Título: Operação barra entrada da PDVSA na distribuição
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Empresas, p. B12

A compra da Ipiranga pela Petrobras foi aprovada com raro consenso pelo conselho de administração da estatal na sexta-feira, em reunião que teve a presença da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e os representantes dos minoritários: Jorge Gerdau Johannpeter (grupo Gerdau), Roger Agnelli (Vale do Rio Doce) e Fábio Barbosa (ABN Amro). A direção recebeu carta-branca para ratificar os detalhes negociados com Ultra e Braskem. A operação começa a desatar o nó da petroquímica no Sul do país e barra, por enquanto, a entrada da PDVSA na distribuição de combustíveis. A partir daí, as negociações se arrastaram durante o fim-de-semana. O limite para o fechamento do negócio era 18h de domingo. Se nada ficasse definido até esse horário, o negócio seria abortado.

Se o apetite da Petrobras surpreendeu o mercado de distribuição, o mesmo não aconteceu com as suas congêneres petroleiras. Para elas, o negócio é uma óbvia e bem sucedida operação que susta a iniciativa da PDVSA de vender combustíveis com os preços "patrióticos" de Hugo Chávez. Não interessava à Petrobras ter uma petroleira com o cacife da PDVSA fazendo guerra de preços aqui ou entrando com participação relevante na distribuição. No ano passado Chávez negociou a compra do grupo Ipiranga e não foi adiante por questões de preço. As famílias teriam pedido em torno de US$ 5 bilhões.

As negociações foram comandadas em São Paulo pelo diretor da área de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e pela presidente da BR Distribuidora, Maria das Graças Foster. Quando o conselho aprovou a negociação, três possibilidades estavam em aberto. Numa delas - a que prevaleceu - a Petrobras ficaria com uma participação minoritária de 25% na rede de postos Ipiranga, com o grupo Ultra ficando com a maior fatia. Essa opção não agradou a Petrobras porque a proposta inicial era de que ela pagaria 40%. Nessas condições, a estatal teria dito que compraria tudo sozinha e dividiria a petroquímica com a Brasken. Se essa possibilidade fosse adiante, o Ultra ficaria de fora.

A outra hipótese era que a Petrobras ficasse com a distribuidora, mas isso elevaria sua participação para quase 50%, o que traria problemas junto ao Cade. Em ambas, a Petrobras compraria o braço petroquímico do grupo Ipiranga, dividindo o controle com a Brasken.

No cálculo inicial para avaliação do preço, a refinaria Ipiranga, com capacidade de processar 12,5 mil barris/dia de petróleo, não teve qualquer valoração. Mas as cinco famílias deixaram claro que a venda só seria concretizada em bloco.