Título: Desemprego baixo pressiona custos, mas amplia consumo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2012, Opinião, p. A16

Apesar das avaliações recorrentes de que o nível de emprego está muito elevado e chegou ao limite, o índice de desocupação continua caindo. A taxa de desemprego recuou de 5,4% em setembro para 5,3% em outubro, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que cobre seis regiões metropolitanas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a mais baixa taxa para o mês desde o início da série histórica em 2002.

O desemprego vem caindo ao longo do ano todo, apesar da desaceleração da economia. A criação de vagas tem crescido a um ritmo superior ao do aumento da População em Idade Ativa (PIA), parcela da população total em idade de trabalhar, e também da População Economicamente Ativa (PEA), pessoas que estão no mercado de trabalho ou em busca de ocupação.

A redução da taxa da natalidade é uma das causas da diminuição da expansão da PIA e da PEA, assim como o aumento dos anos de estudo. Como essas são duas tendências que vieram para ficar, o mercado de trabalho deve continuar aquecido. Não é por outro motivo que a relação entre a população economicamente ativa e a população em idade ativa aumentou de 57,6% em setembro para 58,1% em outubro, a maior taxa desde o índice de setembro de 2003, quando foi de 58,2%.

A pesquisa do IBGE apurou que a construção civil liderou a criação de empregos em outubro, com aumento de 4,5% sobre setembro. Em seguida vieram os setores de educação, saúde e administração pública, com aumento de 1,9%; serviços, com 0,9%; e indústria, que inclui atividades de transformação, extrativa e distribuição de eletricidade, gás e água, com 0,5%.

Chamou a atenção a queda expressiva do desemprego na zona metropolitana de São Paulo, de 6,5% em setembro para 5,9% em outubro, movimento que teve influência decisiva na redução do índice geral de desemprego porque a região tem 40% de peso na PME. A queda foi atribuída à procura de trabalho temporário, característico dessa época do ano. Como São Paulo costuma antecipar o que vai acontecer em outras partes do país, acredita-se que o desemprego continuará caindo.

Além disso, a expectativa é que a recuperação da economia esperada para este fim de ano deve pressionar o mercado de trabalho, elevando os custos de produção. Neste ano até outubro, o rendimento real habitual dos trabalhadores subiu 8,3%, segundo o IBGE.

Mas essa previsão levou um banho de água fria dos dados de criação de empregos formais (com carteira assinada) registrados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O levantamento do Caged mostrou uma queda de 55,4% na criação de empregos em outubro em comparação com setembro e de 46,9% frente a igual mês de 2011. Foi a segunda maior baixa do ano. Nos 12 meses terminados em outubro, foram criados 953,6 mil postos de trabalho em comparação com 1,7 milhão em igual período de 2011.

O resultado desapontador levou o ministério a reduzir para 1,4 milhão a expectativa de criação de postos de trabalho para o ano, previsão que anteriormente era de 1,5 milhão a 1,7 milhão de novos empregos. Incluindo as vagas criadas no serviço público, o total pode chegar a 1,6 milhão.

Em outubro, a economia brasileira gerou 66,98 mil novos postos de trabalho, com destaque para a indústria, comércio e serviços. Fecharam vagas a agricultura, construção civil, administração pública, serviços de utilidade pública e indústria extrativa mineral.

A recuperação econômica pode, de fato, não pressionar muito fortemente o mercado de trabalho, uma vez que, durante a desaceleração do início do ano, muitas empresas preferiram reter os funcionários e apenas reduzir as horas trabalhadas por causa das elevadas despesas de demissão e da dificuldade de encontrar mão de obra especializada.

Se a pressão sobre o mercado de trabalho aumenta os custos das empresas, por outro lado, amplia a massa salarial, o que estimula o consumo. A massa salarial atingiu em outubro R$ 42,2 bilhões, com crescimento de 7,9% sobre igual mês de 2011, o que representa um crescimento de R$ 3,1 bilhões. Desse total, foram agregados R$ 2 bilhões em apenas três meses, de agosto a outubro, quando a massa salarial teve uma expansão de 5% acima da inflação (Valor, 23/11), volume de recursos que não deixa de ajudar a impulsionar a economia.