Título: Negócio teve desde o início "Plano B"
Autor: Vieira, Catherine e Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, EU & Investimentos, p. D1

Estratégia de guerra. Assim foi montada a compra do Grupo Ipiranga pela Ultrapar, Petrobras e Braskem. O negócio já nasceu com um "Plano B" para a fase que envolve os minoritários, de acordo com fontes envolvidas na transação. A polêmica sobre a incorporação das ações preferenciais das empresas da Ipiranga já era esperada pelo grupo que estruturou a operação.

Desde o dia do anúncio da aquisição, os investidores com papéis PN da Ipiranga já fizeram barulho e foram à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se queixar do negócio, dada a grande diferença no tratamento ente as ações ON e o modelo escolhido para retirar as companhias da Bovespa.

A preocupação deve-se à dificuldade que o insucesso na incorporação das ações da Ipiranga poderia causar para a etapa em que Petrobras e Braskem terão acesso aos ativos adquiridos pela Ultrapar. Essas empresas, que participam indiretamente do negócio, ficarão com fatias da companhia adquirida, o que será mais simples de concretizar depois da incorporação.

A Ultrapar ficará com a distribuição de combustíveis e lubrificantes no Sul e Sudeste, enquanto a Petrobras absorverá essa atividade nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A estatal do petróleo e a Braskem também terminarão com as operações da Química, Ipiranga Petroquímica e Copesul.

O analista do Banco Brascan Felipe Cunha não descarta a possibilidade de que a incorporação das ações PN da Ipiranga seja barrada pelos minoritários. Para ele, a manutenção da estrutura de quatro companhias abertas - três da Ipiranga, além da própria Ultrapar - seria negativa para a governança e transparência do futuro negócio.

Segundo Sérgio Rosa, presidente da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil e maior acionista preferencialista da Ipiranga, o Departamento Jurídico da fundação está analisando se a operação esbarrou em alguma questão legal em relação aos minoritários. "Se entendemos que ela ofendeu alguma regra, vamos defender nossos interesses."

Rosa diz que a Previ aguarda para até amanhã a divulgação do laudo de avaliação das três empresas do Grupo Ipiranga para concluir a análise do caso. Mas o fundo já está conversando com outros minoritários e esperando que eles também produzam pareceres. "Evidentemente, há diferenças de valores muito grandes entre as ações ordinárias e as preferenciais", reconheceu Rosa. "Seria melhor se houvesse um valor mais homogêneo".