Título: Empresas dos EUA se ajustam a mais quatro anos de Obama
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2012, Empresas, p. B9

Agora que o longo processo para a escolha do presidente dos Estados Unidos ficou para trás, as empresas americanas começam a se preparar para o futuro.

O empresariado americano nunca esteve entre os que pediam "Mais quatro anos!" para a presidência de Barack Obama. Alguns acreditavam que o candidato republicano derrotado, Mitt Romney, procuraria impor uma regulamentação mais leve e mudanças no código tributário favoráveis aos negócios.

Com a vitória de Obama, os executivos dizem que esperam um abrandamento do impasse entre o Congresso e o presidente que caracterizou boa parte do seu primeiro mandato.

Eis um resumo do que pode ocorrer com estes vários setores essenciais durante o segundo mandato de Obama:

Energia

A perfuração de poços não vai diminuir, mas a indústria petrolífera prevê que a reeleição de Obama vai significar a continuação de normas ambientais mais estritas e custos mais elevados.

O presidente já expressou repetidas vezes seu apoio ao gás natural como alternativa ao carvão. Mas o governo também precisa levar em conta as preocupações de ambientalistas de que o fraturamento hidráulico - a técnica de perfuração que iniciou a expansão do setor de gás - pode contaminar os lençóis de água.

O presidente Obama também prometeu eliminar alguns incentivos fiscais do setor energético. As negociações para reduzir o déficit e evitar o abismo fiscal poderiam proporcionar uma abertura, mas conseguir que um aumento da carga tributária das empresas de energia seja aprovado por um Congresso politicamente dividido pode não ser fácil.

Os projetos de energia renovável, uma prioridade no primeiro mandato do presidente, provavelmente continuarão recebendo atenção, embora se considere altamente improvável que venham mais verbas de estímulo para a energia solar e baterias de carros elétricos, após investimentos com resultados polêmicos em fabricantes de equipamentos para esses tipos de energia.

- Tom Fowler

Agricultura

A reeleição de Obama provavelmente significa mais quatro anos de políticas benéficas ao agronegócio. Aqui se incluem o apoio ao etanol de milho e os acordos de livre comércio que ampliaram as exportações agrícolas america-nas. Em 2011, o Congresso aprovou um acordo comercial com a Coreia do Sul que deu mais acesso aos exportadores americanos de grãos e carne de porco, uma vitória significativa para o setor.

O governo Obama ajudou os agricultores apoiando normas que exigem que as refinarias misturem bilhões de litros de etanol na gasolina a cada ano. A lei tem sido uma benção para os produtores de milho, contribuindo para elevar o preço do cereal.

Alguns parlamentares americanos e empresas como a Smithfield Foods Inc., maior processador mundial de carne de porco, pediram uma mudança geral nessas normas, afirmando que elevam o custo da alimentação animal e de outros produtos alimentícios. Mas Obama pode ter saído da eleição ainda mais favorável aos produtores de milho.

"Iowa, Minnesota, Illinois... São Estados com grande produção de milho, e todos eles elegeram Obama," disse Bruce Babcock, economista da Universidade Estadual de Iowa.

-David Kesmodel e Bill Tomson

Indústria

Grandes empregadores como Honeywell International Co. e United Technologies Corp. esperam que haja um fim na incerteza que deixou os clientes relutando em investir mais capital em máquinas como geradores a gás, aparelhos médicos, equipamentos para aviação e compressores de ar condicionado.

"Creio que nos últimos seis meses todo mundo entrou na "gaiola" da incerteza", disse David Cote, diretor-presidente da Honeywell. "O que dizemos é: vamos ver o que acontece."

O cenário macroeconômico já começou a mostrar melhoras. O setor imobiliário dá sinais de vida, e o aumento dos custos de transporte e salários no exterior fez algumas empresas transferir sua produção na China de volta para os EUA. Até que a situação fiscal se resolva, os executivos industriais dizem que a recuperação econômica e a contratação não vão decolar tão cedo.

David Farr, diretor-presidente da Emerson Electric Co., que fabrica equipamentos elétricos para empresas, disse que um novo confronto iria piorar a confiança dos empresários, já frágil. "Estou muito preocupado com o quarto trimestre", disse ele.

- Kate Linebaugh e James R. Hagertyn

Tecnologia

Para as empresas de tecnologia, o primeiro mandato do presidente teve seus prós e contras. Elas conseguiram uma revisão do código de patentes, que concederá a patente ao "primeiro que pedir o registro", e não ao "primeiro a inventar" - uma abordagem que, segundo alguns, favorece os pequenos inventores.

As empresas de tecnologia conseguiram sufocar dois projetos, a Lei de Combate à Pirataria On-line e a Lei de Proteção à Propriedade Intelectual, que procuravam dar ao governo a capacidade de cortar verbas e acesso a sites considerados como viola-dores de direitos autorais. Mark Zuckerberg, diretor-presidente da Facebook Inc., Jimmy Wales, cofundador da Wikipedia, e MC Hammer, músico e agora investidor, estão entre os executivos de tecnologia que ajudaram a combater a legislação, conside-rando-a muito vaga e restritiva, e tiveram apoio da Casa Branca.

Mas eles também enfrentam mais disputas com os reguladores quanto às proteções on-line para as crianças. E passaram à ativa nos últimos anos, pressionando para mudar as regras fiscais que, segundo o setor, os estimulou a guardar bilhões de dólares em caixa em suas subsidiárias no exterior. Algumas empresas de tecnologia acreditam que têm chance de conseguir a aprovação das suas propostas de repatriação de dinheiro no exterior.

Empresas como a Google Inc. também vêm pressionando por mudanças na política de imigração, para permitir que os fundadores de novas firmas de tecnologia fiquem nos EUA e tragam mais profissionais com capacitação técnica necessários em áreas como a engenharia.

-Shira Ovide, Christopher S. Stewart e Shalini Ramachandran

Montadoras

É difícil citar um setor que se beneficiou mais sob o governo Obama do que a indústria automobilística, e pode muito bem acontecer o mesmo no seu segundo mandato.

O pacote de socorro de Obama à General Motors Co. e à Chrysler Group LLC salvou essas montadoras do colapso. Outras iniciativas do governo ajudaram a estabilizar os fornecedores de peças, firmaram a situação dos bancos e de outros credores que financiam concessionárias e consumidores e estimularam as vendas de automóveis com um programa federal que oferecia descontos na troca de carros velhos por novos. Isso ajudou o setor a suportar a recessão de 2008 e 2009.

A recuperação da indústria automobilística americana não foi apenas resultado da intervenção governamental. A Ford Motor Co. se recuperou basicamente por conta própria. Muitas montadoras, além da GM e da Chrysler, tomaram a difícil decisão de reduzir seu tamanho. Fatores externos também ajudaram. Em 2011 o terremoto e tsunami no Japão deram um duro golpe na Toyota Motor Corp. e na Honda Motor Co. O iene e o euro fortes agora tornam mais atraente fabricar carros nos EUA.

E nem todos os esforços do governo tiveram sucesso. Centenas de milhões de dólares em auxílio para fabricantes de carros elétricos e de baterias para estes não deram os resultados que o presidente esperava.

Mas o que ficou é uma indústria automobilística enxuta, lucrativa e em crescimento. Tanto as mon-tadoras americanas como muitas rivais estrangeiras estão investindo nas suas fábricas nos EUA, criando empregos e aumentando a produção. As perspectivas também são favoráveis. As montadoras estão a caminho de vender cerca de 14,5 milhões de carros e caminhonetes leves este ano, um salto de 14% ante 2011. No próximo ano as vendas devem passar dos 15 milhões. E com as vendas aumentando e os custos caindo, as montadoras estão registrando lucros recorde ou quase recorde na América do Norte.

Agora que a eleição acabou, um remanescente visível do resgate de Obama deve desaparecer em breve - a participação de 26% do Tesouro na GM. O governo Obama não quis vender essa participação com prejuízo antes da eleição. Agora ele não tem motivo para não atender aos pedidos da montadora de transformar essa participação em dinheiro.

- Neal E. Boudette, Kate Linebaugh e James R. Hagerty

Telecomunicações

O setor de telecomunicações, com sua fome de acordos, planeja agir com cautela nos próximos quatro anos. Isso não significa que vá abandonar as fusões e aquisições.

Um caso em questão: a Sprint Nextel Corp. provavelmente continuará estudando aquisições, agora que tem dinheiro da japonesa Softbank Corp., que concordou em adquirir a terceira maior operadora americana de telefonia móvel. Mas a Sprint já indicou que vai agir com mais cuidado sob um regime de regras comandado pelos democratas.

Em uma entrevista recente, o diretor-presidente da Sprint, Dan Hesse, disse que espera uma continuação das fusões na telefonia celular, argumentando que o setor precisa ter apenas três operadoras capazes de manter as suas redes e ainda experimentar novos serviços.

Mas segundo Randall Stephenson, diretor-presidente da AT&T, o abismo fiscal deve ser enfrentado. "Está sufocando o crescimento deste país neste momento", disse ele, falando na possibilidade de cortes de gastos e aumentos de impostos. "Isso precisa ser resolvido logo."

- Anton Troianovski

Defesa

A indústria da defesa se adaptou à atual pressão sobre os gastos e às novas prioridades militares definidas no orçamento governamental revisado para 2010, buscando cortar custos e conseguir vendas no exterior.

A United Technologies demitiu empregados nas suas fábricas Sikorsky e Pratt & Whitney, e a Boeing comunicou na quarta-feira que vai cortar 30% dos seus executivos nas divisões de defesa, espaço e segurança. Bob Stevens, diretor-presidente da Lockheed Martin, disse que os possíveis cortes de gastos federais podem obrigar a empresa a cortar 10 mil empregos.