Título: Indústria perde ritmo e Mantega defende "estímulos"
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Brasil, p. A3

Dos novos dados do PIB de 2006, que teve crescimento de 3,7%, dois indicadores preocuparam o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele chamou a atenção, em entrevista ontem para comentar a revisão do PIB com base na nova metodologia do IBGE, para o baixo crescimento apresentado pela indústria de transformação, de 1,6%; e para a queda no ritmo de crescimento das exportações de bens e serviços. A indústria de transformação, avalia o ministro, precisa de estímulos e entre os incentivos que estão sendo analisados, está a desoneração tributária que, segundo ele, é algo factível. O crescimento do setor foi recalculado de 1,9% para apenas 1,6%.

"As commodities vão bem, mas temos de nos preocupar com a indústria da transformação. Esse é um setor crucial para o crescimento da economia", comentou. O aumento das exportações de bens e serviços, segundo o IBGE, foi de apenas 4,6% em 2006. O ministro admitiu que a sobrevalorização da taxa de câmbio está prejudicando as exportações em geral. Mantega, para este ano, estima crescimento econômico de 4,5%

Hoje o governo decidirá qual a nova meta de superávit primário do setor público para este ano, face à revisão do PIB de 2006, que teve crescimento de 3,7% e não 2,9% como divulgado anteriormente. Ele indicou que a meta fiscal vai se situar num percentual entre 3,88% e 4,25% do PIB, que era a meta original. O resultado de 3,88% do PIB corresponde aos R$ 91 bilhões de esforço fiscal que União Estados e municípios têm de realizar este ano e é , também, o resultado revisto do superávit primário de 2006. Este ficou, portanto, abaixo da meta que era de 4,25%.

Segundo o ministro, o Projeto Piloto de Investimentos (PPI) deve ter sua participação no PIB reduzida de 0,5% para 0,45%, mantendo, porém, o valor absoluto de R$ 11,3 bilhões para esses investimentos, que não são considerados no cálculo do superávit primário.

Apesar de o crescimento do PIB no ano passado ter sido bem melhor do que imaginado, a arrecadação de impostos não deve aumentar, ponderou o ministro. Por essa razão, para manter a meta fiscal de 4,25% do PIB o governo teria de fazer mais cortes na execução orçamentária. "Não estão sobrando recursos", afirmou.

Outro ponto comemorado por Mantega foi a queda na relação entre dívida e PIB, para 44,9%. Como esse é o principal indicador de solvência do setor público, Mantega está numa situação bem mais confortável para executar as metas fiscais. Com os novos números do IBGE, a relação dívida/PIB prevista na divulgação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que chegaria a 39,7% do PIB em 2010, agora poderá cair para 35%.

O déficit nominal também caiu de 3,3% do PIB para 3%. Como lembrou o ministro, o Brasil estaria apto a aderir ao Tratado de Maastricht, que estabeleceu as condições macroeconômicas aos países integrantes da União Européia. Para este ano, Mantega previu crescimento de 4,5% do PIB, algo muito próximo dos 4,1% projetados pelo Banco Central no relatório de Inflação divulgado ontem.