Título: Petrobras admite que compra da Ipiranga protege mercado
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2007, Empresas, p. B9

A presidente da BR Distribuidora, Maria das Graças Foster, admitiu ontem preocupação com a venda de combustíveis abaixo do preço de custo na fronteira do Brasil com a Venezuela, razão que levou a Petrobras a ficar com a rede de postos do grupo Ipiranga nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

No entanto, tanto Maria das Graças quanto o diretor da área de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, tentaram minimizar as informações de que a escolha dessas regiões foi um movimento de "defesa" da estatal contra a venezuelana PDVSA, apesar de não se mostrarem muito convincentes.

Ambos discordam também de algumas avaliações no mercado de que essas áreas seriam "menos nobres" do que as que ficaram com o grupo Ultra, que ficará com a rede no Sul e Sudeste. "Aquilo que é nobre ou não depende da estratégia do que está envolvido. Essa transação toda é extremamente complexa para ser avaliada pontualmente. Temos uma preocupação muito grande com o Norte e o Nordeste do Brasil, mas não são mercados menos nobres", disse Maria das Graças.

"A preocupação maior para os nossos resultados é a pulverização das distribuidoras muito menores (nessas regiões), que se prevalecem de oportunidades para gerar receitas, ainda que não seja de forma permanente. A preocupação é realmente entrar nos mercados e se manter neles de forma que se tenha bandeiras fortes como a do grupo Ultra, que vai utilizar a marca Ipiranga".

Quanto à PDVSA, a executiva frisou que a decisão da Petrobras não foi pautada "especificamente e unicamente" por causa da venezuelana. E explicou: "Qualquer entrada de produto importado de qualquer origem é algo que nos preocupa. E nós zelamos por esse mercado, protegendo e buscando os melhores resultados para a nossa empresa".

Paulo Roberto Costa foi além. Segundo o executivo, a compra de um quarto do mercado que era detido pela Ipiranga não elimina a entrada de nenhuma empresa internacional na distribuição no Brasil. "O mercado está liberado. Se [a empresa] conseguir as autorizações necessárias, pode comprar outra rede, pode montar uma rede ou vender diretamente para as redes já existentes. Não estamos olhando fantasmas da PDVSA. Se alguma empresa internacional quiser colocar produto aqui, não depende da Petrobras", disse o diretor, que também considerou "normal" a redução de preços do diesel no Maranhão às vésperas da chegada de um navio com diesel importado mais barato por um pool de distribuidoras. Ele disse apenas que qualquer um poderia comprar o combustível da Petrobras. Maria das Graças foi mais direta, ao explicar que as empresas vivem "uma eterna disputa de preço". Outra aquisição que pode ser anunciada pela Petrobras é de uma refinaria em Okinawa, no Japão. Apesar da forma discreta com que falou sobre o assunto, Costa disse que "alguns detalhes ainda não foram acordados" e que as negociações "estão em andamento".

A Petrobras e a italiana ENI Spa vão assinar na próxima semana, durante visita do presidente da Itália, Romano Prodi, acordos comerciais de transferência de tecnologia de processamento de óleo pesado e produção de biocombustíveis. As duas empresas querem produzir biodiesel no Brasil e na África, especificamente Moçambique e Angola, para posterior exportação para o mercado italiano.

"A Petrobras tem interesse que o etanol seja produzido no mundo todo e para que se torne uma commodity é importante que outros países de clima tropical venham a aderir a esse tipo de programa", explicou o diretor.