Título: Mais um procurador assume a Segurança paulista
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2012, Política, p. A12

Ao assumir o comando da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (SAP), em 1º de junho de 2006, Antônio Ferreira Pinto, então um procurador de Justiça com 27 anos de serviço no Ministério Público de São Paulo, ganhara uma missão ingrata: o Estado acabara de atravessar uma onda de ataques sem precedentes, coordenada pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Pelo menos 19 penitenciárias estavam destruídas. "Desenvolvemos um sistema de inteligência com os agentes penitenciários, que sabem o que se passa lá dentro. Desarticulamos a facção que, garanto, não tem mais condições de afrontar o Estado".

Ferreira Pinto, que deixou ontem o cargo de secretário de Segurança Pública (SSP) de São Paulo e será substituído por Fernando Grella Vieira, procurador-geral de Justiça de São Paulo até março desse ano, contava a história acima com orgulho, como o fez em entrevista ao Valor em abril de 2011. Sua estada no alto escalão da segurança paulista deveria durar seis meses, até o fim daquela gestão. Ficou quase sete anos.

Em 2007, o novo governador José Serra (PSDB) decidiu mantê-lo à frente da SAP. Em março de 2009, assumiu a Segurança Pública. E sobreviveu no posto a nova mudança de gestão, quando Geraldo Alckmin (PSDB) virou governador, em 2011.

Tinha na suposta desarticulação da facção criminosa seu maior trunfo, discurso por ele alardeado e corroborado até poucos dias atrás pelo governo do Estado. Chegou a dizer, ante os ataques que mataram até o momento mais de 90 policiais, que o PCC era glamourizado por setores da imprensa, mas que a facção não somava mais que 40 indivíduos, todos presos.

Segundo integrantes do governo Alckmin, a saída de Ferreira Pinto deu-se também por conta da recente crise na segurança do Estado, que registrou um aumento no número de homicídios e mortes de policiais, mas não só por isso. É principalmente fruto da percepção de que o secretário "perdeu a vitalidade" no cargo.

Durante sua gestão, Ferreira Pinto acumulou desavenças com a Polícia Civil, sob a qual não teria mais controle, dizem interlocutores do governo. Antes de ingressar no Ministério Público, o secretário foi policial militar por 11 anos. "Ele sucateou a Civil. Tirou sua autonomia ao transferir a corregedoria para seu gabinete, não investiu nos delegados, tirou parte de suas atribuições", afirma Marilda Pansonato, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP).

Apesar da indicação nos bastidores do governo de que as chefias das polícias militar e civil também serão alteradas, a indicação de Grella não é uma mudança radical de rota na segurança paulista. Ele e Ferreira Pinto fizeram parte do mesmo grupo político no Ministério Público. Grella evitou dar maiores detalhes de mudanças que pode empreender em sua gestão, mas afirmou que haverá um "aprimoramento" no plano de combate à violência no Estado. "O plano de segurança está em andamento, mas deve ter alterações em novas versões. Eu assumi um compromisso em relação ao colega [Ferreira Pinto] e só falarei de detalhes do que pretendo fazer após a posse".

"Para os policiais na ponta da linha, essa mudança nada diz. É outro operador do direito. Desejo sorte, mas é preciso alguém que conheça o submundo das polícias para contornar a situação. Hoje civis e militares não se falam", alega o deputado estadual Major Olímpio Gomes (PDT), ligado à classe. Já o ex-comandante da PM Coronel Telhada, recém-eleito pelo PSDB vereador de São Paulo, lamentou a troca. "O Ferreira Pinto é um ícone no combate ao crime. Tomara que eu esteja errado, mas sem ele acho que a situação fica pior".

Alckmin fez o anúncio oficial da saída de Ferreira Pinto, a quem classificou como um "bom" secretário. Sobre Grella, afirmou: "É uma pessoa com grande experiência, quase 30 anos como promotor e está preparado para a gente poder dar mais um avanço, para São Paulo continuar sendo um dos Estados mais seguros do Brasil". No mesmo dia, uma tentativa de fuga em massa ocorreu em uma unidade da Fundação Casa de Franco da Rocha, na Grande São Paulo. O tumulto durou aproximadamente quatro horas. (Com agências noticiosas)