Título: Dilma janta com Eduardo, almoça com Cid e 'afaga' PSB
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2012, Política, p. A12

Um dia depois de receber as cúpulas do PMDB e PT, na noite de terça-feira, a presidente Dilma Rousseff, teve como convidado para o jantar o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, no Palácio da Alvorada. A campanha eleitoral deixou muitas sequelas entre PT e PSB, mas a presidente tratou Campos com carinho, apreço e disse considerar "a coisa mais normal que um partido tenha um projeto de crescimento". Afirmou não ter guardado ressentimento ou mágoas da campanha e que é preciso todos descerem do palanque. "Está na hora de relaxar", teria dito, segundo um dos convidados.

Ontem, a própria Dilma avaliou positivamente o jantar que teve com o governador, do qual participaram também o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, o presidente do PT, Rui Falcão, e a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), e minimizou avaliações sobre um possível tratamento diferenciado ao partido aliado. "Foi bom [o jantar]. Não tenho diferenças. A nossa relação sempre se manteve a mesma", disse.

"Todos precisam de afago. Quem não precisa de afagos em sendo humano? Todos nós somos muito parecidos, porque somos humanos", completou Dilma, ao ser questionada sobre os encontros que tem mantido com partidos aliados para avaliar o quadro político e traçar perspectivas para as eleições de 2014.

No PSB a conversa foi classificada de "cordial" e de "alto nível". A exemplo do encontro com PT e PMDB, na véspera, presidente voltou a defender a necessidade de aprovar pelo menos dois ou três pontos da reforma política. O PSB é contrário ao voto em lista defendido pelo PT. Mas todos concordaram que é preciso mudar as regras de regras de financiamento de campanha e uniformizar a data das eleições a cada quatro anos, em vez de dois em dois, como é atualmente. A ministra Ideli sugeriu que se tente aprovar algo em dezembro.

Ontem almoçou com o governador do Ceará, Cid Gomes, que juntamente com o irmão Ciro tentam fazer uma espécie de contraponto ao governador de Pernambuco no partido. Segundo Cid, a presidente disse querer por fim a "qualquer ruído" entre PT e PSB. "Quando perguntei, presidente, na política, o que a senhora espera, ela disse para mim: que acabe qualquer ruído entre o PT e o PSB. Nós somos parceiros, aliados, é importante que os dois partidos estejam juntos", relatou Cid Gomes ao deixar o Palácio da Alvorada.

De acordo com Cid Gomes, a presidente informou ter dito ao presidente do PSB, Eduardo Campos, que "muito brevemente" fará uma reunião com os prefeitos eleitos do partido em outubro. Cid relatou ter ponderado à presidente que o PSB possui projetos políticos "antagônicos" a aliados do governo e, em entrevista, citou a possibilidade de o partido deter o posto de candidato à vice na chapa de reeleição da presidente Dilma em 2014.

Na conversa com os jornalistas, Cid deixou explícita a tensão interna no PSB. O governador disse que o PSB apoia "de forma ativa e colaborativa" o governo Dilma - o que Eduardo Campos também diz - e que eventual candidatura do partido à sucessão presidencial deve ocorrer somente em 2018. Segundo Cid, Campos é "jovem, precisa andar mais no Brasil".

"O que eu defendo um projeto nacional em que a Dilma e o PT liderem com sua candidatura a reeleição com o apoio do PSB", disse. "Hoje o nome mais provável dentro do partido é o do Eduardo Campos. Que aconteça em 2018. Ninguém vai morrer por conta de quatro anos". O governador do Ceará foi além: "Acho que a gente pode esperar 2018 para termos um projeto nacional. Para mim, projeto pessoal está abaixo de projeto nacional".

No PSB a declaração do governador foi encarada como "fogo amigo" em relação a Campos. Em manifestações recentes, Cid afirmou que o irmão Ciro só pode ser candidato a presidente da República ou vice. Em virtude do parentesco, Ciro não pode sair candidato a governador. Os dois, Ciro e Cid, têm insinuado que os Ferreira Gomes podem deixar a política. Mas no PSB avalia-se que Ciro quer se credenciar à vice de Dilma, muito embora fontes credenciadas do Planalto digam que a presidente vai repetir a chapa com o PMDB, em 2014.

Ciro também tem conversado com outros partidos. O presidente do PDT lhe ofereceu a legenda para se candidatar a presidente. Os antecedentes de Ciro dão coerência ao raciocínio: ele trocou o PSDB pelo PPS para ser candidato em 1998, quando ficou em terceiro lugar, e 2002, quando terminou em quarto. Ciro saiu do PPS para o PSB com esse propósito, segundo a análise dos socialistas, mas já percebeu que não é páreo para Campos dentro do partido. O governador de Pernambuco não tem interesse em ser candidato a vice de Dilma.

No Palácio do Planalto e no PT existe a desconfiança de que Campos seja candidato já em 2014. Tanto que Dilma procura prestigiar a ala dos Ferreira Gomes, no PSB. Durante o lançamento do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, a presidente Dilma Rousseff reservou parte do seu discurso para homenagear o governador Cid Gomes pelas conquistas na área de educação no Ceará.

Além dos afagos de ontem, na campanha eleitoral a presidente não foi a Fortaleza, a pedido de Cid, fazer campanha para o candidato do PT, como fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma foi ao Amazonas apoiar a candidata do PCdoB, apesar da ampla vantagem de seu adversário, para afagar o partido, que nessas eleições manteve relação tensa com o PT e pode engrossar, no futuro, eventual aliança em torno de Campos.

No Planalto e no PT, a movimentação de Dilma é interpretada como um processo de "asfixia" de uma eventual candidatura Campos, em 2014.

Quando é perguntado, por amigos, sobre uma eventual candidatura em 2014, Campos se limita a sorrir. Os mais próximos dizem que ele próprio não sabe o que vai fazer dentro de dois anos. O Senado não lhe estimula. E a Presidência dependerá da conjuntura política na ocasião.

O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), disse que, por ele, não há mais ponto de estresse entre o PT e PSB. Cid afirmou que ficou magoado com a ida do ex-presidente Lula para apoiar o candidato do PT na cidade. Gomes disse que Lula poderia defender o candidato petista, mas não precisava criticar o candidato do PSB, que é um aliado do governo. "Nós que sempre estivemos do lado dele e isso me magoou. O Lula não foi correto conosco". (Colaboraram Edna Simão, Bruno Peres e Daniela Martins)