Título: Pequenos, mas eficazes contra as ameaças virtuais
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Caderno Especial, p. F3

Quanto as empresas perdem em produtividade quando os usuários passam o tempo olhando as cenas amorosas de Daniela Ciccarelli e seu namorado nas praias da Espanha, pelo site You Tube? Ou, com as conversações sem limites através dos programas de mensagens instantâneas (instant messaging), tipo MSN, Yahool e Google? Difícil saber? Nem tanto, como mostra o interesse crescente pelos serviços gerenciados de segurança (MSS-Managed Security Services) no país. Trata-se de um nicho de negócios que vem sendo explorado com muita intensidade, atualmente, por pequenos fornecedores brasileiros e apresentado a clientes de grandes corporações, principalmente do setor financeiro e industrial, com o propósito de dotá-las, estrategicamente, de proteções contra as ameaças virtuais.

A Disec, por exemplo, uma pequena empresa criada no Rio de Janeiro, em abril de 2003, que no ano passado recebeu aporte de capital do grupo de investimento RioBravo, investiu R$ 3 milhões em equipamentos e software para ampliar seu foco em outsourcing e serviços gerenciados de segurança da informação. Hoje, conta com 30 clientes no seu portfolio, entre os quais o grupo Sadia e a Bradesco Seguros. "Além da oferta tradicional de vários tipos de proteção - antivírus, antispam, firewall etc. -, reforçamos o conceito de ´não perda´ nos projetos que implementamos nos nossos clientes. Não é um cálculo de simples retorno sobre o investimento, mas uma avaliação teórica do quanto a empresa não pode perder em produtividade com o acesso indiscriminado da rede por seus funcionários", explica Cláudio Wagner, CEO da Disec.

Para alguns fornecedores, como o caso da Disec, a oportunidade de atuar no nicho de segurança da informação é a própria razão de ser dessas empresas. São poucos ainda, no país, os provedores que operam somente com serviços especializados na área de segurança. Mas o interesse por esse mercado cresce à medida que aumentam os ataques, invasões e acessos descontrolados aos conteúdos da rede de computadores e da internet. A complexidade das redes associada aos ataques virtuais, segundo pesquisa da consultoria Frost & Sullivan, intensifica os gastos das corporações com ferramentas e serviços técnicos para garantir a integridade dos dados e de seus negócios. No ano passado, segundo a consultoria, os gastos das empresas brasileiras com serviços gerenciados de segurança atingiram perto de R$ 20 milhões - e devem continuar crescendo neste ano.

O modelo de negócios é baseado em contratos por nível de serviços. O cliente não faz qualquer investimento em dispositivos de proteção ou software, recebe vários tipos de proteção, que vão da filtragem de conteúdo, verificação de programas de mensagem instantânea até o gerenciamento de banda e das aplicações, inclusive criptografadas. Paga uma parcela mensal pela prestação dos serviços - se estiver efetivamente protegido - e recebe ainda relatórios de tudo o que vem sendo feito. "Do nosso centro de operações de segurança, acompanhamos nossos clientes 24 horas por conta das pragas virtuais e outros acessos indevidos que assolam o mundo web. Usamos produtos sofisticados de nossos parceiros, entre os quais Cisco, Airon, McAfee, Blue Cold, Symantec e Check Point", conta Wagner.

Com mais de 20 anos de existência, e uma das primeiras revendas brasileiras a distribuir produtos de informática no país, a Microcap System Solution tomou uma decisão radical, em 2001, quando a questão de segurança dos dados começou a preocupar mais seriamente as empresas brasileiras: desativou a venda de software, reduziu sua equipe de colaboradores, de 85 pessoas para apenas cinco, investiu R$ 300 mil em treinamento e capacitação de software, e se voltou com exclusividade para a oferta de serviços gerenciados de segurança. "São poucos players no mercado e a chance de crescer numa área de negócio em expansão é muito grande", comenta Paulo Araújo, presidente da Microcap.

O serviço oferecido pela empresa é baseado no pacote Total Protection, da americana McAfee, que inclui um console de gerenciamento centralizado por meio da web, controle de acesso à rede de computadores das empresas, antivírus para desktops e servidores de arquivos, prevenção de intrusões de PCs e proteção de email contra spam e vírus.

A Microcap criou um site especialmente voltado para a comercialização dos serviços gerenciados: os usuários baixam os software a partir de um servidor central da McAfee nos Estados Unidos. "O cliente paga uma parcela mensal de R$ 69 se instalar uma ou duas cópias, mas o custo cai para R$ 60 se adquirir mais de 50 cópias", explica.

Os benefícios dessa nova sistemática são comprovadamente maiores que as soluções tradicionais de compra pura e simples e caixinhas de software, segundo o executivo. "Em comparação a empresas que faziam o gerenciamento da área de segurança com recursos próprios, a prestação de serviços externos proporciona uma economia de até 80% dos custos", indica o presidente da Microcap. Além disso, ele assinala, trata-se de um sistema ágil, que permite gerenciar máquinas em diferentes localidades.

Um exemplo, segundo Araújo, é o projeto implantado na Aurora Alimentos, uma das maiores cooperativas do país, que opera no oeste catarinense, cuja principal dificuldade era gerenciar a atualização do antivírus em 530 estações de trabalho, espalhadas em várias fábricas.

"Com a instalação do McAfee Managed Virus Scan, os computadores da Aurora podem agora compartilhar atualizações, economizar banda de rede, tempo e gerenciamento, além de ocupar pouco espaço", diz o executivo.

Empresa de médio porte, com cerca de 200 funcionários, a InfoServer resolveu criar uma nova unidade, a MOB 1, para dar conta do aumento dos negócios na área de segurança e mobilidade, responsável hoje por 30% do seu faturamento total (R$ 26,5 milhões em 2006). "Segurança passou a ser uma necessidade fundamental para as empresas e estamos investindo forte nesse segmento", diz Abel Aarão, diretor técnico da InfoServer.

O foco são soluções para dupla autenticação de correntistas de instituições financeiras, através da Internet. "A idéia é explorar um novo canal de atendimento oferecido pelos bancos aos seus clientes, que é o uso do celular para transação bancária. Além de fornecer sistemas que garantem as transações, via o celular, oferecemos garantia de tudo será feito com a maior segurança possível", diz Aarão.