Título: Serviços e consumo fazem PIB de 2006 crescer 3,7%
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Brasil, p. A3

O produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,7% no ano passado, de acordo com os novos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado supera em 0,8 ponto percentual o cálculo feito pela fórmula antiga, quando a alta ficou em 2,9% . O crescimento mais robusto registrado pela nova metodologia do país foi impulsionado pelo setor de serviços. O IBGE modificou a fórmula de cálculo de vários setores e incorporou às Contas Nacionais novos dados produzidos por ele mesmo e por outras fontes, tendo 2000 como ponto de partida.

Nos novos números de 2006, a industria, que já estava com peso menor por conta do aperfeiçoamento do cálculo dos serviços, foi o único segmento (pela ótica da oferta) a encolher na revisão divulgada ontem, passando de um crescimento de 3% para 2,8%. Os dados mostraram também que os dois últimos trimestres do ano passado foram de crescimento elevado, respectivamente, 4,5% e 4,8% sobre o mesmo período de 2005.

O valor do PIB alcançou R$ 2,323 trilhões, fazendo com que o PIB per capita somasse R$ 12.437, com crescimento real de 2,3% em relação ao ano anterior. Como a Formação Bruta e Capital Fixo (FBCF), que sintetiza o valor dos investimentos, foi de R$ 390,134 bilhões, a taxa de investimentos do país ficou em 16,8%, contra 16,3% no ano anterior, já pela nova fórmula de cálculo, bem abaixo dos 19,9% calculados pela fórmula antiga.

Mesmo representando uma parcela menor do PIB, o volume de investimentos em 2006 cresceu 8,7%, e não os já elevados 6,3% anteriormente calculados, graças à mudança de peso e o melhor desempenho do setor de máquinas e equipamentos.

No novo PIB, os serviços cresceram 3,7%, e não 2,4%, e a agropecuária, 4,1% (contra 3,2% no cálculo antigo). Aliado a isso, o peso dos serviços, baseados nos números de 2005, passou de 54,1% para 64% dentro do PIB de 2006. Ao mesmo tempo, os pesos da indústria e da agropecuária caíram, respectivamente, de 37,9% e 8% para 30,3% e 5,6%. Este impulso obtido pelo setor de serviços está relacionado, principalmente, a mudanças feitas nos cálculos dos aluguéis, dos serviços da administração pública, dos serviços financeiros e do serviços de informação.

Nos aluguéis, que passaram a considerar a qualidade da moradia para imputação do valor que seria pago pelos proprietários de imóveis, a taxa de crescimento passou de 2,2% no cálculo antigo para 4,3% no novo. Na administração pública, as mudanças fizeram o crescimento passar de 2,1% para 3,1%. Nas instituições financeiras, onde novos dados permitiram medir adequadamente os ganhos com serviços bancários e com operações de crédito, o crescimento passou de 2,6% para 6,1%. E nos serviços de informações, ao qual foram adicionados vários itens novos, como cinema, rádio e TV, a taxa passou de 0,9% para 2,3%.

O IBGE mostrou ainda que, pela ótica da demanda, o consumo das famílias, cujo crescimento de 3,8% já era considerado elevado na fórmula antiga, na realidade, cresceu 4,3% na esteira do crédito e da renda. Embora inferior aos 4,7% de 2005, já na nova metodologia, foi o terceiro ano consecutivo de aumento do consumo das famílias. O consumo do governo cresceu 3,6%, e não os 2,1% da série anterior.

O avanço maior dos investimentos (de 6,3% para 8,7%) deveu-se ao crescimento de 12% das máquinas e equipamentos contra apenas 4,4% da construção civil. Aliado a isso, houve mudança substancial nas ponderações das duas variáveis. O peso da construção passou de 60% para 43% na FBCF e o das máquinas e equipamentos e outros (gado leiteiro, principalmente), de 40% para 57%.

"O desempenho da indústria foi o que mais chamou a atenção, pelo lado negativo. Os serviços estão sendo medidos melhor? Bom. Mas não podemos esquecer que os números estão associados a um desempenho pífio da indústria", disse Caio Prates, do Grupo de Conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para ele, embora favoreça os investimentos ao baratear as importações de máquinas e equipamentos, o movimento de apreciação cambial tem sido mais negativo do que positivo para a indústria. Prates sugere um acompanhamento cuidadoso para saber se os ganhos de produtividade gerados pelas importações de máquinas são suficientes para compensar a perda de competitividade de vários setores industriais por conta do câmbio apreciado. Ele alerta que em 2006 as exportações brasileiras em volume já cresceram abaixo da média mundial (3,3% contra cerca de 9%), fato que foi mascarado por uma melhoria de 12% nos preços.

Para Estêvão Kopschitz, do Grupo de Análise Conjuntural do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o novo PIB "mostra que o país vinha crescendo mais do que sabia, mas que, infelizmente, continuamos crescendo pouco e abaixo da média mundial".

A série que compara trimestre contra o trimestre anterior, descontados os efeitos sazonais, apresentou mudanças significativas e muito voláteis em todos os números do ano, com os quatro números passando, respectivamente, de 1,2%, 0,6%, 0,8% e 1,1% para 1,6%, -0,5%, 2,6% e 0,9%. Segundo Roberto Olinto, Coordenador de Contas Nacionais do IBGE, os números refletem as dificuldades para dessazonalizar uma série tão nova e tão modificada. Ele previu que os números divulgados serão "suavizados" nos próximos trimestre, à medida que a série ficar mais longa.

Sobre as alterações da série dessazonalizada do IBGE, o economista do Ipea observou que "talvez" elas sejam boas para que os analistas passem a dar menos ênfase a esses números e passem a trabalhar mais com outros, como o acumulado em quatro trimestres. Tanto Kopschitz como Prates destacaram os ganhos de produtividade da economia que permitiram ao país crescer mais com uma taxa de investimento menor.