Título: Mandioca avança em terreno da cana e também aproveita a onda do etanol
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Agronegócios, p. B18

Dois novos investimentos em destilarias de álcool deverão engrossar os pesados aportes no setor setor sucroalcooleiro. Mas, desta vez, a cana-de-açúcar - principal matéria-prima para a produção do combustível no Brasil - cederá espaço para a mandioca, e os aportes em questão são bem mais modestos, da ordem de US$ 15 milhões em cada planta.

Uma das destilarias deverá ser construída em Nazaré da Mata, na Zona da Mata de Pernambuco. "Vamos construir a usina em parceria com um grupo de investidores japoneses", disse José Pedro da Silva Filho, empresário pernambucano, idealizador do projeto. Silva manteve em sigilo o nome do seu parceiro estratégico. Parte da produção será destinada para o mercado de combustíveis, e o restante às indústrias químicas e de bebidas.

O investimento na destilaria pernambucana será da ordem de US$ 15 milhões, em sua etapa final, para uma produção de 120 milhões de litros por ano. "Há cinco anos desenvolvi uma tecnologia própria para a produção de álcool de mandioca", afirmou Silva.

A segunda destilaria à base de mandioca será construída em Palmital, interior de São Paulo. "A produção de álcool de mandioca é barata desde que boa parte da matéria-prima seja própria", afirmou Antonio Donizetti Fadel, sócio-proprietário da Halotek Fadel, indústria produtora de amido. Fadel também é presidente-interino da Associação Brasileira dos Produtores de Amido da Mandioca (Abam).

Essa planta paulista também receberá aporte da ordem de US$ 15 milhões e deverá entrar em operação a partir de 2008. A tecnologia da nova planta foi adquirida da Tailândia, país que utiliza a mandioca para a produção de álcool

Conforme Fadel, a Tailândia produz 25 milhões de toneladas de mandioca, dos quais 50% são destinados à produção de alimentos e outra metade para o álcool.

No Brasil, a produção está estimada em 27 milhões de toneladas. Deste total, entre 40% e 45% são voltados para a produção de farinha, outros 10% para amido, 30% para alimento de mesa e o restante para ração animal.

No país, há apenas duas destilarias de álcool à base de mandioca, criadas na década 70, quando o governo decidiu diversificar a produção de álcool, segundo Jonas Arantes Vieira, da consultoria Mendes e Vieira, e um dos sócios destilaria Agroindustrial Tarumã, na cidade paulista de mesmo nome, que produz álcool da mandioca. "Mas a produção dessas destilarias é muito pequena." Ele estima que a produção nacional esteja em torno de 15 milhões de litros. Na falta da mandioca, a destilaria de Tarumã processa álcool de milho.

No país, uma tonelada de mandioca produz 180 litros de álcool. A mesma tonelada da cana produz cerca de 90 litros. Mas a produtividade nos canaviais é bem maior, cerca de 85 toneladas por hectare. No mesmo hectare, a produção média é de 45 toneladas de mandioca.