por mais do que isso", disse. O analista observou que, em algumas das aquisições mais recentes de empresas de celular na América Latina, os assinantes das operadoras foram avaliados em US$ 350 cada.

No segmento de telefonia móvel, o número de clientes é um indicador relevante para se atribuir um valor às operadoras. Ao fim de janeiro, a Vivo tinha pouco mais de 29 milhões de clientes, o que lhe garantia a liderança do mercado nacional.

Quando adquiriu os ativos da BellSouth na América Latina, em abril de 2005, a Telefónica pagou US$ 5,85 bilhões - o que significa US$ 450 por cliente. A companhia americana tinha então uma base de 10,5 milhões de assinantes na região. Porém, na época, a compra teve o papel estratégico de defender o grupo espanhol do avanço da mexicana América Móvil no território latino-americano.

Para a Telefónica, assumir o controle total da Vivo também é um passo muito relevante, além de um projeto antigo, porque o grupo poderá aproveitar melhor as sinergias com a Telesp, operadora de telefonia fixa no Estado de São Paulo.

Hoje, a Telesp é a única das três concessionárias de telefonia do país que não tem uma operação integrada em telefonia fixa e móvel. Brasil Telecom (BrT) e Oi (nova marca da Telemar) já vêm há alguns anos apostando pesadamente na convergência dessas plataformas - e de outras como internet e vídeos - como forma de combater a tendência de estagnação nos serviços tradicionais de voz.

Na avaliação da analista Luciana Leocádio, da corretora Ativa, uma integração entre a Vivo e a Telesp poderá acelerar esse movimento. "Do ponto de vista estratégico, a Vivo já evoluiu muito nos últimos meses, mas as decisões ficariam mais fáceis e poderiam ser mais agressivas", disse.

A aposta de Luciana é de que a integração societária das empresas fixa e móvel seria um dos primeiros passos da Telefónica ao comprar a parcela dos portugueses na Vivo. Avaliação semelhante foi feita por Cunha, da Brascan. Segundo ele, a Vivo poderia incorporar a Telesp, o que permitiria um melhor aproveitamento de créditos fiscais. (Colaborou Graziella Valenti)