Título: Naouri barra entrada de Abilio
Autor: Mattos , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2012, Emrpesas, p. B5

O Casino, controlador do Grupo Pão de Açúcar, e Abilio Diniz, sócio minoritário, voltaram a se desentender ontem, com troca de carta e mensagem eletrônica com palavras duras entre as partes, num momento em que os sócios tentam costurar um novo acordo de acionistas, após antigos desgastes em uma relação já insustentável. Em reunião de planejamento estratégico do GPA ontem à tarde, que tratou dos planos da empresa para o período de 2013 a 2015, o Casino não permitiu a participação de Abilio. Este ficou na recepção do escritório do Casino, próximo a avenida Champs-Élysées, em Paris, enquanto a reunião transcorria.

Abilio mandou, da recepção, e mail a Naouri: "A proibição de minha participação em referida reunião será considerada ofensa aos meus direitos, com as responsabilizações e demais consequências cabíveis". Apesar do tom, Abilio não quer endurecer sua postura. Essa não é a ideia. Ontem, o sócio francês não chegou dizer, literalmente, que o proibia de participar do encontro, mas afirmou que sua presença era desnecessária. Naouri respondeu a Abilio ontem, numa carta de quatro parágrafos, informou ontem o Valor PRO, serviço de tempo real do Valor.

"A agenda do encontro inclui a discussão das concepções de longo prazo do Casino e nós não somos, de forma alguma, obrigados a compartilhar essas concepções com você em outros lugares que não nas reuniões do conselho de membros do GPA, especialmente tendo em vista sua intenção reiterada e explícita de obter uma emenda nos acordos que nos amarram, com o propósito de concorrer contra o GPA", escreveu Naouri. Disse que a mensagem que Abilio mandou a ele, da recepção, foi preparada "há muito tempo". Para Naouri, Abilio teria preparado o texto antes.

Abilio tem negociado hoje a sua saída do GPA, envolvendo a compra de Via Varejo, empresa do grupo, por meio da troca de ativos. Há rumores de que Abilio pensa em continuar a atuar em varejo alimentar, após o fim da sociedade com o Casino. Por isso Naouri menciona a concorrência na carta.

Fatos ocorridos nas últimas horas antes da reunião, e apurados ontem, explicam melhor porque se chegou a esse ponto. Na quinta-feira passada, ciente da reunião já marcada, Abilio informou Enéas Pestana, presidente do GPA, que iria no encontro, como acontece há seis anos. Pestana reforçou que ele não havia sido convidado. Abilio disse que, como presidente do conselho, não era o caso de um convite, era um direito. No final de semana, Abilio e Pestana trocaram e mails. Pestana chegou a dizer que a ideia não era boa, mas não o demoveu do plano.

Ontem, pela manhã, Abilio encontrou os diretores do GPA no lobby do hotel em Paris, horas antes da reunião. Estavam lá Vitor Fagá, diretor de relações com investidores, Paulo Gualtieri, diretor de controle de gestão e Pestana. Os três saíram do hotel mais cedo. Abilio disse que chegaria 15 minutos antes da reunião. O Casino entendeu sua presença como um ato desnecessário, que causou "tumulto e barulho".

Abilio, por sua vez, interpretou a ação do Casino como "absurda" e "truculenta". Escreveu na mensagem endereçada a Naouri e Pestana (ambos já na reunião): "Estou no térreo do edifício sede do Casino aguardando para participar da reunião de planejamento. Como fiz ao longo de toda a existência do GPA e os deveres e direitos do meu cargo de presidente do conselho determinam, entendo indispensável minha participação".

Casino entende que foi uma reunião para discussões estratégicas, sem força deliberativa, e que o conselho de GPA tratará do tema. Para o sócio, Abilio foi a outras reuniões como membro do conselho de Casino, o que não é mais desde março.

Abilio entende que ia aos encontro como membro de GPA, e não de Casino. Avalia que eventuais alterações no plano estratégico precisam ter sua presença porque ele é a ponte entre o conselho e a diretoria. Mais do que isso: Abilio pode ser destituído do cargo de presidente do conselho se a empresa não apresentar bons resultados. Está no acordo dos sócios de 2005. O raciocínio dele é: "Se eu não for à reuniões, como poderei assegurar resultados?" É um desgate numa hora de mudanças na rede, visto que Casino e Abilio negociam a saída do empresário do Grupo Pão de Açúcar.