Título: Chuvas não aliviam situação de reservatórios
Autor: Polito , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2012, Brasil, p. A2

Apesar da previsão de aumento do volume de chuvas para a próxima semana pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a situação dos reservatórios das hidrelétricas ainda é preocupante. Os depósitos das usinas do Sudeste - região que concentra a maior capacidade de acumulação do país - estão com nível de armazenamento de 34,6%, apenas 7,9% acima da curva de aversão ao risco (CAR), indicador que garante o atendimento pleno da demanda do país. Na mesma época de 2011, os reservatórios do Sudeste estavam com 58,3% de armazenamento e 41,2% acima da CAR.

O preço da energia de curto prazo para a próxima semana, de R$ 315,12 por megawatt-hora (MWh), caiu 30% em relação ao valor praticado nesta semana. Segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a causa foi a alta das chuvas nas regiões Sudeste e Nordeste, onde a situação é mais crítica.

O problema é que todas as usinas disponíveis, incluindo térmicas a óleo combustível e diesel, estão em operação. Segundo o ONS, na próxima semana está prevista uma geração termelétrica de 13.700 megawatts médios, sendo 3.900 MW médios para fins de segurança energética. Qualquer necessidade de geração adicional terá que vir das hidrelétricas, reduzindo ainda mais o estoque dos reservatórios.

A produção adicional de energia pelas termelétricas deve custar R$ 2,5 bilhões aos consumidores em 2012, contra R$ 1,46 bilhão no ano passado, de acordo com previsão da Associação dos Grandes Consumidores Energia (Abrace). Segundo o presidente da entidade, Paulo Pedrosa, o Encargo de Serviços de Sistema (ESS), que remunera a geração dessas usinas e é rateado por todos os brasileiros, totalizou R$ 1,8 bilhão até outubro. E a expectativa é que feche novembro em R$ 500 milhões. "Tudo vai depender do que vai acontecer com os reservatórios", alertou ele.

Pedrosa disse que o cenário ruim dos reservatórios, somado à decisão do governo de não incluir o mercado livre no processo de renovação das concessões, fará com que o custo para as indústrias no próximo ano neutralize os ganhos que elas teriam com a redução dos encargos no setor. A redução prevista para as indústrias devido à redução dos encargos seria de cerca de R$ 15/MWh para o Nordeste e de R$ 24/MWh para o Sudeste.

Em setembro, o ONS já havia identificado a necessidade de acionar as termelétricas, para fins de segurança, o que implicaria em uma despesa de R$ 1,4 bilhão, mas foi orientado pelo governo a não ligar essas usinas naquele momento, quando a presidente Dilma Rousseff anunciava o pacote de redução das tarifas de energia. "O ONS desobedeceu um procedimento computacional criado por ele próprio", disse uma fonte ao Valor.

Apesar do esforço do governo, já é sentida no setor uma elevação do custo da energia para 2013. Segundo o gerente de Risco e Inteligência de Mercado da comercializadora Ecom Energia, Carlos Caminada, os contratos de energia para o próximo ano estão sendo negociados a R$ 135/MWh, contra os R$ 100/MWh praticados neste ano.

"A capacidade de armazenamento dos reservatórios em relação ao consumo de energia continua caindo. E a tendência é utilizar mais térmicas no futuro", afirmou o especialista.

O presidente da Abrace também enxerga aumento de preços nos próximos anos. Segundo ele, 20% dos contratos de energia de médio prazo estão sendo substituídos no próximo ano e deverão sofrer impacto do aumento do custo da energia.