Título: Governo 'cede' Cardozo para blindar Lula
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2012, Política, p. A11

Na defensiva, o governo achou por bem liberar o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) a prestar esclarecimentos ao Congresso sobre a Operação Porto Seguro, a assistir passivamente a pressão da oposição para convocar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a depor em comissão da Câmara.

Um convite também para o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, falar aos deputados poderá ser discutido depois.

O governo não quer que os acusados pela Polícia Federal de fraudar pareceres técnicos e beneficiar empresários sejam convocados.

Os líderes sabem que a oposição não tem força para convocar Lula, mas tem para fazer barulho, muito barulho.

As relações pessoais de Lula com a antiga chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, acusada pela PF de tráfico de influência, deixa o PT constrangido.

O partido espera que o comparecimento de Cardozo esvazie a pressão da oposição e torce para que não surjam fatos novos - como e-mails ou gravações telefônicas entre os dois personagens - capazes de tumultuar a negociação.

Segundo o PT, o apropriado é Cardozo e não Lula comparecer ao Congresso.

A explicação: o ministro da Justiça é o chefe da Polícia Federal e, segundo o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), ele é quem deve explicar a operação, "sua dimensão e suas implicações".

A negociação com a oposição é para que Cardozo seja convidados, mas não convocado. Os acusados de participação na fraude não seriam chamados a dar explicações no Congresso.

A justificativa do Palácio do Planalto é que a presidente Dilma já tomou as providências cabíveis, ao demitir todos os envolvidos na investigação da Polícia Federal, como afirmam os líderes governistas. Chinaglia acha um exagero convocar já foi demitido.

O governo tentar se cercar por todos os lados para evitar a surpresa de uma convocação de Lula ou dos acusados de fraudar pareceres.

Dilma demitiu rapidamente os envolvidos. Agora, os líderes negociam com a oposição com o objetivo de chegar ao fim da legislatura com muitos projetos polêmicos - royalties, setor elétrico, entre outros - para decidir, mas sem Lula na alça de mira da oposição.

A Operação Porto Seguro pegou o governo de surpresa e deixou irritados os dirigentes do PT. O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), superior hierárquico da Polícia Federal, só tomou conhecimento da operação que indiciou a chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff em São Paulo quando os agentes já estavam nas ruas.

Cardozo foi designado ministro com a recomendação expressa de manter a PF sob rédeas curtas e nunca ser apanhado de surpresa pelas operações desencadeadas pelos federais: não para interferir, mas para ser informado e informar a presidente. O grave, segundo petistas, é que a PF agiu à revelia do ministro.

No PT, cita-se como exemplo o caso do ex-diretor da CIA David Petraeus, cuja amante e biógrafa conseguiu acesso a uma série de documentos secretos. "Alguém duvida que (Barack) Obama não tinha conhecimento das investigações divulgadas após as eleições americanas"?, questiona dirigente petista.

No PT, Rosemary não é vista como "corrupta", mas alguém que se deixou deslumbrar pela proximidade do poder. Era autoritária e costumava dar ordens aos seguranças de Lula e assessores.

Esse PT de raiz também faz a autocrítica: o PT se transformou numa formidável máquina eleitoral e caiu na inanição política.

Esse seria o preço que o PT estaria pagando por ter se despolitizado em favor do marketing. O exemplo é que o jornalista João Santana se tornou um virtual capa preta petista, que já reelegeu Dilma, indica que Lula será governador de São Paulo e que Fernando Haddad pode chegar a presidente.