Título: Com o pé na Esplanada
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2010, Política, p. 2

Nomes anunciados informalmente para o primeiro escalão

Saúde Sérgio Côrtes (PMDB) Secretário de Saúde do Rio de Janeiro, foi o responsável pela implantação das Unidades de Pronto-Atendimento 24 Horas, as UPAs, que depois foram replicadas pelo governo federal para outros estados. Dilma espera que o atual secretário implemente projetos de prevenção e atenção à saúde básica, além de manter um olhar sobre a atenção à mulher. Na gestão de Côrtes, o Rio criou um Hospital da Mulher em São João de Meriti e um projeto para atender gestantes de baixo risco. Uma das promessas de Dilma foi a implantação de uma rede-cegonha para as gestantes.

Justiça José Eduardo Cardozo (PT) O deputado pelo PT de São Paulo desistiu de se candidatar à reeleição para se dedicar à campanha de Dilma Rousseff. Como participou das negociações para formar a aliança de apoio à petista, tornou-se um dos três assessores principais da candidata. Na equipe de transição, ficou responsável pela coordenação da equipe técnica ao lado do deputado Antonio Palocci (PT-SP). Foi um dos primeiros a ser convidado para ser ministro no futuro governo.

Ministério das Comunicações

Paulo Bernardo (PT) O atual ministro do Planejamento já influenciou nas Comunicações, quando, em setembro, atuou para conter uma crise nos Correios. Entre os desafios que enfrentará na pasta, terá que tratar das concessões de rádio e TV, da implantação do Plano Nacional de Banda Larga e da nova lei de comunicação eletrônica. Desfruta da credibilidade e do respeito do presidente Lula, que recorre a ele quando tem problemas a resolver.

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel (PT) Ex-prefeito de Belo Horizonte e candidato derrotado ao Senado, é amigo da presidente eleita. Conheceu Dilma durante o movimento estudantil e na militância contra a ditadura militar. Na campanha, atuou como colaborador informal. Sua principal tarefa será ajudar a formular a política industrial do governo num cenário de dificuldades no setor exportador por conta da valorização do real frente ao dólar e ao euro.

Defesa Nelson Jobim O ministro da Defesa aceitou o convite da presidente eleita para continuar no cargo no próximo governo. O presidente Lula havia manifestado o desejo de que ele permanecesse à frente da pasta em razão de sua boa relação com as Forças Armadas. De acordo com um petista, Jobim só aceitou negociar sua permanência com a condição de retirar o setor de aviação civil da competência do Ministério da Defesa.

Educação Fernando Haddad (PT) Após pressão de Lula pela manutenção de Haddad, a presidente eleita, Dilma, decidiu fazer o convite para sua permanência. Haddad teve a imagem arranhada pelas falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Apesar de resistências do PT ao ministro, considerado ¿pouco político¿, a avaliação de Lula, de que ele faz um bom trabalho, falou mais alto.

Casa Civil Antonio Palocci (PT) Ao assumir a Casa Civil, ministério responsável pela coordenação do governo, Palocci será definitivamente reabilitado na cena política. Fiador do rumo econômico no primeiro mandato de Lula, o então comandante da Fazenda foi abatido em março de 2006, no rastro do escândalo da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo. Palocci foi inocentado pelo STF. Entre suas atribuições, fará dobradinha com a Secretaria das Relações Institucionais na articulação política e cuidará da interlocução com governadores e prefeitos.

Secretaria-Geral da Presidência Gilberto Carvalho Atual chefe de gabinete do presidente Lula. Ao menos por enquanto, a Secretaria-Geral não mudará de perfil e continuará cuidando da relação com os movimentos sociais.

Nomes já oficializados

Fazenda Guido Mantega Quadro histórico do PT, nasceu em Gênova (Itália) e sempre defendeu uma filosofia econômica voltada ao desenvolvimento, com juros menores. Intitula-se ¿keynesiano¿, corrente que se caracteriza pela percepção de que o mercado não se autorregula e, também, por uma intervenção maior do Estado na economia. Mantido no cargo, que assumiu em março de 2006 após a demissão de Palocci, seus primeiros desafios serão melhorar a gestão das contas públicas, compromisso de Dilma durante a campanha.

Planejamento Miriam Belchior Deve levar para o novo cargo o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), do qual estava à frente como subchefe da Casa Civil. Foi uma das responsáveis pela implantação do plano em 2007 e atuou nos últimos meses na seleção dos projetos do PAC 2. Como integrante da equipe de Dilma na Casa Civil, assumiu uma posição de diálogo nos temas referentes a infraestrutura entre União, estados e municípios. Foi mulher de Celso Daniel, prefeito do PT de Santo André assassinado em 2002. No primeiro mandato de Lula, atuou na integração de programas no Bolsa Família.

Banco Central Alexandre Tombini O economista, atualmente na diretoria de Normas do Banco Central, assumirá a Presidência da autoridade monetária no início de 2011, em substituição a Henrique Meirelles. Funcionário de carreira, Tombini já representou, em várias oportunidades, Meirelles no comando do BC e, também, em reuniões do governo. Seu nome deve representar continuidade, embora com menos conservadorismo, da condução da política vigente de fixação da taxa de juros.

Outros focos de discordância

Solucionado o espaço do PMDB, a presidente eleita dedica-se a fechar o limite dos outros partidos no futuro governo e lidar com disputas por espaço patrocinadas pelo PT. O governador da Bahia, Jaques Wagner, perdeu para seu colega pernambucano Eduardo Campos (PSB) a indicação do ministro da Integração Nacional, mas não abre mão de emplacar um nome de sua confiança na Esplanada.

A bancada de deputados do PT da Bahia realinhou a mira em três alvos. As pastas do Turismo, Desenvolvimento Agrário e Desenvolvimento Social são as possibilidades aventadas. Uma delas poderia abrigar quem Wagner chancelar. O governador indicou os deputados Nelson Pellegrino e Geraldo Simões, ex-prefeito de Itabuna (BA), além do senador eleito Walter Pinheiro. Os planos baianos podem ir por terra porque também disputa a vaga no Turismo o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). A ida dele para a Esplanada abriria vaga para o presidente do PT, José Eduardo Dutra, no Congresso. Dutra é o primeiro suplente de Valadares.

¿A Bahia precisa estar em algum ministério¿, defendeu um deputado petista de outra unidade da Federação. Simões é nome para o Desenvolvimento Agrário, Pellegrino e Pinheiro para Turismo e Desenvolvimento Social. Vai depender do desenho feito por Dilma com as agremiações que apoiaram sua candidatura.

A insatisfação dos petistas, no entanto, não se limita à questão regional. Lideranças da tendência interna majoritária da legenda, Construindo um Novo Brasil (CNB), estão contrariadas com a indicação de dois nomes de correntes adversárias: Fernando Haddad (Educação) e José Eduardo Cardozo (Justiça), ambos da Mensagem ao Partido. Por isso, pressionam por nomes do CNB.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) deve ser o nome para Ciência e Tecnologia, na vaga deixada pelo PSB. O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) já foi descartado por conta da indicação de Sérgio Côrtes (PMDB) à Saúde.

A vacância do Ministério da Previdência, uma das cadeiras que poderia abrigar Paulo Bernardo, poderá ser usada para compor com legendas aliadas. (TP)