Título: Analistas projetam alta de 4% a 4,5% para PIB deste ano
Autor: Lamucci, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Brasil, p. A4

Os analistas ainda calibram suas previsões para o crescimento neste ano, mas as apostas numa expansão entre 4% e 4,5% ganharam força depois da revisão para cima da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2006. Além do impacto da mudança de metodologia de cálculo do PIB, também contribui para elevar as estimativas o fato de que o avanço da atividade econômica no segundo semestre do ano passado foi mais forte do que se imaginava. As cerca de 100 instituições ouvidas semanalmente pelo Banco Central (BC) esperam um crescimento de 3,5% em 2007.

O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, diz que os novos números do PIB de 2006 elevaram a "herança estatística" (o "carry over") para 2007 de 1,4 para 1,9 ponto percentual. Mesmo se o PIB não avançar nada em comparação com o nível registrado no fim do ano passado, a economia crescerá 1,9%, apenas pela questão estatística. "O crescimento do PIB deve ficar próximo de 4,5%", diz Borges, que projetava um avanço de 3,9% pela metodologia antiga. "Os números divulgados pelo IBGE mostraram que a atividade econômica está num patamar mais elevado do que se pensava", resume ele, apostando que, depois de crescer 8,7% em 2006, o investimento pode avançar algo como 12% neste ano.

O ex-diretor do Banco Central (BC) Alexandre Schwartsman, economista-chefe para a América Latina do ABN AMRO, também avalia que a "herança estatística" mais generosa contribui para crescimento mais forte neste ano. Ele diz que, para atingir um crescimento de 4% em 2007, é necessário que o PIB cresça a uma taxa média de 0,8% por trimestre na comparação com o trimestre imediatamente anterior, na série livre de influências sazonais. Não é uma tarefa das mais difíceis, levando em conta que a expansão trimestral média de 2006 foi de 1,2%.

Schwartsman ressalta que ainda trabalha nas contas para chegar a uma projeção definitiva para o PIB de 2007, mas considera possível que o número fique próximo de 4,5%. Sua previsão para o PIB "velho" era de 3,8%. Ele aposta que os efeitos defasados dos cortes de juros promovidos nos últimos meses vão impulsionar a atividade econômica, garantindo uma aceleração do PIB.

O economista Caio Prates, do Grupo de Conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o crescimento de 4,8% do PIB do quarto trimestre de 2006 em relação ao mesmo período do ano anterior é até mais importante do que o próprio número do PIB anual, por projetar uma tendência de crescimento maior da economia em 2007.

Segundo seus cálculos, graças ao "carry-over", se o mesmo crescimento do quarto trimestre do ano passado se repetir no fim deste ano, isto será suficiente para levar o PIB brasileiro a um crescimento de 4,7% em 2007, um ponto percentual maior do que o do ano passado. "Tudo indica que iremos ter um crescimento maior", diz Prates, enfatizando que as perspectivas de crescimento econômico para este ano, independentemente de efeito estatístico, "são bem mais favoráveis (do que no ano passado)".

A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada, também não definiu sua estimativa para 2007, mas acredita que deve elevar sua projeção de 3,4% para a casa de 4%. Marcela vê boas perspectivas para o consumo das famílias, num cenário marcado por queda de juros, aumento de renda e do emprego, expansão do crédito e confiança do consumidor em alta. O investimento também vai bem, estimulado pela demanda forte e pela estabilidade macroeconômica, acredita ela. Em resumo, o PIB deve ser puxado pela demanda doméstica.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, é outro que acredita num PIB acima de 4% - talvez 4,3% em 2007. Ele ressalta o aumento do peso do setor de serviços, que ganhou importância no PIB e passou a ser calculado de forma mais adequada. O bom desempenho do comércio e dos segmentos de administração pública e intermediação financeira, por exemplo, deve ajudar o setor de serviços a crescer próximo de 4% neste ano, acredita Vale. Em 2006, a expansão foi de 3,7%.

Com os novos números, o crescimento médio do PIB no governo Lula passou de 2,6% para 3,4%, mostram números do Credit Suisse. No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, a expansão ficou em 2,5% por ano, em leve queda em relação ao 2,6% anterior. No segundo mandato, a taxa permaneceu em 2,1%, mesmo depois das revisões.