Título: Controle sobre secretarias da Previdência levou à mudança do PDT para o Trabalho
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Política, p. A16

O ministro Luiz Marinho (PT), do Trabalho, foi transferido para o Ministério da Previdência, na noite de terça-feira, porque o governo não quis entregar a Pasta para o PDT, como estava previsto. Segundo fontes do PDT, quando o presidente da legenda, Carlos Lupi, chegou ao Planalto para conversar com Lula, este insinuou que "seria muito difícil para o partido indicar os cargos de segundo escalão na Pasta. E que, dentro desse cenário, talvez fosse melhor para o PDT assumir o Ministério do Trabalho", disse um interlocutor da legenda. O presidente se referia, segundo os parlamentares entenderam na seqüência das conversas, que o problema estava na Secretaria de Previdência Complementar, a que estão ligados os poderosos fundos de pensão.

O Ministério do Trabalho também era uma alternativa atraente para o PDT, que aceitou a troca. Setores do partido defendiam as bandeiras trabalhistas históricas. Por isso, a oferta não soou tão mal para Lupi, que, assim que deixou o Planalto, procurou aliados da legenda e propôs uma reunião com o atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Marinho já havia demonstrado, no início da manhã de terça-feira, desejo de encontrar-se com Lupi. O presidente do partido e o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, foram ao ministério por volta das 20h de ontem.

No encontro, que durou cerca de meia hora, pedetistas afirmaram que Marinho teria dito "estar recebendo pressões para assumir a Previdência, ao invés de permanecer no Ministério do Trabalho". Um assessor do ministério confirmou que "Marinho é leal a Lula e ao partido e que aceitará toda e qualquer demanda feita pelo presidente". Marinho teria então, segundo fontes do PDT ouvidas pelo Valor, concordado em ceder a Pasta ao PDT, desde que pudesse manter alguns nomes de sua confiança no Trabalho. Em troca, abriria a possibilidade para que o PDT indicasse alguns nomes para a Previdência.

Essa indicação, contudo, não poderia ser em determinados postos. Quando Lula disse a Lupi que o PDT teria dificuldade em indicar cargos dos escalões inferiores do ministério, o partido identificou que o foco da resistência estava a Secretaria de Previdência Complementar. Durante a administração dos três primeiros ministros que passaram pela Previdência - Ricardo Berzoini (PT-SP), Amir Lando (PMDB-RO) e Romero Jucá (PMDB-RR) - o cargo foi ocupado por Adacir Reis, que chegou ao ministério pelas mãos de Berzoini, um nome da confiança do PT.

Os pemedebistas, sobretudo Lando, lutaram para emplacar nomeações políticas na vaga. Mas, Reis resistiu e só deixou a secretaria durante a gestão de Nelson Machado, assim mesmo por desejo próprio. Hoje, o secretário de Previdência Complementar é Leonardo André Paixão.

Fechado o acordo no Ministério do Trabalho, Marinho seguiu, então, para o Planalto. Já passava das 21h e o futuro ministro da Previdência - que toma posse hoje - comunicou a Lula, em um encontro que durou mais de uma hora, que o acordo com o PDT estava sacramentado.

Para petistas ligados ao movimento sindical, a anuência de Marinho pode diminuir a resistência do setor sindical, embora na manhã de ontem diversos representantes de centrais sindicais tenham ligado para o Ministério do Trabalho defendendo a permanência de Marinho. No fim da tarde de ontem, também, representantes da CUT e de outras centrais sindicais foram ao Planalto protestar, em audiência com o presidente Lula, contra a saída de Marinho da Pasta do Trabalho.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia manifestado ao presidente Lula sua preocupação com o destino das reformas na Previdência Social, ficando esta nas mãos do PDT. Segundo assessores de Mantega, em conversa com Marinho, na terça-feira, ele também insistiu para que este aceitasse a troca argumentando que, do ponto de vista da gestão pública, Previdência Social é mais relevante que a Pasta do Trabalho.