Título: Construtoras do Sudeste têm de adaptar projetos para cativar nordestino
Autor: Mandl, Carolina e Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2007, Empresas, p. B10

"Nada de pintura na fachada do prédio. Nem de carpete no chão. Muito menos sol batendo nos quartos à tarde" é o que diz um recifense quando está buscando um apartamento. Mas, se o imóvel em questão ficasse em Salvador, um prédio pintado não seria nenhum inconveniente.

Quando se trata de casa para morar, as exigências do comprador vão além de uma boa distribuição dos ambientes, da localização e das condições de pagamento. São costumes que vão determinar as características da moradia de determinado local.

Ao chegar ao Nordeste, as incorporadoras paulistas têm que se adaptar ao "tempero" local, o que reforça a importância das parcerias na região. "Não basta querer construir o mesmo apartamento que fazemos em São Paulo em Salvador", afirma Paulo Felice, diretor de novos negócios para Nordeste e Norte da Cyrela.

Nos apartamentos do Recife, as dependências de empregada são fundamentais, não importando muito a metragem do imóvel. "É algo essencial nos imóveis da cidade. Acho que é herança que ainda se carrega dos tempos de casa grande e senzala", afirma Durval Bacelar, diretor comercial da incorporadora pernambucana Gabriel Bacelar. Numa cidade em que os bairros têm nomes de antigos engenhos, não é de se estranhar tal influência.

O forte calor das cidades nordestinas também acaba determinando onde o prédio ficará no terreno. Os quartos não devem pegar o sol da tarde, nem que para isso o prédio acabe ficando de costas ou de lado para a rua. Para os paulistanos, isso seria um detalhe de pouca importância.

Em Salvador, a posição do apartamento é determinante até para o valor do aluguel. "N." e "P." costumam acompanhar os anúncios classificados de apartamentos na orla para informar se o imóvel é "nascente" (com aberturas viradas para o lado em que a luz do sol bate diretamente no período da manhã) ou "poente". Os "nascentes", não raramente, são mais caros - os "poentes" ficam mais quentes no fim do dia.

Questões financeiras são outro item que moldam os apartamentos. O recifense não gosta de prédios com fachadas pintadas. Prefere os revestimentos cerâmicos ou em pedras, que não precisam ser refeitos, pesando no condomínio. Por outro lado, um imponente casarão antigo preservado que sirva de salão de festas ou de jogos dentro do terreno é sempre bem-vindo na cidade, mesmo que torne o IPTU mais caro.

Nem tudo ficará igual no cenário nordestino com a chegada das incorporadoras do Sudeste. Muitas delas, como a Rossi e a Cyrela, já planejam acrescentar à paisagem os megacondomínios, típicos de São Paulo. Num único terreno - geralmente em bairros em desenvolvimento - são colocadas diversas torres que compartilham uma grande área de lazer.