Título: Cunha retira procurador e jornalistas de relatório
Autor: Martins , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2012, Política, p. A10

O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), admitiu ontem a possibilidade de retirar os trechos mais polêmicos do seu relatório final como meio de viabilizar sua aprovação, mas até o fechamento desta edição ainda não era certo se ele iria ler o relatório hoje.

Em meio às reuniões que teve com integrantes da CPI ao longo do dia, ele concordou em retirar do relatório o pedido de investigação contra o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o indiciamento de cinco jornalistas. Os dois pontos são os mais criticados tanto pela base e pela oposição, que aponta direcionamento político em seu trabalho.

"Encaminhar ou não a análise da conduta da PGR para o CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público] é irrelevante, não é questão central no nosso relatório. Essas questões só têm sentido - qualquer conversa sobre o acessório, o acidental -, se isso aglutinar força para aprovar o relatório", declarou. "Esse é um elemento que cria obstáculos à aprovação do relatório. O PMDB tem dito que não vota com isso". Cunha afirmou que, assim como o pedido de investigação de Gurgel, o indiciamento do chefe da sucursal da revista "Veja", Policarpo Júnior, e de outros jornalistas é uma questão "acessória" do relatório.

Entretanto, outros problemas apareceram nessas conversas. O PSDB voltou a manifestar contrariedade com o indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo, e ensaiou uma articulação com partidos da base aliada para derrubar o relatório, com a promessa de que, assim, cairia também o pedido de indiciamento do ex-proprietário da construtora Delta Fernando Cavendish.

Petistas apontaram até uma manobra em curso liderada pelos pemedebistas: derrubar o relatório de Cunha de forma que um integrante do PMDB seja nomeado novo relator pelo presidente da CPI, senador Vital do Rego Filho (PB), e produza um relatório "conciliador".O deputado Pitiman (PMDB-DF) cumpriria esse papel. Ele seria mais ameno com Perillo, sem menções a Gurgel, a jornalistas ou a Cavendish. Para deter essa movimentação, petistas lembraram do acordo entre PT e PMDB para a sucessão da presidência da Casa e os pemedebistas recuaram.

Mas o impasse se manteve. No final do dia, Cunha se reuniu com deputados da comissão e saiu de lá sem uma definição se leria ou não o relatório. O vice-presidente da CPI, Paulo Teixeira (SP), defendeu um novo adiamento da leitura. Em seguida, foram ao Senado para avaliar qual era a posição dos senadores sobre a sessão de hoje.