Título: Petistas disputam cargo na Câmara
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2012, Política, p. A10

A bancada do PT na Câmara dos Deputados deu a largada ontem para a busca do nome que terá a responsabilidade de mediar os interesses do governo na Casa na segunda metade do governo Dilma Rousseff e de tentar controlar o PMDB na condução dos trabalhos legislativos no mesmo período. Com isso, reavivou a intensa disputa interna que a caracterizou nos últimos anos.

Embora tenha quatro interessados em ser vice-presidente da Câmara no próximo biênio - André Vargas (PR), Décio Lima (SC), Fernando Ferro (PE) e Paulo Teixeira (SP) - na prática o embate se dará entre Vargas e um dos outros três, que prometem apoio recíproco na reta final. Como a disputa é meramente por espaço, a relação com o PMDB acabou entrando no debate e sendo o grande diferencial entre os postulantes.

Vargas, secretário de Comunicação do PT, integra o mesmo grupo do ex-líder dos governos Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, Cândido Vaccarezza (SP); do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP); e do vice-líder do governo José Guimarães (CE). Todos têm por comum uma defesa antiga do PMDB como aliado estratégico do PT e uma visão mais pragmática da condução do governo.

Só que nos últimos anos esse grupo perdeu espaço na bancada. Melhor exemplo disso é que Vaccarezza foi derrotado por Marco Maia em 2010 na indicação interna de quem seria o presidente da Câmara. Tempos depois, perdeu também a liderança do governo para Arlindo Chinaglia (SP). Entretanto, seu grupo agora aposta na retomada dos espaços perdidos. Além da candidatura de Vargas à Mesa Diretora, trabalham com José Mentor (SP) ou Vicente Cândido (SP) na presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e Devanir Ribeiro (SP) na relatoria do Orçamento.

Fundamentam seus anseios apontando o "erro político" que foi Marco Maia na presidência da Casa, devido às constantes tensões provocadas por ele com o Palácio do Planalto e a eventual ameaça que seria alguém do outro grupo na relação com o PMDB. Eram dali, afinal, que saíam as tramas para romper o acordo para eleger Henrique Eduardo Alves (RN) presidente em fevereiro.

"Como dirigente nacional do PT, me acostumei com boa relação com o PMDB. Sempre fui defensor de aliança estratégica com eles e agora defendo uma agenda em sintonia com Henrique Alves e PMDB", disse Vargas, que integra a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT. Seus aliados afirmam que hoje ele tem maioria no voto dos 84 deputados. Apontam como triunfo uma lista de assinaturas que lhe dá margem folgada de vitória. Pregam haver uma nova hegemonia na bancada, motivo por que o "outro lado" lançou três candidatos.

De fato, a lógica que elegeu Marco Maia é a mesma: pulverização de candidaturas egressas de diferentes correntes internas para firmar acordos na reta final e derrotar o adversário em comum. Que antes era Vaccarezza, agora é Vargas. Paulo Teixeira (SP) é da corrente Mensagem ao Partido. Décio Lima (SC) é da CNB. Fernando Ferro (PE) integra o Movimento PT.

Com posições políticas consideradas mais à esquerda do partido, como a antiga defesa de uma aliança preferencial com aliados históricos do PT (PSB, PCdoB, PDT), esse grupo agora promete uma boa relação com o PMDB. "O que está em jogo é a aterrissagem macia do governo Dilma em 2014. Para isso o nome escolhido precisa ter capacidade de negociação com a base e principalmente com o PMDB", disse Paulo Teixeira (SP).

Para ele, o cumprimento do acordo com Henrique Alves hoje é unânime no PT. Defende, contudo, que o próximo vice-presidente da Câmara terá o papel de "ajudar" o pemedebista a construir a pauta da Casa. "O PT tem que dar sua contribuição na construção da pauta." Também alerta para eventuais discussões no plenário sobre bandeiras históricas do PT. "Há temas que são muito "caros" ao PT, como reforma agrária, mundo do trabalho, direitos das minorias."

Os defensores desse campo avaliam ser necessário um equilíbrio nas relações internas da bancada, uma vez que Guimarães, mais próximo de Vaccarezza, será o líder em 2013. Declaram ainda que Vargas tem um perfil muito "explosivo", com declarações polêmicas que podem gerar conflito com o PMDB. Ontem, o líder do PT, Jilmar Tatto (SP), reuniu-se com a bancada e agendou a data da disputa: 11 de dezembro.