Título: Ex-donos da Ipiranga embolsam US$ 1 bilhão
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Empresas, p. B12

Na maior transação empresarial dos últimos tempos no Brasil, a Ultrapar não vai colocar um tostão em dinheiro na operação de compra dos ativos do grupo Ipiranga.

A compra feita por Ultra, Braskem e Petrobras, anunciada ontem, envolverá o pagamento de US$ 4 bilhões aos controladores e minoritários das empresas Ipiranga. O Ultra fará apenas um aumento de capital, emitindo 52,8 milhões de ações preferenciais para pagamentos dos minoritários. Em toda a operação, a estatal deve desembolsar US$ 1,3 bilhão a ser financiado com recursos próprios. A Braskem deve investir US$ 1,1 bilhão para completar a operação.

As ações a serem emitidas pelo Ultra, estimadas em US$ 1,6 bilhão, serão usadas para a troca dos papéis preferenciais detidos pelos minoritários da Ipiranga. "A operação de compra da Ipiranga não afeta nossa solidez de caixa", disse presidente da Ultrapar, Pedro Wongtschowski ao Valor. "Nossa dívida continuará sendo zero."

A complexa operação para a compra da Ipiranga, que faturou mais de R$ 31 bilhões em 2006, será dividida em diversas fases. Na primeira etapa, a Ultra, que funcionará como comissário da Petrobras e Braskem, fará um pagamento de cerca de US$ 1 bilhão às cinco famílias controladoras da Ipiranga - Ormazabal, Tellechea, Bastos, Mello e Gouvêa Vieira.

O dinheiro será desembolsado pelo trio de empresas praticamente em partes iguais. No entanto, a Ultra receberá sua parte de volta quando alienar os ativos petroquímicos da Ipiranga à Braskem e à Petrobras ao fim da operação e parte da distribuição de combustíveis no Norte, Nordeste e Centro-Oeste à estatal.

A segunda etapa prevê uma oferta pública da Ultra para os detentores de ações ordinárias da Ipiranga. Na fase seguinte, o grupo Ultra fará a incorporação das ações dos preferencialistas das três empresas da Ipiranga listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Refinaria Ipiranga, Companhia de Petróleo Ipiranga e Distribuidora de Petróleo Ipiranga), fazendo o tal aumento de capital. No saldo final, os acionistas do grupo Ultra diluirão sua participação numa empresa com um faturamento quase cinco vezes maior (ver reportagem na página ao lado).

A estrutura acionária piramidal do grupo Ipiranga permitia que as cinco famílias tivessem o controle de todas as empresas com uma fatia relativamente pequena do capital total. Essa estrutura é que permitiu que os compradores oferecessem um preço considerado tão agressivo aos antigos controladores, concentrando neles o valor econômico da transação, em detrimento dos minoritários. Os minoritários detentores de ONs da Ipiranga receberão 80% do valor pago aos controladores. Já os preferencialistas serão pagos com base numa avaliação pelo método de fluxo de caixa descontado, que resultou em um preço inferior. A operação já gerou questionamentos por parte dos investidores minoritários.

Para completar a operação, a Braskem e Petrobras farão uma oferta para o fechamento do capital da Copesul. Esta operação, que deve consumir cerca de R$ 1,4 bilhão, elevará a fatia da Braskem na central de matérias-primas do pólo petroquímico do Sul dos atuais 29,4% para cerca de 64%. A Petrobras, que hoje tem 15%, aumentará para 36%.

Por fim, o Ultra deve repassar à Braskem e à Petrobras os ativos petroquímicos e de distribuição da Ipiranga . As duas empresas ficarão com 60% e 40% do capital da Ipiranga Petroquímica (IPQ), respectivamente. A expectativa é que toda a operação seja concluída até o fim deste ano.

As famílias que controlavam a Ipiranga contrataram no ano passado o Pátria Banco de Negócios para fazer uma reorganização societária para simplificar a intrincada estrutura acionária do grupo. O objetivo era criar uma única grande companhia listada em bolsa.

No entanto, o processo foi atropelado pelo interesse do Ultra que iniciou as negociações sozinho. Numa etapa posterior, a Petrobras foi convidada a participar e, por último, uniu-se a elas a Braskem. "É notório o interesse da Braskem pelos ativos petroquímicos", disse Paulo Cunha, presidente do conselho de administração da Ultrapar.

A consultoria financeira Estáter, que vinha prestando serviços ao grupo Ipiranga, foi contratada pelo trio de compradores para assessorá-los na operação. "A teia societária da Ipiranga era muito complicada. Levaria dois anos para poder simplificá-la", disse Pércio de Souza, sócio da Estáter. (Colaborou Vanessa Adachi)