Título: PSDB tenta expor vínculo de Lula com ex-chefe de gabinete
Autor: Martins , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2012, Política, p. A10

O PSDB quer expor a ligação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Rosemary Novoa de Noronha, ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, indiciada pela Polícia Federal (PF) por suspeita de envolvimento com uma quadrilha que traficava pareceres técnicos. O vice-líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), disse que o partido pedirá hoje a ida do ex-presidente à Casa para dar explicações sobre sua relação com Rose.

De acordo com o jornal "Metro", do grupo Bandeirantes, a PF teria registrado, com autorização judicial, 122 ligações entre Lula e Rose, entre março de 2011 e outubro deste ano. A ex-chefe de escritório de representação presidencial em São Paulo é alvo da Operação Porto Seguro, deflagrada pela PF na sexta-feira.

"O que motivou 122 ligações do ex-presidente para a [ex] secretária da Presidência da República em São Paulo?", disse Sampaio. "A Câmara tem o direito de saber". O tucano afirmou que, segundo a investigação da PF, era Rose quem "fazia as reuniões, o agendamento e o pagamento de propina".

Rose foi indicada para o cargo por Lula, que articulou sua permanência no governo de Dilma Rousseff.

O vice-líder do PSDB na Câmara disse que Lula deve explicar a indicação do diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira - apontado pelas investigações da PF como suposto chefe do esquema de corrupção.

Sampaio afirmou que o partido prepara também documento um requerimento pedindo a presença do ministro da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams. O parlamentar afirmou que o AGU bancou a escolha do então "número dois" na hierarquia da Advocacia-Geral, José Weber Holanda Alves, mesmo após a rejeição da Casa Civil da Presidência da República. Weber foi um dos indiciados na Operação Porto Seguro. "A AGU deve satisfações à Câmara. Indicou alguém que foi rejeitado pela Casa Civil, ele insistiu na nomeação de alguém que agora está envolvido no esquema de corrupção", disse.

"Os últimos fatos são graves, trazem o envolvimento indireto de altas figuras do Poder Executivo, envolve também de forma indireta o ex-presidente Lula e explicações precisam ser dadas na Câmara. Cabe à Câmara, além de legislar, fiscalizar os atos do Executivo", afirmou.

A liderança do PSDB na Câmara disse que também haverá requerimentos para convite de Rose na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso. Na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle serão apresentados requerimentos de convites para Rubens Carlos Vieira e Paulo Vieira, afastados das diretorias da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da ANA, respectivamente, e para José Weber Holanda. Na Comissão de Defesa do Consumidor serão convidados, além dos diretores afastados, o diretor-presidente da Anac, Marcelo Pacheco dos Guaranys, e da ANA, Vicente Andreu Guillo.

O comando do PT acompanha de perto os desdobramentos da operação da PF que derrubou Rose, com receio de que as denúncias respinguem em Lula. O clima entre petistas próximos ao ex-presidente é de intensa apreensão.

A ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo mostrou-se influente no governo Lula, ao acompanhar Lula em pelo menos 17 viagens internacionais e ao emplacar diretores em agências reguladoras e o marido em uma assessoria especial da Infraero. Rose conseguiu até mesmo nomear sua filha Mirelle Nóvoa de Noronha na Anac - que pediu ontem sua exoneração da agência.

A nomeação de Paulo Rodrigues Vieira para uma diretoria na ANA foi um exemplo da influência que Rose teve na gestão Lula. Bancado pela ex-chefe do gabinete presidencial, Vieira só foi aprovado depois de três votações no Senado. A primeira votação terminou em empate e na segunda foi vetado pelos senadores, sob a alegação de que não teria a formação técnica necessária era inábil politicamente e não tinha aval do então secretário de Meio Ambiente Carlos Minc. Lula insistiu na nomeação de Vieira e na terceira tentativa o nome foi aprovado, depois de intensa articulação com o PMDB, PR e PTB.

Rose e Lula se conheceram nos anos 90, quando ela assessorava o então presidente nacional do PT José Dirceu - com quem trabalhou por 12 anos. Foi para o governo petista no início da gestão, em fevereiro de 2003, como assessora especial do gabinete regional e passou a chefiar a unidade em 2005.