Título: Economia acelera ritmo no primeiro trimestre
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Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Opinião, p. A22

Depois da derrapada de meados de 2006, a economia brasileira retomou o fôlego e seu crescimento poderá surpreender. Os métodos de cálculo do Produto Interno Bruto mudaram no meio do caminho, mas até agora as projeções de mercado indicam que a expansão para 2007 ficará na casa dos 4%, não muito acima disso. O Banco Central reviu ontem sua estimativa, de 3,7% para 4,1% sem levar em conta a revisão do IBGE e, em seu relatório de inflação, indicou que há uma conjunção de fatores tão favoráveis que sua expectativa pode se revelar conservadora. O IBGE, por seu lado, divulgou que, pela nova metodologia, o PIB do ano passado foi de 3,7%, enquanto pela velha havia sido de 2,9%.

O primeiro trimestre do ano começou com a produção acelerada. Os estoques de produtos finais e bens intermediários das empresas entraram em 2007 ajustados, de forma que o espaço para a ampliação das atividades foi preenchido pela continuidade de um crescimento vigoroso do varejo, na casa dos 6%. O nível de utilização da capacidade ociosa da indústria, que recuara em novembro, subiu para 81,9% em dezembro, para 83,4% em janeiro e para 84% em fevereiro. A tendência de aumento da produção prosseguiu em março, como mostrou o Valor em sua edição de ontem. Pesquisa do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) apontou que o número de empresas que esperava aumento das atividades no mês subiu para 42%, ante 26% no ano anterior.

Como resultado, as contratações na indústria deram um salto e aumentaram 62,7% no primeiro bimestre em relação ao mesmo período de 2006, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), com a criação de 69,9 mil vagas líquidas. Isso indica que a massa salarial continuará crescendo em ritmo significativo. Em 2006 ela subiu 6,7% e mostrava aceleração no último trimestre do ano, com avanço de 8,1%. O rendimento real médio do trabalho mostra evolução igualmente encorajadora. Encerrou o ano em 4,7% (deflacionado pelo INPC) e no último trimestre encerrado em janeiro, de acordo com o relatório de inflação do BC, cresceu 7,8% ante idêntico período do ano anterior.

Emprego e renda em alta impulsionam um vigoroso consumo doméstico, que tem seu fôlego reforçado pela expansão do crédito, que não arrefeceu e avançou 20% em termos reais no ano passado. A concessão de empréstimos permaneceu firme no primeiro bimestre. Nos doze meses encerrados em fevereiro, o crédito para empresas cresceu 22,2%, ante 16,5% no mesmo período de 2006. Para as pessoas físicas, a taxa de expansão caiu de 35,9% para 24,6%, mas continua alta. O destaque é a disparada do crédito habitacional, que incentiva forte expansão da construção civil nos últimos meses.

A economia está se acelerando com a inflação contida. As previsões para o ano estão abaixo de 4% e para 2008 o mercado projete inflação ao ritmo anual de 5% no último trimestre do ano. Esse dado está na mira do BC e dá-lhe um argumento para diminuir os juros vagarosamente - daqui a pouco, o BC estará calibrando a dose com vistas à inflação do ano que vem. Mas os números analisados pelo BC permitem otimismo.

O dado mais encorajador, tanto para as atividades econômicas em geral quanto para o comportamento da inflação em particular, é que a produção de bens de capital cresce bem acima do nível da indústria há quatro anos consecutivos. Em 2006, avançou 5,7%, ante 2,8% da indústria. Tudo indica que em 2007 não será diferente. A produção de bens de capital para fins industriais foi 16,6% maior no trimestre encerrado em janeiro do que no mesmo período anterior. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) mostrou aceleração no último trimestre de 2006 e atingiu 6,9%.

Os investimentos estão criando capacidade adicional de produção, o que é uma barreira eficaz a pressões de preços pelo lado da oferta. Repiques inflacionários podem ser mais difíceis também porque, como aponta o relatório do BC, há "um crescimento expressivo da FBCF em comparação com o desempenho do consumo das famílias, sinalizando que o ritmo de crescimento da economia deve ser maior nos próximos trimestres". Não há até agora nada no horizonte que possa impedir a concretização desse cenário otimista.