Título: Os limites do PMDB
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2010, Política, p. 2

TRANSIÇÃO O convite a Sérgio Côrtes para o Ministério da Saúde delimita o espaço do partido na Esplanada. Serão três vagas definidas por integrantes da legenda no Congresso e outras duas de indicação pessoal

A presidente eleita, Dilma Rousseff, avançou no desenho do ministério que a ajudará a governar a partir de janeiro. Ela definiu que Paulo Bernardo ocupará as Comunicações e Sérgio Côrtes, a Saúde, e delimitou o espaço do PMDB na Esplanada. Serão três vagas indicadas pelas bancadas do Senado e da Câmara ¿ Minas e Energia, Agricultura e Cidades ¿ e duas de indicação pessoal: Defesa e a própria Saúde. A solução encontrada por Dilma, contudo, não significa que os problemas entre PT e PMDB acabaram.

Os focos de insatisfação estão em todos os lugares, com deputados, senadores e até governadores dos partidos sentindo-se jogados para escanteio e sub-representados. O espaço do PMDB foi definido em reunião entre Dilma e o vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), com os senadores peemedebistas José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), além dos petistas Antonio Palocci (PT), indicado à Casa Civil, José Eduardo Cardozo (PT), à Justiça, e o presidente da legenda, José Eduardo Dutra.

No encontro, Dilma avisou aos peemedebistas que o partido perderá o comando das Comunicações e da Integração Nacional. Esse último passará ao PSB, cujo indicado deve ser Fernando Bezerra Coelho, secretário de Desenvolvimento Econômico do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (leia mais ao lado). Em compensação, levarão a almejada pasta de Cidades. Na Defesa, Nelson Jobim será mantido. Antes tido como nome certo, o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) deve ficar de fora. De acordo com interlocutores da presidente eleita, o PMDB do Rio de Janeiro está contemplado com a indicação de Sérgio Côrtes, secretário estadual de Saúde, do governo Sérgio Cabral (PMDB).

Franco, ex-governador do Rio, era nome para Cidades, mas acabou pesando o veto de Cabral. Os dois são desafetos políticos, apesar de correligionários. Nesse vácuo, Dilma gostaria de emplacar o deputado gaúcho Mendes Ribeiro Filho. O nome do parlamentar, porém, terá de ser referendado pelos colegas de partido. ¿O PMDB agora precisa parar de brigar entre si e escolher quem são os indicados para Cidades e Agricultura¿, afirmou um petista.

Na Agricultura, o líder das apostas é o atual ministro, Wagner Rossi, nome chancelado por Temer. Por uma questão de diplomacia, o vice-presidente eleito submeterá sua indicação à bancada de deputados. A disputa não é só interna. Os peemedebistas saíram contrariados da reunião com Dilma. Não gostaram de ouvir o veto a Moreira Franco e a perda da cota do Senado. Com Lula, os senadores indicaram o titular de Minas e Energia e das Comunicações.

O relato de Renan Calheiros aos aliados foi de que Dilma não reconheceu o trabalho dos senadores ao longo dos dois mandatos. A opção por Paulo Bernardo foi uma escolha pessoal de Dilma por considerar que a área terá destaque em seu governo. A pasta das Comunicações terá a responsabilidade de se reestruturar e uma tarefa sensível de tocar o Plano Nacional de Banda Larga.

Acerto Na Saúde, Dilma também optou por fazer prevalecer a escolha pessoal e não o loteamento político. O ortopedista Sérgio Côrtes, 44 anos, é idealizador das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Ao escolhê-lo, pode alardear que o nome se encaixa como do PMDB e agrada ao PT. Durante a campanha, Dilma prometeu instalar mais 500 UPAs até 2014.

Côrtes chegou a recusar a primeira sondagem, mas acabou cedendo por insistência de Cabral. A gestão na Secretária de Saúde fluminense é acusada de fraude em licitação. Segundo acusação do Ministério Público, a secretaria teria contratado a empresa que ofereceu o valor maior que o de mercado. Antes mesmo de a equipe de transição confirmar a indicação, Cabral disse que o acerto estava feito. ¿Já foi feito o convite via presidente. Eu o consultei e ele aceitou, mas é evidente que ele vai ter que sentar com a presidente e conversar¿, disse o governador no Rio de Janeiro. Com Bernardo e Côrtes, são 11 ministros indicados, dos quais três já oficializados (veja quadro).

Plataforma eleitoral O Ministério das Cidades é uma das pastas com maior volume de obras listadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Por tocar projetos de saneamento, é vitrine na negociação com prefeitos ¿ importantes cabos eleitorais para qualquer político que ambiciona voos mais altos, como a cadeira de governador.

O lobby ambiental » O presidente Lula continua com a missão de influir na composição do ministério de Dilma Rousseff. Depois de sugerir a permanência de Guido Mantega na Fazenda; de Nelson Jobim, na Defesa; e de Fernando Haddad, na Educação, ontem ele defendeu a continuidade de Izabella Teixeira no Ministério do Meio Ambiente. Em visita a obras da Usina Hidrelétrica de Estreito, ele deu a entender que ela será mantida. ¿A gente vai preservar o meio ambiente e produzir mais. E a Izabella será parceira disso.¿