Título: Bush põe Doha na pauta de encontro com Lula
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Brasil, p. A11

O presidente americano, George Bush, afirmou ontem que irá discutir as "preocupações" do Brasil com o impasse nas negociações da Rodada Doha de liberalização do comércio mundial, no encontro que terá no sábado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Camp David, casa de campo que o presidente dos EUA mantém nos arredores de Washington.

"Vamos trabalhar duro para levar Doha a uma conclusão bem sucedida", afirmou Bush, num discurso para integrantes da Associação Nacional de Produtores de Gado. "O presidente do Brasil virá me ver e vamos conversar sobre como podemos trabalhar juntos para abrir mercados e, ao mesmo tempo, lidar com as preocupações deles com as nossas questões agrícolas", acrescentou o presidente americano.

A resistência dos EUA em reduzir os generosos subsídios agrícolas americanos é um dos fatores que levaram as negociações da Rodada Doha ao impasse em que se encontram desde meados do ano passado. Ministros de países como os Estados Unidos e o Brasil têm conversado freqüentemente sobre o assunto, mas as negociações não têm produzido avanços visíveis.

Lula chega amanhã à noite a Washington e verá Bush no sábado. Eles terão uma reunião de trabalho de menos de duas horas e depois um jantar. Lula embarcará de volta para o Brasil na noite de sábado. Este é o segundo encontro dos dois presidentes neste mês. Eles se reuniram no dia 9 em São Paulo, no início da recente viagem de Bush por cinco países da América Latina.

A Rodada Doha deverá ser um dos temas principais do encontro de sábado, como o próprio Lula adiantou no início da semana em seu programa semanal de rádio. O Brasil, disse Lula, vem conseguindo introduzir no cenário internacional o debate sobre a necessidade de se criar um comércio mundial mais justo. "Às vezes, as coisas demoram mais do que a gente gostaria, porque todo mundo quer levar vantagem. Eu acho que o Brasil está no ponto para fortalecer a sua união com a União Européia, com os Estados Unidos e ajudar na parceria entre UE e Mercosul", afirmou.

"Havendo uma boa sintonia entre o Brasil e os EUA nesse assunto, isso pode repercutir bem para outros participantes das negociações", afirmou ontem o embaixador do Brasil em Washington, Antonio Patriota.

Lula vai discutir o assunto com Bush num momento delicado, em que o presidente americano corre o risco de perder o controle sobre a política comercial americana por causa da oposição do Partido Democrata no Congresso. A autorização legislativa especial que Bush tem para negociar acordos comerciais vence no fim de junho e os democratas estão exigindo várias concessões para renová-la.

No discurso para os criadores de gado, Bush disse que será impossível concluir a Rodada Doha se ele não chegar a um acordo com os democratas. Ele pediu ajuda aos empresários para vencer as resistências do Congresso. "Haverá um debate vigoroso sobre comércio no Congresso, e agradeço a vocês por entrarem nessa discussão", afirmou Bush.

Bush e Lula também devem conversar sobre biocombustíveis em Camp David. Eles assinaram em São Paulo um acordo para promover a produção e o consumo de combustíveis alternativos como o etanol e agora os dois governos buscam maneiras de transformar as intenções delineadas no documento em medidas concretas. Funcionários dos dois governos começarão a discutir hoje em Washington os próximos passos da cooperação entre os dois países nessa área.

No sábado, os dois presidentes também pretendem anunciar a conclusão de um acordo que permitirá a troca de informações entre a Receita Federal e o fisco americano. O acordo foi assinado nesta semana, segundo Patriota, e é considerado um passo preliminar para a discussão de um acordo mais amplo, que impeça a dupla tributação de empresas que têm atividades nos dois países, antiga reivindicação da iniciativa privada.