Título: DEM coloca Rodrigo Maia no comando
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Política, p. A14

Os convencionais eram os de sempre, mas o broche na lapela de cada um deles e os grandes cartazes com o novo nome não deixavam dúvida: o PFL foi substituído pelo "Democratas". Lutando para renovar a imagem e o discurso, o partido pretende crescer, ganhar mais capilaridade social e conquistar um eleitorado maior. O DEM nasceu para tentar resgatar o que o PFL perdeu: a perspectiva de chegar ao poder.

Convenção nacional realizada em Brasília aprovou a mudança de nome e elegeu, por aclamação, executiva provisória encabeçada pelo deputado Rodrigo Maia (RJ), 36, ex-líder da então bancada pefelista na Câmara e filho do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia. Usando gravata azul - cor do novo layout do partido -, o deputado recebeu a presidência do ex-senador Jorge Bornhausen (SC), 69, idealizador da "refundação" da legenda que presidiu por 16 anos. Bornhausen será presidente da Fundação Liberdade e Cidadania, braço ideológico do DEM.

O desafio dos democratas será convencer o eleitor de que a mudança não se limita à embalagem e atinge o conteúdo. Para isso, buscam repaginar também o discurso, historicamente conservador nas questões sociais e marcado pela defesa da economia de mercado. Às teses econômicas, foram acrescentadas duas plataformas modernas: a questão ambiental e os direitos humanos. Como principais bandeiras, escolheram as seguintes áreas: saúde, educação, segurança pública, emprego e moradia.

Com o DEM, os ex-pefelistas ensaiam um afastamento do PSDB. O objetivo é lançar o maior número de candidatos próprios a prefeito, em 2008, e disputar a Presidência da República em 2010. Por enquanto, os citados como presidenciáveis em potencial são o prefeito César Maia, o governador José Roberto Arruda (DF), a senadora Kátia Abreu (TO), o senador José Agripino (RN) - líder da bancada do Senado - e o deputado José Carlos Aleluia (BA).

"O problema do partido não são nomes. É a base. Tendo uma base estruturada, há pessoas qualificadas. Sem base, não adianta ter nome", afirmou Rodrigo Maia.

Antes de 2010, o DEM enfrentará o desafio das eleições municipais de 2008. O partido pretende apresentar candidatos no maior número de municípios. Essa também é a meta do PSDB, segundo o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), que prestigiou a convenção dos democratas.

Mantidas as posições atuais, a aliança estratégica de DEM e PSDB será posta em xeque na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Os democratas não abrem mão de lançar o atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM) - presidente do Conselho Político da legenda, criado ontem - à reeleição. Já o presidente do PSDB lançou o ex-governador Geraldo Alckmin. "A candidatura de Alckmin à prefeitura é um caminho quase natural", disse. Ele admitiu que Alckmin pode disputar sem apoio do DEM. "Seria importante aliança com os democratas, mas isso depende das bases partidárias", afirmou.

O PFL apoiou o governo Fernando Henrique Cardoso - cujo vice-presidente foi o senador Marco Maciel (DEM-PE) - e compôs a chapa de Alckmin na disputa pela Presidência da República em 2006. Os dois partidos têm uma aliança estratégica no Congresso, na oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Nas últimas eleições, o ex-PFL perdeu espaço no Nordeste, região onde tinha forte presença política. Hoje, tem apenas um governador (Arruda, do DF), e ocupa as prefeituras do Rio e de São Paulo - sendo que, nesta última, Kassab substituiu o tucano José Serra, eleito governador.

O PFL foi fundado há 22 anos por dissidentes do extinto PDS, que queriam votar em Tancredo Neves para presidente, no Colégio Eleitoral. O partido foi governista desde a gestão de José Sarney (1985-99) até a de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).