Título: BC baixa projeção de inflação para 3,8%, mas mantém cautela
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Brasil, p. A9

A projeções oficiais de inflação do Banco Central melhoraram no primeiro trimestre, apesar do corte de 0,5 ponto percentual nos juros básicos ocorrido no período, informa relatório de inflação de março, divulgado ontem pelo diretor de Política Monetária, Mário Mesquita. Os números significam que, em tese, há espaço para relaxar ainda mais a política monetária. Mas a autoridade monetária renovou o discurso de cautela, lembrando que há riscos de a economia crescer acima da capacidade - inclusive devido a impulsos fiscais -, o que poderia provocar aceleração da inflação.

No documento, o BC projeta uma inflação de 3,8% para 2007 no seu chamado cenário de referência, que pressupõe os juros básicos estáveis nos atuais 12,75% ao ano e uma taxa de câmbio constante em R$ 2,10. O percentual é menor do que a meta fixada para o ano, de 4,5%, e significa uma ligeira melhora em relação aos 3,9% projetados no relatório de inflação de dezembro passado - embora naquele documento o BC trabalhasse com juros maiores, de 13,25%.

Essa projeção significa que, se o BC calibrasse sua política monetária somente com base na inflação de 2007, haveria espaço para corte nos juros. Mas, daqui por diante, as atenções do BC estarão cada vez mais voltadas para 2008, já que decisões de política monetária levam cerca de nove meses para atingir a inflação. Para 2008, as projeções melhoraram, mas não estão tão folgadas. No cenário de referência, o BC projeta 4,4%, abaixo da meta do ano (4,5%) e da projeção feita no relatório de dezembro (4,5%).

De qualquer forma, há algum espaço para acomodar cortes de juros, ainda que pequeno. Pesquisa do BC de expectativas de mercado mostra que os analistas econômicos projetam uma queda gradual da Selic, chegando ao percentual médio de 11,55% no último trimestre de 2007 e de 10,55% no ultimo trimestre de 2008.

O relatório de inflação do BC faz exercícios matemáticos e estatísticos que mostram como ficaria a inflação caso os juros e câmbio se comportassem da forma prevista pelos analistas - o chamado cenário de mercado. A conclusão é que, em 2007, a inflação ficaria em 4%. O percentual está abaixo da meta (4,5%) e de projeção semelhante feita pelo BC no relatório de inflação de dezembro (4,3%).

Os números significam que, em tese, haveria espaço para os juros caírem como o esperado pelo mercado, caso o BC olhasse apenas a inflação de 2007. O problema é a inflação de 2008, que foi projetada em 5% no cenário de mercado. O índice é mais baixo do que os 5,4% projetados no relatório de inflação de dezembro, mas permanece acima da meta, fixada em 4,5%.

O BC voltou a chamar a atenção para o fato de que, apesar do cenário básico ser benigno, existem alguns riscos que podem acelerar a inflação. Aumentaram as incertezas no cenário externo, ligadas à evolução da economia americana, assim como no interno, depois de vários cortes na taxa básica de juros e de novos impulsos fiscais.

"No cenário externo, persistem as dúvidas sobre a trajetória da política monetária e atividade econômica nos Estados Unidos e houve certa deterioração nas perspectivas para os preços do petróleo", diz o relatório. "Não se podem descartar novas elevações de taxas de juros nos Estados Unidos, ainda que a avaliação dominante nos mercados seja de que o ajuste da política monetária já teria se encerrado."

O relatório diz que, no cenário interno da economia, os cortes de juros feitos desde setembro de 2005 e a incerteza sobre como esses movimentos afetam a economia "implicam aumento da incerteza em relação à dinâmica futura da inflação". O BC também inclui entre os riscos os efeitos do aumento de gastos do governo sobre a economia. "A esses fatores devem ser acrescidos os efeitos da expansão dos gastos, das transferências governamentais e de outros impulsos fiscais ocorridos em 2006 e dos esperados para este ano", diz o relatório.

Segundo o BC, esses fatores demandam "que a política monetária seja conduzida com parcimônia". Na leitura dos analistas do mercado financeiro, os dados significam que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manterá o ritmo de redução de corte de juros de 0,25 ponto percentual nas próximas reuniões.