Título: Lobby para adoção do celular de terceira geração ganha força
Autor: Moreira, Talita e Teixeira, Michelly
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2007, Empresas, p. B3

O coro dos defensores da realização imediata do leilão de freqüências para a telefonia móvel de terceira geração (3G) está cada vez mais afinado. Fornecedores de equipamentos para telecomunicações e a TIM, segunda maior operadora de celular do país, elevaram o tom do discurso e saíram em campanha aberta pela adoção da tecnologia.

Um grupo de fabricantes ligados à Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) esteve ontem em Brasília para conversar com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, sobre a possibilidade de aceleração do processo, informaram ao Valor fontes ligadas às empresas.

Em São Paulo, o presidente da TIM, Mario Cesar Pereira de Araujo, fez ontem uma defesa efusiva à implementação da 3G, abandonando o tom cauteloso que vinha dedicando ao assunto. "A Anatel tem que entrar com a terceira geração rapidamente. É a maneira de as operadoras de telefonia móvel chegarem à casa dos clientes com banda larga. Eu quero a competição", afirmou, durante sua apresentação num seminário organizado pela TeleSíntese.

No caso dos fornecedores, a visita ao ministro teve como objetivo assegurar o apoio de Costa à 3G. Num evento recente, o titular da pasta das Comunicações fez um discurso segundo o qual a 3G precisa ser implantada de maneira "rápida" no país. O objetivo dos fornecedores nesse encontro foi justamente assegurar esse apoio.

Há poucos dias, o presidente da NEC e diretor da área de telecomunicações da Abinee, Paulo Castelo Branco, disse ter ficado satisfeito com esse discurso do ministro. De acordo com o executivo, o setor precisa de projetos como a terceira geração e o WiMax (padrão banda larga sem fio) para ter novas fontes de receitas. "Do contrário, não temos por onde crescer", destacou.

Para o presidente da TIM, a 3G - com tráfego de dados em alta velocidade - permitirá às empresas de celular competir com as fixas na oferta de acessos à internet em banda larga. A TIM é uma operadora de celular pura, ou seja, não ligada a um grupo que combine uma infra-estrutura fixa, diferentemente da Oi (antiga Telemar) e da Brasil Telecom (BrT), que têm redes convergentes e podem oferecer outras tecnologias.

Até alguns meses atrás, os executivos da TIM argumentavam que não havia chegado o momento adequado para se pensar em 3G, uma vez que os investimentos pesados feitos pelas empresas na rede atual não estavam maduros. A operadora não estava sozinha. A Claro e principalmente a Oi também defendiam que o ideal seria deixar a 3G mais para a frente e que a adoção da tecnologia interessaria apenas à Vivo, que assim preencheria as lacunas de cobertura (ela não tem licença para atuar em Minas Gerais e parte do Nordeste).

O discurso de Araujo já vinha dando mostras de alteração em suas últimas declarações públicas sobre o tema. Mas nunca havia sido tão veemente como ontem. Agora, a própria Vivo parece ter encontrado no leilão de sobras de freqüências de 1,9 gigahertz (GHz) - que deverá ser realizado concomitantemente ao de 3G - a solução para completar sua cobertura, embora não tenha diminuído seu interesse pela nova geração. A infra-estrutura GSM implantada pela Vivo já está adaptada de forma a permitir uma fácil atualização tecnológica, quando ela vier.

A questão é que a TIM precisa de mais espectro para continuar crescendo no ritmo atual. Nos últimos anos, cresceu fortemente a base de assinantes da operadora - que somava 25,7 milhões de clientes no fim de janeiro, ante 20,2 milhões no encerramento de 2005.

As demais empresas do setor ainda se mantêm à distância nessa discussão. Todas entrarão na disputa pelas licenças quando ela for aberta - afinal, as freqüências de espectro são um bem escasso e cada vez mais valioso. Porém, o ritmo é diferente.

Para o diretor de assuntos regulatórios da Claro, Marcelo Pereira, está começando a hora de se discutir a 3G, mas esse debate não pode ser desvinculado de uma definição sobre o acesso a conteúdos. "Não adianta ter uma rede potente se não houver um conteúdo que o cliente tenha interesse em acessar", afirmou. A Claro é controlada pela mexicana América Móvil, que faz parte do mesmo grupo de acionistas da Telmex (controladora da Embratel e acionista da Net).

Na Oi, a avaliação continua sendo a de que não existe um mercado grande o suficiente que justifique urgência no leilão de 3G. Na BrT, a estratégia também é de cautela. A operadora, que tem espaço ocioso em sua rede, estuda utilizar a infra-estrutura atual para entrar na 3G, o que reduziria custos.

O superintendente de serviços privados da Anatel, Jarbas Valente, afirmou que o edital para as licenças de 3G deve ser posto em consulta pública até maio. O objetivo do órgão regulados é realizar o leilão até o fim do ano.