Título: PC da China reafirma seu rígido controle sobre país
Autor: Anderlini , Jamil
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2012, Internacional, p. A17

O presidente que deixa o comando do Partido Comunista Chinês formulou uma visão profundamente conservadora do futuro do país mais populoso do mundo, ao insistir que o domínio do governo sobre a economia e o regime de partido único serão mantidos.

"Precisamos preservar a liderança do partido", afirmou Hu Jintao, que também atua como presidente do governo, a mais de 2,3 mil graduados funcionários aposentados e da ativa na abertura, ontem, do 18º Congresso Nacional, em Pequim.

"Devemos ampliar persistentemente a vitalidade do setor estatal da economia e sua capacidade de alavancar e influenciar a economia", disse ele.

O discurso de Hu se baseou num relatório quinquenal preparado por autoridades partidárias e tem o objetivo de dar o tom da ideologia do partido ao longo dos próximos cinco anos.

Hu será sucedido em breve como secretário-geral do partido por Xi Jinping, que assumirá a Presidência do país em março.

As demandas internas pela liberalização da rígida estrutura política e da hegemonia do Estado sobre a economia ganharam força nos últimos anos. Sinal disso é o fato de alguns altos assessores do partido terem advertido que a inação poderia levar a uma crise. O primeiro-ministro Wen Jiabao advertiu publicamente que a continuidade do crescimento e da vitalidade da economia chinesa depende da implementação de reformas políticas bem-sucedidas.

O Banco Mundial também aconselhou Pequim a restringir o poder do governo e das empresas estatais, desenvolvendo, ao mesmo tempo, um sistema jurídico mais sólido.

"Temos um número excessivo de empresas estatais que são muito ineficientes e um número excessivo de setores monopolistas", afirmou Mao Yushi, um influente economista liberal, antes de Hu pronunciar seu discurso. "Nos últimos dez anos não tivemos qualquer reforma econômica importante e muito poucas privatizações", acrescentou.

Alguns analistas manifestaram otimismo diante da possibilidade de Xi tomar providências rápidas para atender algumas dessas reivindicações. O discurso de Hu, no entanto, foi pontuado por referências ao marxismo-leninismo e ao "pensamento de Mao Tsé-tung", e sugeriu que o partido não tem intenção de abrandar seu controle sobre a política e a economia.

"Não devemos tomar o velho caminho que é fechado e rígido, nem devemos tomar a perversa trilha de mudar de bandeiras e de divisas", disse Hu, referindo-se a reformas políticas arrojadas.

Essa frase circulou amplamente, e foi esporadicamente ridicularizada, no Weibo, o microblog chinês semelhante ao Twitter. "Portanto, vamos marcar passo até morrer", escreveu um usuário do Weibo.

Na versão por escrito de seu relatório, Hu, comandante da equipe de liderança "de quarta geração" da China, instalada em 2002, enfatizou que o país "nunca copiará o sistema político ocidental". No entanto, o presidente deixou de lado essa frase durante seu pronunciamento aos delegados do partido.

Hu, além disso, fixou a nova meta econômica de duplicar, até 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) e a renda média da China de 2010. A renda média das populações urbana e rural foi, respectivamente, de US$ 6.120 e US$ 1.892 em 2010. Economistas disseram que o objetivo de Hu de produção econômica é facilmente alcançável, uma vez que implica um crescimento médio anual de 7%.

Boa parte do discurso do presidente se concentrou na necessidade de melhorar os serviços de bem-estar social, corrigir a distribuição de renda por meio da taxação e seguir "o sistema econômico básico, do qual a propriedade pública é a viga mestra".

Mesmo depois de décadas de reformas e do florescimento de um grande e dinâmico setor privado, o governo continua mantendo o controle das instâncias máximas da economia, entre as quais setores fundamentais, como energia, finanças, mídia e telecomunicações.